Caso Verônica: Polícia de SP sob suspeita de tortura

Travesti foi levada para delegacia e tem imagens degradantes expostas na internet

A vida da modelo fotográfica Verônica Bolina ganhou projeção nacional na sexta-feira (10), quando apareceu em postagens na rede social Facebook, feitas de dentro do 2º Distrito Policial de São Paulo. Sob a custódia do Estado, a travesti Verônica tinha o rosto desfigurado, corpo exposto pelas roupas rasgadas, pés e mãos algemados.

Acusada de agressão a uma vizinha, ela foi presa em flagrante por tentativa de homicídio, dano qualificado, lesão corporal, desacato e resistência. Em seu depoimento, Verônica declarou ter sido agredida em vários momentos pelos agentes da Polícia Militar (PM-SP) e do Grupo de Operações Estratégicas (GOE), ocorridas no momento da sua prisão e até durante atendimento no Hospital Mandaqui, pra onde fora levada após a arrancar a orelha de um carcereiro com os dentes.

A Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo divulgou um áudio no qual se ouve Verônica repetir os dizeres de uma voz feminina, ao fundo, afirmando não querer ser usada para fins políticos, que agrediu, foi agredida, mas não foi torturada. Em seguida, Verônica grava outro áudio pelo qual explica o motivo da voz da coordenadora da Secretaria, Heloisa Alves, ao fundo da gravação anterior.

Em seguida, Heloisa Alves gravou um outro áudio em que pede para a presidente do Conselho Estadual de Direitos LGBT, Agatha Lima, divulgar o quanto antes a gravação em que Verônica nega ter sido torturada. Heloisa já tinha visto postagens na internet dizendo que a travesti havia sido torturada nos porões do governo Geraldo Alckmin.

Apoio municipal – O Centro de Cidadania LGBT Arouche, serviço da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, recebeu a denúncia sobre a violenta prisão de Verônica, na segunda-feira (13). O centro emitiu nota pública por meio do qual informa o acompanhamento do caso pelos advogados Thales Coimbra e Iara Matos.

O Centro intermediou o encontro entre Verônica e sua mãe Marli Ferreira e lhe garante assessoria jurídica e psicológica. A travesti foi transferida para um Centro de Detenção Provisória e está em uma cela individual, onde tem o direito de usar suas roupas femininas e peruca, em respeito à sua identidade de gênero.

Para a membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), Érika Kokay, houve tortura com requinte de crueldade expressando discriminação transfóbica.

Ela afirmou que não defende a agressão de Verônica ao carcereiro, mas lembra que o Estado Democrático de Direito tem os mecanismos para tratar da penalidade da modelo e não tem o direito de responder no nível da barbárie.

“Para além da tortura, houve crime de gênero e transfobia. Rasparam o cabelo dela, rasgaram sua roupa e expuseram seu corpo”, lembrou a deputada

Segundo Érika, está havendo uma transfobia generalizada no País, reproduzida, inclusive, pelas forças de segurança e nos discursos no Congresso Nacional e em outras instituições. Para ela, é um crime inadmissível e deve ser severamente combatido pelo Estado.

“Violência de Gênero é um requinte construído pelo preconceito e a discriminação”, ressaltou a deputada.

Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias

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