Com o dinheiro cada vez mais curto, famílias apelam para a poupança
Diferença entre saques e depósitos chegou a R$ 11 bilhões em outubro, maior saldo negativo para o mês em 27 anos. Ano pode terminar com o maior rombo da história
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Endividadas, empobrecidas e pressionadas pelos altos juros decorrentes da inflação crônica dos últimos anos, que já volta a crescer, as famílias brasileiras apelam cada vez mais para as reservas financeiras a fim de cobrir os rombos no orçamento mensal. Em outubro, a diferença entre saques e depósitos na caderneta de poupança chegou a R$ 11,006 bilhões, maior saldo negativo para o mês em toda a série histórica, desde 1995.
Conforme os dados divulgados nesta segunda-feira (7) pelo Banco Central (BC), a população depositou R$ 302,054 bilhões na poupança em outubro, contra R$ 313,061 bilhões em retiradas. O saldo negativo supera os R$ 7,430 bilhões do mesmo mês em 2021 e também os R$ 5,902 bilhões de setembro deste ano.
Em todo o ano de 2021, o saldo ficou negativo em R$ 35,497 bilhões. Em 2022, o acumulado entre janeiro e o mês passado já atinge -R$ 102,077 bilhões. Até dezembro, a saída líquida pode chegar a mais que o dobro do pior resultado da história, em 2015, quando as famílias retiraram R$ 53,567 bilhões a mais do que depositaram na poupança.
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A sangria de reservas ocorre desde o início deste ano. Em janeiro, a balança entre saques e depósitos já havia ficado negativa em R$ 19,7 bilhões. Em agosto, a diferença foi ainda maior (R$ 22 bilhões). Em 2022, somente maio registrou saldo positivo (R$ 3,514 bilhões). Com esses saques contínuos, o estoque da poupança está em R$ 991,8 bilhões, menor valor desde agosto de 2020.
Um dos motivos dessa fuga da poupança são os juros elevados. Em alta desde março de 2021, a taxa básica de juros (Selic) anual é de 13,75%. Outro motivo é a inflação, que desacelerou entre julho e setembro, mas voltou a subir em outubro, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a “prévia da inflação”, que foi de 0,16%.
Além disso, apesar da “deflação” pontual, não houve redução de preços em grupos relevantes para as famílias, como gastos com alimentação e moradia. Nesta quinta-feira (10), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro. Até setembro, o indicador variava 7,2% no acumulado em 12 meses, enquanto a carestia dos alimentos chegava a 11,7%.
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O Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), elaborado pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), vem piorando em 2022, passando de 57,2 pontos no final de 2020 para 56 pontos no primeiro trimestre deste ano. Esse índice vai de zero a 100 em uma escala que varia de ruim a ótima. Quando menor, pior.
Entre os temas abordados pelo questionário da Febraban está a comparação entre renda total e gastos. Nessa pergunta, 34,2% dos respondentes disseram que o orçamento está mais curto e que gastam mais do que ganham, um aumento de 5,1 pontos percentuais na comparação com a pesquisa de 2020.
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Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (7) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também mostra que o endividamento e a inadimplência são os maiores em 12 anos. Após quatro meses de altas consecutivas, 8 em cada 10 famílias estão endividadas, enquanto 3 em cada 10 estão inadimplentes.
Da Redação