Cimi responsabiliza o Estado e governo pelo assassinato de Paulo Guajajara

“Não nos cabe apenas exigir a apuração do fato em si, mas de denunciar quem tem incentivado e permitido invasões a Terras Indígenas associadas a atentados”, diz a nota

Patrick Raynaud

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) emitiu uma nota nesse sábado (2) a respeito da morte de Paulo Paulino Guajajara, ocorrida na noite desta sexta-feira (1º) no interior da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Ele tinha 26 anos e deixa esposa e um filho. Laércio Souza Silva, que estava com ele, também foi baleado nos braços e nas costas, mas resistiu aos ferimentos.

De acordo com o Cimi, os dois partiram da aldeia Lagoa Comprida, norte da Terra Indígena, a 100 km do município de Amarante, para caçar, e foram surpreendidos por cinco madeireiros armados.

“Os homens, com as armas em punho, exigiram que Paulino e Laércio entregassem arcos e flechas, instrumentos tradicionais usados para caçar. Como Guardiões da Floresta, portanto conhecidos destes habituais invasores da Terra Indígena, os Guajajara não tiveram muita chance de defesa”, diz a nota do Conselho. “Sem esperar qualquer reação, os madeireiros, em maior número, começaram a atirar contra os indígenas.”

Segundo o Cimi, em “análise preliminar, os policiais acreditam que se tratou de uma emboscada. Também afirmaram que não há nenhuma notícia de morte entre os madeireiros, conforme se ventila pela região”.

A nota destaca ainda que hoje os indígenas no Brasil não podem circular dentro de seus próprios territórios em segurança.  “De tal forma que não nos cabe apenas exigir a apuração do fato em si, mas de denunciar quem tem incentivado e permitido invasões a Terras Indígenas associadas a atentados, assassinatos, ameaças, esbulhos, incêndios criminosos. E quem tem incentivado é o próprio presidente, como ele mesmo admitiu no caso das queimadas”, diz o Cimi.

“As recorrentes falas do presidente da República contra a demarcação e regularização dos territórios, seguidas de um ambiente regional preconceituoso contra os indígenas, têm sido o principal vetor para invasões e violência contra os povos indígenas no Brasil”, aponta o Conselho.

Emboscada na mata

 

Laércio contou como foi o crime, de acordo com relato do cineasta Taciano Brito em matéria da Agência Pública. Antes de iniciar a caça, os dois indígenas buscaram água em um lago. “Eles já estavam nesse processo e o Laércio ouviu um barulho no mato, algo se mexendo, que ele achou que fosse alguma caça, um porcão do mato”, conta Taciano sobre o momento em que cinco homens armados saíram da mata.

“Começaram a atirar, numa distância não muito longe, e aí ele [Laércio] foi tentando se esconder, mas foi atingido no braço e, quando se deu conta, que olhou pro lado, o Paulino já tinha sido alvejado no rosto e já estava no chão”, diz o cineasta. “Ele ainda tentou puxar o Paulino pra perto dele mas viu que ele já estava morto. Ele ainda ficou mais um tempo ali tentando se esconder, e o pessoal atirando até que ele correu para tentar fugir e foi atingido nas costas.”

“A luta continua, não vamos parar. Mesmo que ele [Paulo Paulino] tenha morrido, mesmo que outros morram, enquanto tiver indígenas, enquanto tiver guerreiros, a luta vai continuar”, afirmou Laércio Guajajara ao cineasta e à liderança indígena Fabiana Guajajara, conforme a Pública.

Por Rede Brasil Atual

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