Cinco anos após golpe contra Dilma, economia do país foi reduzida a pó
Agenda neoliberal de destruição do Estado conduziu o país à tragédia da “pior década da história”. Brasil perdeu cinco posições no ranking das economias mais ricas do planeta desde 2015, quando se iniciou o processo que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff
Publicado em
A “década perdida”, decantada pela imprensa corporativa após a divulgação da queda de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, pode ser dividida entre ‘antes do golpe’ e ‘depois do golpe’. Em 2011, primeiro ano do período e também o inaugural do governo de Dilma Rousseff, o país havia ultrapassado o Reino Unido e se tornado a sexta maior economia do planeta, pela primeira vez na história.
O resultado coroou uma ascensão que começou em janeiro de 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse. O ano anterior, último dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, foi marcado pela regressão do Brasil no ranking das maiores economias do mundo – da oitava posição, em 1998, para a décima segunda, em 2002.
Chegara ao fim a era tucana, de cinco anos consecutivos em que a economia brasileira foi a que mais perdeu posições no ranking. Em janeiro de 2003, FHC entregou o cargo com pouco mais de US$ 15 bilhões em reservas internacionais, mais uns US$ 30 bilhões em créditos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Sete anos depois, a condução econômica dos governos do Partido dos Trabalhadores, fundamentada no crescimento com justiça social e redução da pobreza, levou à alta de 7,5% do PIB em 2010. Melhor resultado da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996. E no auge da crise econômica surgida no mercado financeiro dos Estados Unidos, que se alastrou pelo planeta.
Em 2012, segundo ano de Dilma, a crise econômica mundial recrudesceu e o Brasil caiu para o sétimo lugar, posição que ocupou até 2014, quando a presidenta foi reeleita. Em 2015, ano marcado pela renitente sabotagem contra o governo, iniciada com pedidos de recontagem de votos dias após a eleição, o Brasil caiu para o oitavo lugar, e lá permaneceu até 2018.
Os derrotados nas urnas por quatro eleições seguidas decidiram romper o contrato social e partir para a aventura do impeachment, sem crime de responsabilidade que o justificasse. Uma das primeiras ações foi a formação de uma oposição selvagem no Congresso.
Seu objetivo era impedir o governo de governar, criando uma grave crise fiscal via pautas-bomba que aumentaram gastos e reduziram receitas. Impediram também, de forma sistemática, a aprovação de projetos cruciais para a estabilidade econômica do país.
Insensíveis para as graves consequências de suas ações para o povo e o país, inviabilizaram a realização de novos investimentos privados e públicos, ao impor a instabilidade como norma. A crise política paralisou e lançou o país na recessão. E Dilma, legitimamente vitoriosa em 2014, não pode governar no ano seguinte.
Essa sabotagem interna inviabilizou iniciativas para atenuar os efeitos da crise mundial, que, naquele momento, se caracterizava pela queda do preço das commodities, pela redução do crescimento da China, pela disparada do dólar devido ao fim da expansão monetária praticada pelos Estados Unidos, pela queda dos preços internacionais do petróleo e, aqui dentro, pelos efeitos da seca sobre o custo da energia.
Golpe em construção
A construção do golpe se deu no Congresso, na mídia, em segmentos do Judiciário e no mercado financeiro. Nos primeiros seis meses de 2015, essa confederação de interesses apresentou 15 pedidos de impeachment. Até a abertura do processo, em dezembro de 2015, pelo então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje cumprindo pena de 15 anos e 4 meses de reclusão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Afastada em 12 de maio de 2016, Dilma deixou nos cofres públicos o saldo dos governos petistas: US$ 376,1 bilhões em reservas internacionais. Em 13 anos, as gestões do PT elevaram dezenas de milhões de pessoas pobres à condição de cidadãos, com direitos e com acesso a serviços públicos, ao trabalho formal, à renda, à educação para os filhos, a médico, casa própria e remédios. E o país finalmente saiu do ‘Mapa da Fome’ da Organização das Nações Unidas (ONU).
Empossado, o usurpador Michel Temer não tardou a enquadrar o Brasil na agenda neoliberal prometida no documento ‘Ponte para o Futuro’, lançando o país em um ciclo de regressão econômica que agora atinge o fundo do abismo com Bolsonaro e seu ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes.
Após quatro anos de contenção de gastos públicos, sucateamento e dilapidação das empresas estatais e instabilidade política, o PIB de 2020 totalizou R$ 7,4 trilhões, interrompendo a sequência de três anos de crescimento pífio entre 2017 e 2019. O PIB per capita alcançou R$ 35.172, recuando 4,8%, e o consumo das famílias caiu 5,5%. E o Brasil voltou à décima segunda posição entre as maiores economias do mundo.
Em 2020, o país ficou em 21º lugar no ranking de crescimento econômico de 50 países, feito pela agência de classificação de risco Austin Rating. O real também foi uma das moedas que mais perdeu valor em 2020: caiu 22,4% em relação ao dólar no ano passado, o sexto pior desempenho em uma lista de 121 países.
Para 2021, pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil deve continuar perdendo posições, e pode encerrar o ano no 14º lugar no ranking das nações mais ricas. Mais uma vez, a agenda neoliberal fracassou miseravelmente.
Da Redação