Bolsonaro dá força política ao DEM, partido herdeiro da ditadura
Presidente eleito, cujo apreço pelos anos de chumbo é notório, cede três ministérios à legenda. Todos os nomes têm histórico de problemas com a justiça
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O apreço de Jair Bolsonaro pelos ideais conservadores e autoritários da Ditadura Militar não se limita ao que diz e propaga sem o menor pudor desde que entrou na vida política. Para além do discurso, as escolhas do presidente eleito para compor seu ministério a partir de janeiro de 2019 trouxe à tona o Democratas (DEM), legenda cujo nascimento remonta os anos de chumbo e que já conta com três ministros confirmados, enquanto o PSL de Bolsonaro conta com apenas um.
A ressurreição do partido como força política é mais um estelionato eleitoral promovido pelo futuro presidente, eleito sob a bandeira do “combate à corrupção” e do fim do “toma lá da cá” – expressão usada pelo capitão reformado para designar a troca de favores entre legendas. Os três nomes do DEM escolhidos até agora para compor o time de Bolsonaro carregam em suas biografias um passado nada coerente com o que prega o novo mandatário da nação.
Tereza Cristina, deputada ruralista e presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, assumirá o Ministério da Agricultura e a passagem mais marcante do seu currículo é o fato de ter concedido incentivos fiscais ao grupo JBS na mesma época em que arrendava um propriedade em MS aos irmãos Joesley e Wesley Batista para a criação de bois. Também marcou a trajetória da parlamentar seu voto a favor da MP da Grilagem e para acabar com o aviso nos alimentos transgênicos.
Na Casa Civil, o cenário é ainda mais grave com a nomeação de Onyx Lorenzoni, deputado relator do pacote de medidas de combate à corrupção e que confessou ter recebido R$ 100 mil em caixa 2 da empresa JBS, envolvida na Lava Jato, para pagar dívidas da campanha eleitoral de 2014.
Por fim, Luiz Henrique Mandetta, o futuro ministro da Saúde de Bolsonaro que é investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e Caixa 2 na implementação de um sistema de informatização da Secretaria de Saúde de Campo Grande (MS), onde foi secretário.
Além de estarem longe da lisura e do bom exemplo como parlamentares, os três “soldados” do DEM confirmam as suspeitas de que Bolsonaro tem contrariado a si mesmo e se aproximado como nunca da velha política. O ressurgimento do partido como protagonista dentro do governo federal desperta enorme preocupação, já que a legenda sempre esteve (ou próximo dele) no topo do ranking da corrupção no país.
Em 2012, por exemplo, segundo levantamento divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o DEM aparecia em primeiro lugar entre os partidos com mais políticos cassados com 69 parlamentares com mandatos anulados.
Feliz Ano Velho
Criado oficialmente em 1985 com a sigla de Partido da Frente Liberal (PFL) e rebatizado com o nome atual em 2007, o partido tem sua origem ligada ao início da Ditadura Militar. O DEM é fruto de um desmembramento do extinto Partido Democrático Social (PDS) – antiga Aliança Renovadora Nacional (ARENA), fundado em 1965 com a finalidade de dar sustentação política ao projeto autoritário e ultraconservador que viria a dominar o país pelos 21 anos seguintes.
O irônico é que em seu estatuto a ARENA se colocava contra “a ameaça do caos econômico e da corrupção administrativa”. Na prática, por ser o partido da situação, compactuou com todas as decisões tomadas pelos militares, legitimando medidas que contrariavam os princípios da democracia.
Da Redação da Agência PT de Notícias