Conselheiro de Bolsonaro mantém ataque à ciência com fake news sobre Covid

Na CPI, Osmar Terra levantou suspeita sobre vacinas e atacou governadores por isolamento. “Vossa Excelência é autor intelectual de boa parte dos problemas que vivemos hoje”, acusou Humberto Costa (PT-PE)

Foto: Alessandro Dantas

No início da sessão, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu um minuto de silêncio em memória das vítimas da Covid-19 no Brasil

Considerado o ministro da Saúde do gabinete das sombras de Jair Bolsonaro, o deputado federal Osmar Terra é também o mentor da tese de imunidade de rebanho adotada pelo governo que gerou meio milhão de mortos no país. O parlamentar falou à CPI da Covid nesta terça-feira (22). Mentiroso contumaz, Terra foi desautorizado e desmentido pelos senadores diversas vezes por disseminar fake news sobre a covid-19 no Brasil e no mundo. Os parlamentares apresentaram vários vídeos do deputado arrotando teses negacionistas nas redes sociais, como a da imunidade de rebanho e a previsão de que o coronavírus mataria o mesmo ou até menos que a H1N1.

Descolado da realidade, o deputado manipulou dados, levantou desconfianças sobre a eficácia das vacinas, defendeu medicamentos sem comprovação científica contra a doença – a exemplo da cloroquina -, mentiu sobre o controle da pandemia em países como Reino Unido, China e Suécia e investiu contra governadores por adotarem medidas de isolamento social.

“Todos os governadores decidiram por fazer quarentena, lockdown, fique em casa, isolamento social”, atacou Osmar Terra. “Então, essas 500 mil mortes não estão acontecendo em outro país em que o presidente podia decidir tudo”, disse, insinuando que Bolsonaro teve as mãos atadas pelos gestores. Pela narrativa falaciosa do parlamentar, os governadores é que são os responsáveis pela crise sanitária.

O deputado foi desmentido pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). “O número de mortes e de infectados é maior na população que acredita mais em Bolsonaro”, rebateu o senador. “Significa que há um efeito Bolsonaro na expansão da pandemia, direto, significa desinformação pela orientação de quem tem alguma fé pública e é colocada como um desserviço à preservação da vida”, reagiu Carvalho.

“Não fosse a resistência de governadores e prefeitos estaríamos com mais de um milhão de mortos”, sentenciou.  No início dos trabalhos da CPI, o senador pediu que todos fizessem um minuto de silêncio em respeito à memória das vítimas no país.

Terra, uma grande influência para Bolsonaro

O senador Humberto Costa (PT-PE) apontou a responsabilidade de Osmar Terra na catástrofe brasileira, visto que aconselhou Bolsonaro diretamente sobre a pandemia, inclusive com prognósticos falsos sobre o número de mortos e o fim da crise sanitária, repetidos em diversas ocasiões pelo presidente. Apesar de sua posição de destaque no gabinete paralelo bolsonarista, Terra classificou o grupo de aconselhamento como uma peça de ficção, mesmo diante de imagens exibidas de uma reunião na qual aparece ao lado de Bolsonaro.

“Vossa Excelência é um grande influenciador, influenciou o presidente da República. Basta a gente olhar as previsões que Vossa Excelência fez sobre quando acabaria a pandemia”, destacou o senador, após a exibição de uma série de vídeos, exibidos pela equipe do relator Renan Calheiros, nos quais Osmar Terra desdenha da letalidade da doença e defende a livre circulação do vírus. “O presidente da República, inclusive, quando ignorou as tentativas da Pfizer e do Butantan de garantir vacinas, estava baseado nessas previsões”, lembrou Costa.

O petista citou declarações de Bolsonaro, em dezembro, de que o vírus estava “indo embora”, às vésperas da segunda onda de infecções e mortes que devastou o país a partir de janeiro. “No mínimo, Vossa Excelência é autor intelectual de boa parte dos problemas que vivemos hoje porque influenciou aquele cidadão no Palácio do Planalto”, acusou o petista.

Na gestão de Lula, o povo em primeiro lugar

Costa também comparou o fracasso de Bolsonaro com a atuação do governo Lula durante a campanha de vacinação contra a H1N1, citada fora de contexto por Osmar Terra. À época, o presidente vacinou 80 milhões de brasileiros em pouco mais de três meses.

“Conseguimos, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde, dominar aquela que era também uma pandemia grave”, ressaltou o senador. “A diferença é estabelecer prioridade: colocar em primeiro lugar a população brasileira, coisa que esse governo jamais fez”, lamentou.

Ataque ao STF

Humberto Costa também condenou Osmar Terra por defender a narrativa de que o o Supremo Tribunal Federal (STF) atrapalhou Bolsonaro no combate à pandemia por conceder autonomia a estados e municípios na gestão da crise.

“Vamos achar com essa discussão de que o STF proibiu Bolsonaro de fazer o que deveria fazer”, afirmou. “Não repita isso porque Vossa Excelência sabe que não está dizendo o que de fato ocorreu”, alertou.

“O que o presidente queria era passar por cima dos governos estaduais e das prefeituras para adotar a estratégia dele da imunidade de rebanho”, reiterou Costa.

Fake news e delírios sobre a pandemia em outros países

Osmar Terra distorceu e omitiu ainda dados sobre o controle da pandemia na Suécia, no Reino Unido e na China, deixando de citar o lockdown e a vacinação como medidas fundamentais para o controle das taxas de infecção.

Na visão turva de Terra, por exemplo, o Reino Unido experimentou uma queda de casos e mortes no início deste ano não por medidas de restrição e imunizações, mas “porque já havia um número muito grande de pessoas infectadas”.

Terra também usou o exemplo da China, que acumulou o relativamente baixo número de quatro mil mortos em relação ao total da população, para explicar sua avaliação inicial de que a pandemia não duraria muito tempo no Brasil. Mas deixou de fora, mais uma vez, o fato de que a China impôs um severo lockdown e testou a população para controlar o surto, duas medidas contrárias ao que Bolsonaro defende.

Humberto Costa comparou ainda o quadro sanitário nacional com países com densidade populacional semelhante à do Brasil e com sistemas de saúde inferiores, caso de Indonésia, Paquistão, Nigéria e Bangladesh. Todos tiveram taxas de mortalidade menor que o Brasil.  “Isso é responsabilidade direta da incompetência e da indiferença do governo que temos em nosso país”, concluiu Costa.

Para defender a volta às aulas, Terra também alterou dados sobre países que fecharam seus centros de ensino. “Nenhum país importante do mundo, mesmo os que fizeram quarentena e lockdown, ficaram mais de 90 dias com as escolas fechadas”, mentiu o deputado , atropelando um estudo da Unesco que confirma que 126 países mantiveram as escolas fechadas por mais de 12 semanas até o fim de maio. 

Baixo isolamento, alta mortalidade

Rogério Carvalho também desmontou os argumentos de Osmar Terra de que isolamento social não funciona. “Os países que não fizeram isolamento tiveram uma mortalidade maior, via de regra. É só comparar os países nórdicos, a Finlândia, a Dinamarca e a Suécia, que tem um número maior de mortes por milhão de habitantes que os demais países”, declarou.

Carvalho voltou ainda a condenar a tese da imunidade de rebanho. “Com 200 milhões de brasileiros, esse caminho levaria a outras cepas [do vírus]”, frisou. “O que precisávamos era de mais vacinas há mais tempo”, pontuou o senador. “Imunização coletiva, no caso de um vírus tão contagioso, a gente só alcança com imunização em tempo rápido”.

Rogerio Carvalho também desmascarou a afirmação falsa do deputado de que a Argentina fez um ano de lockdown e que, por isso, teria quebrado o país. “A Argentina fez nove dias de lockdown em várias regiões, conforme noticiado”, desmentiu o senador. 

Da Redação

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