“Colocar pobre na universidade não é gasto, é investimento”, defende Lula
Defesa da soberania nacional, ameaçada pelo governo Bolsonaro, foi questão central na entrevista que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu à CartaCapital
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A defesa da soberania nacional foi questão central na entrevista de duas horas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu aos jornalistas Mino Carta e Sérgio Lirio, de CartaCapital, gravada na quarta-feira (4) e transmitida pelas redes sociais na noite desta quinta-feira. “O que nós precisamos é alertar a sociedade do processo de destruição que está acontecendo no país, da entrega da soberania nacional”, afirmou.
Lula afirmou que a soberania está relacionada ao conhecimento, e deu como exemplo a área de engenharia, e que para se tornar uma nação soberana é preciso acreditar que educação é um investimento. “Colocar pobre na universidade não é gasto, é investimento”.
Lula também defendeu que o Brasil não quebrou ao longo da crise dos últimos anos por conta de ter 380 milhões de dólares de reservas, um fundo que foi construído durante os governos do PT.
Sergio Lirio perguntou se Lula acredita que o governo Bolsonaro conseguirá privatizar a Petrobras. Lula afirmou que o povo brasileiro não sabe ainda o que significa a Lava Jato na economia, quantos milhões de pessoas perderam o emprego. “É preciso informar as pessoas sobre o que está acontecendo no país”, disse o ex-presidente.
Ele também comentou sobre a crise das queimadas na Amazônia. “Quem está tocando fogo são os milicianos de Bolsonaro. Não são as pessoas sérias do país. Essa gente que só destrói, liberar armas, tirar radares, vai favorecendo os bandidos”.
Perguntado sobre o que pensa do fato de a população ainda apoiar os nomes de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, apesar dos diálogos revelados pela Vaza Jato, Lula disse que “a sociedade reage de acordo com a informação que ela tem. O PT e os governos do PT foram demonizados e saímos para um pensamento único. A sociedade está começando a enxergar o que está acontecendo. E ainda dizem que o desemprego é por conta da Dilma, mas isso começou quando eles começaram a boicotar o governo da Dilma”.
A Rede Globo é responsável por parte do ódio neste país, defendeu Lula. “Mas o período do PT foi o melhor período de distribuição de renda, com investimento público, com crescimento da renda dos mais pobres, com investimento na educação. Agora o PT tem que ter paciência e ajudar a arejar a cabeça da sociedade”.
Lula também comentou sobre as perspectivas do julgamento de seu caso no STF. “Como é que vive um ser humano sem ter esperança? Haverá um momento neste país em que será dito que eu fui vítima da maior canalhice. Tudo o que o Intercept diz, nós já dizíamos. Não tem novidade. Estou tranquilo e esperançoso. O STF vai entrar no mérito do processo”, afirmou e depois lembrou de quando disse para o então juiz Sergio Moro: “Você está condenado a me condenar”.
Mas Lula também comentou que tudo isso é secundário diante dos problemas do povo. “Se estivesse comendo melhor, estudando melhor, mas o povo é prisioneiro de uma canalhice. Não sabem governar e só falam em corte”, criticou. “O Bolsonaro acredita em cada asneira que ele fala, porque ele é fanático, ele governa para turma dele”.
Lula considera que a crise política atual e o governo Bolsonaro refletem vários interesses em jogo no país. “O interesse maior dos setores financeiro e empresarial é desmontar a estrutura de direitos ao longo de décadas. Estamos voltando ao passado. A escravidão nunca significou progresso. Eles querem desmontar o estado de bem-estar conquistado no período pós-segunda guerra”
“A verdade é que a Lava Jato virou uma instituição política e deixou de atuar contra a corrupção”, defendeu. Lula fez referência a um fato que precisa ser apurado numa operação após a Lava Jato. Ele disse que o que é tido como propina, possivelmente era evasão fiscal e que isso ainda terá de ser apurado, mas não deixou de destacar que Moro e o TRF4 são mentirosos e também que o STJ não julgou o mérito do seu caso. “Mas eu acho que a verdade vai vencer”.
Depois de lembrar que chegou ao fim do seu mandato com 87% de aprovação, Lula disse que o sentimento de ódio que dominou as eleições de 2018 foi alimentado desde que ele saiu da presidência. “Esse ódio nós precisamos extirpá-lo, porque a sociedade não consegue construir um país nesse clima”.
Assista a íntegra da entrevista:
Por CUT