Batalha digital | Elas Por Elas capacita cerca de 130 comunicadoras de todo país
Realizado na Escola Florestan Fernandes, o Curso Nacional de Comunicação teve duração de três dias e preparou mulheres para fazer a disputa da narrativa nas eleições 2020
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Nesse final de semana, cerca de 130 mulheres de todos os estados brasileiros participaram do I Curso Nacional de Comunicação, do projeto Elas Por Elas. Realizado entre os dias 28 de fevereiro e 1º de março, o curso foi composto de quatro oficinas nas áreas de Fotografia e Vídeo; Linguagem e Redação; Redes Sociais; e Design Gráfico. Essa é uma iniciativa da Secretaria Nacional de Mulheres do PT que busca fortalecer a participação das mulheres na política.
“É a primeira vez que o PT forma um coletivo de comunicadoras populares articuladas em todos os estados do país. Isso é revolucionário” afirmou Anne Karolyne, secretária nacional de mulheres do PT.
Essa é a primeira turma de mulheres que receberam capacitação para se tornarem comunicadoras populares em seus estados com foco na igualdade de gênero. A realização do I Curso Nacional de Comunicação é o primeiro passo na construção de uma política estratégica de comunicação feminista e a Secretaria Nacional de Mulheres do PT atua para enraizar esse conhecimento em diversos níveis:
“Vamos trabalhar em redes colaborativas. Não conseguimos chegar em todos os municípios que vão fazer a disputa eleitoral de uma vez, mas, as mulheres aqui presentes serão multiplicadoras do conhecimento em seus estados”, explicou Anne.
As mesas de debates foram realizadas na noite do dia 28 e manhã do dia 29 de fevereiro. As oficinas foram realizadas em 4 turmas de forma rotativa ao longo da tarde e noite do dia 29 e a parte da manhã do dia 1º.
Disputar a narrativa e combater o machismo e o racismo
Entender as transformações do campo ideológico, diante do contexto de bombardeamento de informações e das nova lógica de redes digitais, foi o primeiro debate realizado na sexta-feira, 28. A mesa foi composta pela participação de Bia Abramo, jornalista, e Dríade Aguiar, do Mídia Ninja.
Bia abriu o debate e pontuou o contexto de derrotas consecutivas que viemos sofrendo ao longo dos últimos anos. Um processo que já estava em curso, mas entrou de forma mais intensa a partir de 2013 e indicou o desafio que está colocado para as mulheres:
“Como a gente recoloca a nossa agenda feminista, de esquerda, progressista em um ambiente politicamente hostil?”, pontuou Bia.
Os caminhos apontados pela jornalista passaram pela urgência de ressignificar as redes sociais e usá-las como um braço da ação mais concreta. “A atividade política está na rua, no contato, na aproximação”, reforçou Abramo.
Para avançar nesse debate dos caminhos possíveis, Dríade Aguiar compartilhou diversas experiências exitosas do Mídia Ninja e apresentou duas iniciativas imprescindíveis para expandir o diálogo e “estourar a bolha”: a primeira é transformar a linguagem para que ela se torne menos “militantês” e mais acessível.
“Estamos dispostas mesmo a criar uma narrativa que dialoga efetivamente com outras pessoas e sair da nossa zona de conforto?”, provocou Dríade.
A segunda iniciativa, completa Dríade, é politizar o cotidiano. Segundo a comunicadora, não assistir novelas, não falar de BBB ou não tratar de assuntos apenas porque são “senso comum” é a primeira porta fechada para alcançar mais pessoas.
“Se a gente não politizar as narrativas do cotidiano comum, elas serão politizadas pelo outro campo”, alertou comunicadora do Mídia Ninja.
Comunicar para fortalecer a luta das mulheres
“Existem grupos articulados para atacar mulheres que falam de feminismo desde os tempos de blog”, abriu o debate Débora Baldin, comunicadora e militante lésbica na parte da manhã do segundo dia de Curso.
Como disputar a narrativa com redes sociais que possuem alto nível de financiamento internacional, os desafios para driblar e usar estrategicamente os algoritmos, a importância de gênero, raça e autoria na criação das narrativas, uso de linguagens mais simples e fáceis de entender e, principalmente, a dignidade da ética política para fazer a disputa foram os temas abordados pelas palestrantes.
Compuseram o time feminino Charô Nunes, fundadora do Blogueiras Negras; Débora Baldin, comunicadora e militante lésbica; e Clara Averbuck, escritora e editora da revista Fórum. Participaram da mesa o secretário nacional de comunicação, Jilmar Tatto, e o coordenador da Agência PT, Otávio Antunes.
Como parte das estratégias para fazer enfrentamento, Charô Nunes destacou a importância do uso de blogs, páginas ou sites próprios para criar e hospedar conteúdos.
“Em tempos que nosso conteúdo pode ser excluído arbitrariamente pelo facebook, twitter, youtube ou instagram, a qualquer tempo, sem aviso prévio, ter um canal com minimamente mais autonomia é estratégico, ainda que soe ultrapassado”, reforçou Charô.
Débora Baldin e Clara Averbuck compartilharam experiências de ataques machistas nas redes, como lidar com essa situação, acionar judicialmente e manter a saúde mental. Otávio Antunes falou sobre a importância de manter o projeto político em pauta na sociedade fora do período eleitoral e de como esse período entre-eleições pode influenciar a tônica da narrativa na campanha eleitoral seguinte. Por fim, Jilmar Tatto saudou o evento de Comunicação e reforçou o peso do Partido dos Trabalhadores para colocar a pauta da classe trabalhadora na agenda nacional.
Próximos passos
“Nós vamos multiplicar o conhecimento nos estados”, apontou a secretária nacional de mulheres do PT, Anne Karolyne. Estratégias para enraizar o conhecimento em todo o país, reproduzir o conteúdo em diversas plataformas, a criação de redes internas e externas para compartilhamento de conteúdo e técnicas para cobertura de atos estão entre as capacidades desenvolvidas nessa primeira turma de comunicadoras populares.
“O projeto Elas Por Elas trabalha de forma coletiva e solidária, criando redes de conhecimentos e habilidades para que as candidaturas femininas tenham estrutura e condições para fazer a disputa no nível que merecem”, completou Anne.
Solidariedade à Gleisi e sua filha
Durante o curso, as mulheres do PT emitiram uma nota de solidariedade à companheira Gleisi e sua filha que foram agredidas no Rio de Janeiro. Na ocasião, as participantes também gravaram um vídeo.