Bolsonaro empurra famílias brasileiras para endividamento recorde

Percentual de famílias devedoras subiu de 71,4% em julho para 72,9% em agosto – maior percentual desde 2010, quando a CNC iniciou sua pesquisa sobre dívidas do consumidor

A falta de rumo do desgoverno Bolsonaro e o consequente descontrole sobre indicadores econômicos como inflação, emprego e renda do trabalho faz com que as famílias brasileiras fiquem “penduradas” em dívidas. O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso bate recorde pelo terceiro mês consecutivo e, agora, 72,9% delas estão endividadas, contra 71,4% em julho.

Esse é o maior percentual desde 2010, quando a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) iniciou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Segundo o estudo, divulgado na quarta-feira (25), 11,89 milhões de famílias chegaram a agosto com algum tipo de dívida.

A proporção de famílias com dívidas está 5,5 pontos percentuais acima de agosto do ano passado e superou em 7,8 pontos o nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Também está aumentando o percentual de famílias com mais de 50% da renda mensal comprometida com dívidas. Essa proporção chegou a 21,1% do total de famílias endividadas em agosto.

“A renda dos brasileiros está afetada e o mercado de trabalho está fragilizado por conta da pandemia de Covid-19, tanto as atividades formais como as informais”, destacou a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, à CNN. “Além disso, temos os motivos econômicos externos, como a diminuição do valor pago pelo auxílio emergencial e o aumento da inflação no país. Tudo isso junto faz com que as pessoas cheguem ao fim do mês sem dinheiro.”

A proporção de dívidas no cartão de crédito também renovou o recorde histórico, alcançando 83,6% das famílias endividadas. Na sequência, aparecem carnês (18,2%), financiamento de veículos (13,1%) ou de casa (10,3%), crédito pessoal (9,5%), crédito consignado (6,8%) e cheque especial (4,8%).

“Dentre as famílias mais pobres, o orçamento apertado tem influenciado o maior uso do cartão de crédito também para aquisição de itens de primeira necessidade, como alimentos e produtos de higiene, por exemplo. Já as famílias de renda mais alta estão utilizando mais o cartão de crédito no consumo de serviços”, destacou a pesquisa.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, afirma que muitos brasileiros têm recorrido à informalidade e obtido crédito para investir em pequenas atividades que possam recompor a renda e garantir o sustento. O mau desempenho da economia, sob a omissão do ministro-banqueiro Paulo Guedes, no entanto, trava o retorno do investimento e o resgate das dívidas.

A CNC estima que o crédito mais acessível, com taxas de juros relativamente baixas, contribuiu para um maior endividamento no primeiro semestre de 2021. No período, a concessão média de crédito aos consumidores atingiu 19,2%, a maior desde o início de 2013.

Mas a alta da inflação e o consequente aumento da taxa básica de juros (Selic) já têm sido precificados pelo mercado, o que resulta em juros mais altos. “Mesmo com a inadimplência controlada até o momento, a alta dos juros amplia o risco para o acirramento desses indicadores à frente, num cenário de predomínio de restrições nos orçamentos das famílias, especialmente as de menor renda”, avalia a entidade.

“O crédito mais caro e as despesas elevadas restringem a capacidade de consumo das famílias”, disse Izis Ferreira. “Enquanto faltarem sinais mais robustos de recuperação no mercado de trabalho formal e na renda, com alívio da inflação, as necessidades de recomposição dos rendimentos pelos mais vulneráveis seguirão elevadas. Com isso, o endividamento no país pode aumentar ainda mais”, conclui a especialista.

Da Redação

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