Marta Suplicy: O “soft power” da Copa
Todo país que recebe uma Copa tem que encarar três desafios: ter ótimos estádios, construir um legado material em infraestrutura e apresentar a identidade cultural de seu povo
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Todo país que recebe uma Copa tem que encarar três desafios: ter ótimos estádios, construir um legado material em infraestrutura e apresentar a identidade cultural de seu povo. Se conseguir levar a taça, é a consagração.
Enfrentando as mais diversas dificuldades, os estádios no Brasil já estão quase todos prontos.
Eu só fui a um jogo da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Fiquei impressionada não só com a beleza arquitetônica, mas com o novo projeto de arquibancadas: você se sente dentro do gramado, mesmo em lugar distante. Sem falar em escadas rolantes e telões em corredores.
Visitei a arena do Corinthians, o Itaquerão. É fabuloso. A maior novidade será um telão gigante do lado de fora abarcando toda uma lateral do estádio—que não é redondo. Moderníssimo, gramado plantado, mármore preto e branco. A região da zona leste onde ele se encontra está um canteiro de obras.
O impacto na economia local vai ser grande e o legado de infraestrutura para a cidade-sede vai depender do planejamento e recursos de cada prefeito.
Acredito que a exposição de um país durante os dias de uma Copa seja uma oportunidade única para o incremento da imagem que queremos oferecer e para a melhoria do nosso “soft power”.
São bilhões de telespectadores acompanhando os jogos, além de programas televisivos antes da Copa que se abrem e exibem o país que a sedia. Em termos de publicidade, seria algo que não teríamos condição ou prioridade para investir. Ter valido a pena o investimento, ou não, vai depender da nossa capacidade de mostrar um Brasil eficiente e culturalmente diverso.
Com maior ou menor uso, os estádios vão permanecer. Alguns serão usados também para outras atividades. No país do futebol, é muito bom saber que, depois de 63 anos, o Maracanã ficou um estádio moderno.
Poderíamos ter construído hospitais ou mais metrô? Certamente. Mas, não se constrói um país de forma linear, e uma Copa bem conduzida traz ganhos extraordinários, muito maiores do que seu custo.
O Ministério da Cultura fez um trabalho em edital que engloba praticamente todas as linguagens artísticas, com fomentos visando os pequenos e médios produtores.
Esperamos acolher todas as regiões do país e propiciar uma forte circulação das linguagens culturais tão diversas e desconhecidas de uma região para outra.
Além de apresentar para o exterior um país rico em sua diversidade, essa é uma oportunidade para nós nos conhecermos.
Para o edital de gastronomia, artesanato, design, moda e arquitetura, serão escolhidos um projeto por área para mapear essas expressões nas cinco regiões do Brasil. As informações serão disponibilizadas nas cidades-sede, oferecidas à Infraero para os aeroportos e utilizadas em outros projetos do ministério.
A Cultura deixará, além da contribuição para uma identidade cultural mais diversificada do Brasil, um legado material.
Foram escolhidos pelas cidades equipamentos culturais ou museus para receber investimento. Como a Fortaleza dos Reis Magos, em Natal, o Museu da República e seu jardim histórico, no Rio, o Pátio de São Pedro, em Recife, entre outros.
A Petrobras entra com expressivos recursos para um legado em museus não contemplados e que estão num raio de visitação dos turistas da Copa, tal como o Museu Imperial de Petrópolis. Levará também acessibilidade (piso tátil, áudio e videoguias) e materiais em mais de um idioma.
Nossas ações estão em curso. Agora é esperar que nossos craques brilhem e propiciem muita alegria ao povo brasileiro.
Publicado originalmente em: www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/08/1329996-marta-suplicy-o-soft-power-da-copa.shtml
MARTA SUPLICY é ministra da Cultura. Senadora licenciada (2011-2018), foi prefeita de São Paulo (2001-2004) e ministra do Turismo (2007-2008).