Contribuição de Gilberto Carvalho, Presidente do Conselho Nacional do SESI, para o Seminário de Organização.
Veja abaixo a contribuição de Gilberto Carvalho, Presidente do Conselho Nacional do SESI, que falou no Painel – O tripé: Partido, Governo e os Movimentos Sociais, do Seminário Nacional de Organização.
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O Seminário Nacional de Organização do PT foi realizado em São Paulo, dos dias 27 e 28 de agosto, e contou com a presença de 164 participantes que militam em 26 estados ocupando cargos de direção nacional, estadual e municipal.
Foram discutidas propostas para melhorar o funcionamento e a organização do Partido, a síntese das propostas apresentadas pode ser lida aqui.
Veja aqui a inserção de Gilberto Carvalho, Presidente do Conselho Nacional do SESI, que falou no Painel – O tripé: Partido, Governo e os Movimentos Sociais, do Seminário Nacional de Organização.
Veja abaixo a contribuição de Gilberto Carvalho.
A dialética necessária
– O nascimento do PT conforma um processo inédito na história política do Brasil de profunda e intrínseca ligação entre a militância social e a militância política. Na contra mão da figura do “político profissional”, esta nova cultura que se expressa na fundação de um Partido dos Trabalhadores sustenta a figura do militante social que amplia sua esfera de atuação com a participação na política partidária.
– A clássica expressão “um pé dentro, um pé fora” passou a significar que nossa atuação se dá na esfera da luta social (não necessariamente enquadrada nos limites da institucionalidade, uma vez que a luta social se dá na busca da conquista de novos direitos) e ao mesmo tempo na esfera da política institucional, fora ou dentro dos aparelhos de Estado.
– Esta dinâmica revelou-se extremamente fecunda, porque permitiu ao Partido ser ao mesmo tempo expressão política da luta social, da luta por direitos e, em outra frente, atuar por dentro das instâncias do Estado, com uma atuação incisiva na busca de sua mudança (inversão de prioridades, democratização, participação social).
– O 5.o Encontro Nacional (Brasília, 87) expressou de forma bastante clara esta dialética necessária que se realimenta do próprio desenvolvimento das lutas em todos estes campos. O 5.o Encontro complementa esta definição com a formulação da chamada “estratégia de maiorias” – contra uma tendência da formação de um partido de vanguarda, de quadros, o 5.o Encontro declara a natureza do PT como um partido de massas – com quadros naturalmente – e com a missão de construir a hegemonia de um projeto político/social capaz de atrair e engajar as grandes massas.
– Esta dinâmica só pode ocorrer com uma atuação do Partido não apenas colada à luta e aos movimentos sociais, mas na medida em que sua militância, ela mesma, expresse em sua atuação pessoal esta dupla dimensão. Vale dizer: a realização do projeto original do PT depende da continuidade desta característica de sua militância, profundamente comprometida com as lutas sociais e ralizando no plano pessoal e institucional esta dialética fecunda.
-Quando o PT começa a ocupar espaços no aparelho institucional, se estabelece uma nova dinâmica, ainda mais rica: o pé fora e pé dentro passa a valer também no sentido da dedicação à atuação nas câmaras municipais, prefeituras, parlamentos e executivos em todos os níveis, e ao mesmo tempo com a continuidade na atuação dentro dos movimentos e com os movimentos sociais.
-Surge outra realidade desafiadora: o poder de atração e o consumo de energia exigidos pela presença nos aparelhos tendem a drenar todos os recursos, quadros, pautas e esforços do Partido.
– Somem-se a isso os fatores da cooptação e da sedução que a tradicional cultura política começa a exercer sobre os que exercem funções nos diversos aparelhos e por consequência sobre todo o Partido.
– Cresce muito neste contexto a figura do “profissional da política”, gente que não passou pelo histórico de lutas sociais e que tem sua militância concentrada no serviço aos mandatos legislativos ou executivos.
– O próprio Partido com seu crescimento institucional passa a exigir um corpo dirigente e burocrático que ganha relevo crescente na vida interna da organização. Cresce uma cultura própria do aparelho, com suas disputas pela ocupação de espaços.
– É neste contexto que se manifesta uma crescente tensão, ante o rompimento da quase conaturalidade da convivência Partido/ Movimentos Sociais, agravada pelo fato de o PT passar a ser Governo, alterando o lugar a partir do qual se estabelece o diálogo: neste caso a tensão é natural, ante as reivindicações dos Movimentos Sociais e os limites de um Governo para atende-las.
– O enfrentamento deste debate neste momento crítico vivido pelo nosso Governo e pelo nosso Partido é da maior importância: como reatualizar a fecunda relação dialética que nos deu vida nos primórdios, com a criatividade capaz de enfrentar um contexto completamente diverso daquele inicial, muito mais complexo e desafiador. Mais: com a certeza de que a retomada desta dinâmica é essencial, vital, para que possamos continuar a desenvolver um processo que aprofunde e radicalize as mudanças que nesta primeira fase nós conseguimos implementar no País, com apoio da maioria do povo brasileiro.
Gilberto Carvalho.
A dialética necessária
– O nascimento do PT conforma um processo inédito na história política do Brasil de profunda e intrínseca ligação entre a militância social e a militância política. Na contra mão da figura do “político profissional”, esta nova cultura que se expressa na fundação de um Partido dos Trabalhadores sustenta a figura do militante social que amplia sua esfera de atuação com a participação na política partidária.
– A clássica expressão “um pé dentro, um pé fora” passou a significar que nossa atuação se dá na esfera da luta social (não necessariamente enquadrada nos limites da institucionalidade, uma vez que a luta social se dá na busca da conquista de novos direitos) e ao mesmo tempo na esfera da política institucional, fora ou dentro dos aparelhos de Estado.
– Esta dinâmica revelou-se extremamente fecunda, porque permitiu ao Partido ser ao mesmo tempo expressão política da luta social, da luta por direitos e, em outra frente, atuar por dentro das instâncias do Estado, com uma atuação incisiva na busca de sua mudança (inversão de prioridades, democratização, participação social).
– O 5.o Encontro Nacional (Brasília, 87) expressou de forma bastante clara esta dialética necessária que se realimenta do próprio desenvolvimento das lutas em todos estes campos. O 5.o Encontro complementa esta definição com a formulação da chamada “estratégia de maiorias” – contra uma tendência da formação de um partido de vanguarda, de quadros, o 5.o Encontro declara a natureza do PT como um partido de massas – com quadros naturalmente – e com a missão de construir a hegemonia de um projeto político/social capaz de atrair e engajar as grandes massas.
– Esta dinâmica só pode ocorrer com uma atuação do Partido não apenas colada à luta e aos movimentos sociais, mas na medida em que sua militância, ela mesma, expresse em sua atuação pessoal esta dupla dimensão. Vale dizer: a realização do projeto original do PT depende da continuidade desta característica de sua militância, profundamente comprometida com as lutas sociais e ralizando no plano pessoal e institucional esta dialética fecunda.
-Quando o PT começa a ocupar espaços no aparelho institucional, se estabelece uma nova dinâmica, ainda mais rica: o pé fora e pé dentro passa a valer também no sentido da dedicação à atuação nas câmaras municipais, prefeituras, parlamentos e executivos em todos os níveis, e ao mesmo tempo com a continuidade na atuação dentro dos movimentos e com os movimentos sociais.
-Surge outra realidade desafiadora: o poder de atração e o consumo de energia exigidos pela presença nos aparelhos tendem a drenar todos os recursos, quadros, pautas e esforços do Partido.
– Somem-se a isso os fatores da cooptação e da sedução que a tradicional cultura política começa a exercer sobre os que exercem funções nos diversos aparelhos e por consequência sobre todo o Partido.
– Cresce muito neste contexto a figura do “profissional da política”, gente que não passou pelo histórico de lutas sociais e que tem sua militância concentrada no serviço aos mandatos legislativos ou executivos.
– O próprio Partido com seu crescimento institucional passa a exigir um corpo dirigente e burocrático que ganha relevo crescente na vida interna da organização. Cresce uma cultura própria do aparelho, com suas disputas pela ocupação de espaços.
– É neste contexto que se manifesta uma crescente tensão, ante o rompimento da quase conaturalidade da convivência Partido/ Movimentos Sociais, agravada pelo fato de o PT passar a ser Governo, alterando o lugar a partir do qual se estabelece o diálogo: neste caso a tensão é natural, ante as reivindicações dos Movimentos Sociais e os limites de um Governo para atende-las.
– O enfrentamento deste debate neste momento crítico vivido pelo nosso Governo e pelo nosso Partido é da maior importância: como reatualizar a fecunda relação dialética que nos deu vida nos primórdios, com a criatividade capaz de enfrentar um contexto completamente diverso daquele inicial, muito mais complexo e desafiador. Mais: com a certeza de que a retomada desta dinâmica é essencial, vital, para que possamos continuar a desenvolver um processo que aprofunde e radicalize as mudanças que nesta primeira fase nós conseguimos implementar no País, com apoio da maioria do povo brasileiro.
Gilberto Carvalho.