Com taxas abusivas do cartão e do cheque especial, Selic agrava endividamento

Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado aponta que taxa na estratosfera segura juros do cartão em 182% e cheque especial em 132% ao ano. “Esses juros são mais uma punição pra população”, condena Gleisi

Extorsão: a atual taxa Selic penaliza as famílias de baixa renda (Imagem: Freepik - Site do PT)

Enquanto o rentismo se apropria dos recursos da economia popular com a taxa básica de juros em 13,75%, no andar de baixo da pirâmide, o povo paga a conta, com endividamento e inadimplência sufocando o consumo. Reportagem do ICL Economia repercutiu um levantamento da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, publicado há duas semanas, apontando que a Selic agrava a perda de renda das famílias. Refletindo a taxa básica, que serve de referência a todas as outras, os juros do cartão são da ordem de 182% ao ano, enquanto os do cheque especial estão em 132% anuais.

A situação indica um quadro de gravidade, na medida em que as duas modalidades de crédito – as que mais cresceram em janeiro, em comparação ao mesmo período de 2022 – são as mais utilizadas pela população. A reportagem lembra que o desemprego e a precarização do trabalho levam o brasileiro a recorrer ao cartão e ao cheque especial. O problema é o desconhecimento sobre os juros extorsivos cobrados por bancos e outras instituições de crédito.

“Tanto o cartão de crédito quanto o cheque especial dispensam a burocracia exigida pelas demais linhas de crédito”, relata o ICL. “Por essa razão, na hora do aperto grande parte dos brasileiros recorre aos dois, o que acaba virando uma bola de neve e fazendo com que muitos engrossem a lista de devedores”.

As duas modalidades empregam hoje as maiores taxas de juros do mercado. No caso do cartão de crédito, devedores que optarem pelo rotativo chegam a pagar 411% de juros ao ano.

“Punição para a população”

“Juros do cheque especial chegam a 132% ano e do cartão de crédito a 411%”, espantou-se a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pelo Twitter. “Pessoas estão pegando dinheiro caro pra pagar dívidas, toma mais endividamento e inadimplência. Esses juros são mais uma punição pra população, já o rentismo está curtindo esse momento”, condenou a petista.

“O que o Banco Central faz nesse momento é incentivar uma retração de crédito”, definiu o líder em exercício da bancada do PT na Câmara, Odair Cunha, em entrevista ao Jornal PT Brasil, nesta terça-feira (28). “É muito importante ter crédito para as famílias poderem consumir. Mas o crédito precisa ser barato, acessível”, enfatizou Cunha. “O que o Banco Central faz nesse momento é contrário disso, ele dificulta o acesso ao crédito”, criticou.

Com Desenrola, Lula vai socorrer famílias

“Como grande parte deles [trabalhadores] não tem carteira assinada e os bancos estão muito mais criteriosos para conceder crédito, muitos não conseguem recorrer a linhas de empréstimos mais baratas, como o consignado”, informa a reportagem do ICL. “A isso se soma o aumento da inadimplência e do comprometimento da renda das famílias brasileiras”.

As famílias mais atingidas são as de baixa renda. Segundo dados do próprio Banco Central, famílias que ganham até dois salários mínimos passaram a gastar 77% a mais com cartão de crédito entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022. A situação agravou a teia do endividamento no Brasil.

Por isso, o governo Lula irá implementar em breve o Desenrola Brasil, um programa para auxiliar famílias endividadas a quitar seus débitos e limpar o nome. O programa contará com R$ 10 bilhões, que serão usados para garantir a renegociação de R$ 50 bilhões em dívidas. Nesta primeira etapa, o programa irá socorrer 37 milhões de brasileiras e brasileiros com dívidas.

“70% das famílias endividadas estão no setor de crediário e serviços públicos”, avaliou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao tratar do programa, no início de março. “Grande parte dessas pessoas têm renda até 2 salários. O Desenrola Brasil vai ajudar as famílias a encontrar solução para esses problemas, permitindo que voltem ao mercado de crédito”.

Da Redação, com ICL Economia

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