Artigo: São José dos Campos a caminho de Detroit

Tudo começou com a notícia de uma “parceria” da Embraer com a Boeing. Parcerias pode ser um bom caminho para crescer e ampliar horizontes. Aliás, as duas empresas já mantinham algumas parcerias positivas como o esforço para o desenvolvimento do biocombustível de aviação.

Mas desde o início o anúncio gerou bastante desconfiança e insegurança. Afinal de contas, os tempos são de “entreguismo” no Brasil e de “nacionalismo” nos Estados Unidos. Aqui, o governo Temer privatiza empresas e entrega o pré-sal. Lá Trump fala em “emprego para americanos” e endurece o jogo puxando a brasa para a sardinha ianque.

Assim foi natural quando soubemos que o governo Temer havia iniciado movimentações junto ao TCU e ao Congresso Nacional para encontrar um “mecanismo” que inutilizasse as famosas golden share – ações especiais que dão ao Governo Federal poder de veto para transações que gerem a desnacionalização de algumas companhias estatais que foram privatizadas como a Vale do Rio Doce, o Instituto de Resseguros do Brasil e a Embraer ainda em meados de 2017.

E entre o Natal e o ano novo de 2017 veio a bomba: Boeing torna público interesse em comprar a Embraer!

Por mais que a imprensa, governo e empresários falem em associação, o fato é que trata-se de uma compra pura e simples e a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. vai se transformar em The Boeing Company of Brazil, com o nome mais conveniente para seus novos proprietários.

Toda essa movimentação está alinhada com a política do presidente norte-americano Donald Trump de levar os empregos de volta aos Estados Unidos, buscando reverter o profundo quadro de desemprego industrial, chamada de “América primeiro”. Principal beneficiado pelo êxodo do emprego industrial que gerou miséria e destruição em lugares como Detroit dentre outras localidades do Estado de Michigam, Trump adotou uma política agressiva para fazer com que as empresas voltassem a produzir no país.

É compreensível que Trump queira levar os empregos de volta aos Estados Unidos. O que não é compreensível é que Michel Temer, MDB, PSDB e aliados permitam que isso seja feito gerando desemprego no Brasil e particularmente, em São José dos Campos e nas demais cidades brasileiras onde as unidades da Embraer estão instaladas.

Aliás, o governo norte-americano tem trabalhado para levar não só a Embraer para as asas da Boeing, mas também toda a sua cadeia produtiva.

Se não conseguirmos reverter esse quadro, São José dos Campos poderá viver seus dias de Detroit, de capital do automóvel com quase dois milhões de habitantes a capital do desemprego do país do norte!

Por Amelia Naomi (PT) e Wagner Balieiro (PT), vereadores da cidade de São José dos Campos; e Carlinhos Almeida, ex-prefeito da cidade de São José dos Campos