Cada vez mais encalacrado com a lei, Cid fica calado na CPI da Câmara do DF

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fica em silêncio diante da revelação de que transferiu R$ 367.374 para conta bancária nos EUA dia 12 de janeiro, apenas quatro dias após os ataques terroristas em Brasília

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O presidente da CPI, Chico Vigilante (PT-DF), diante do silêncio de Cid: “Como o senhor explica esses depósitos e origem dessa dinheirama?"

Em silêncio durante toda a oitiva desta quinta-feira (24) na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, está cada vez mais encalacrado. Ele transferiu R$ 367.374,56 para conta bancária nos Estados Unidos dia 12 de janeiro, apenas quatro dias após os ataques terroristas em Brasília, conforme divulgou a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de São Paulo. Ela revelou também que Cid, mesmo preso, enviou remessa de dinheiro ao Brasil no valor de R$ 161.664,92 dia 25 de julho.

As movimentações constam em um extrato de operação de câmbio do Banco do Brasil, obtido pela coluna”, escreveu Mônica Bergamo, ao informar que o documento foi enviado à CPI do 8 de janeiro, que requisitou a quebra de sigilo ao Banco Central e ao Serviço de Perícias em Contabilidade da Polícia Federal.

Preso em maio por falsificação em cartões de vacina de Bolsonaro e família, Cid fez uma operação no BB Americas, braço da instituição financeira brasileira no exterior, e outra no Wells Fargo Bank, nos Estados Unidos, liquidada no dia 1º deste mês. O BB Americas também tem como cliente o pai de Mauro Cid, general do Exército Mauro Lourena Cid, que recentemente foi alvo, junto com o filho, de operação de busca e apreensão da Polícia Federal em investigação sobre desvio de joias e presentes de alto valor oferecidos por autoridades estrangeiras a Bolsonaro.

Cid aplicou cerca de R$ 250 mil em investimentos de renda fixa no dia 13 de março de 2020, conforme a colunista. No dia 30 de abril foram feitos alguns saques e o saldo ficou em R$ 135.500. A aplicação foi zerada em maio de 2021 mas em junho de 2021 havia saldo de R$ 30 mil. A pedido da CPMI dos Atos Golpistas, os levantamentos foram feitos entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de julho deste ano.

Ao fazer um histórico das movimentações de Cid e Bolsonaro, Mônica Bergamo informou que o tenente coronel “deu entrada em um procedimento para enviar remessas de dinheiro ao exterior dias antes de deixar o Brasil ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, em dezembro de 2022” e que Bolsonaro abriu conta em uma agência de Miami (EUA) do BB Americas nove dias antes de embarcar.

Mesmo sem respostas, deputados questionaram Mauro Cid

Na oitiva, Mauro Cid repetiu o comportamento que teve na sessão de 11 de julho na CPMI dos Atos Golpistas no Congresso Nacional. Ele leu praticamente o mesmo breve texto sobre sua vida e carreira e, em seguida, não respondeu nenhuma pergunta dos parlamentares. Ele citou que a única função de um ajudante é fazer assessoria próxima ao presidente, como receber correspondências, além de cerimônias e viagens, encaminhando para setores competentes, o que foi questionado pelos deputados do PT Chico Vigilante, presidente da CPI, e Gabriel Magno.

“O silêncio fala muito. O silêncio do senhor foi bastante elucidativo para todos nós”, disse o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT-DF) diante das recusas de Mauro Cid em responder às perguntas sobre seus vínculos com a família Bolsonaro, participação e planejamento da difusão de fake news, sobre a ordem que Bolsonaro deu ao empresário Meyer Nigri para disseminar notícias falsas e também sobre as mensagens encontradas em seu celular, em que tramava o golpe.

Vigilante questionou ainda sobre a participação do tenente coronel no esquema criminoso de venda das joias e exibiu reportagem sobre o caso. “O senhor viu essas joias?”, perguntou o deputado que quis saber sobre as movimentações financeiras de milhões, incompatíveis com a renda declarada. “Como o senhor explica esses depósitos e origem dessa dinheirama? O senhor sabe a origem e não quer dizer pra gente. Está sob risco de perder a patente e a carreira”, concluiu o presidente da CPI.

“Ninguém é obrigado a cumprir ordens ilegais. O senhor como militar sabe disso e mesmo assim cumpriu sabendo que eram ilegais?”, questionou o deputado Gabriel Magno (PT-DF), que mostrou vídeo em que Bolsonaro aparece falando que Mauro Cid era de confiança, tinha relações pessoais e políticas e era do núcleo duro da família. “Não cola a tese de que sua função como ajudante era apenas protocolar. Era da alta confiança do ex-presidente. O senhor está envolvido em todo esse processo, o senhor não só sabia como compactuava e foi ponta de lança de várias ações investigadas”, acusou Gabriel.

A defesa de Cid havia pedido para adiar o depoimento, o que foi negado por Chico Vigilante.

Da Redação

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