COP 28: “O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”, diz Lula

Presidente participou da abertura da conferência do clima da ONU e cobrou das potências o cumprimento dos compromissos ambientais

Ricardo Stuckert

O presidente Lula, ao lado de Emmanuel Macron, em Dubai

Em discurso, nesta sexta-feira (1), na sessão de abertura da Presidência da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, o presidente Lula cobrou das potências mundiais, responsáveis pelas maiores emissões de gases poluentes do planeta, o cumprimento dos compromissos estabelecidos para o enfrentamento do aquecimento global.

O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas. Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?”, questionou o presidente. “O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial”, criticou.

Ao falar sobre a gravidade da crise climática, Lula chamou a atenção para o fato de 2023 ter sido considerado o ano mais quente em 125 mil anos, com a humanidade sofrendo com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes. “No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte”, relatou.

Lula criticou a lentidão dos países no cumprimento das metas ambientais. “É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa”, declarou.

O presidente lembrou que quando participou da COP 15, em Copenhague, em 2009, a arquitetura da Convenção do Clima já “estava à beira do colapso”, o que levou ao fracasso das negociações, sendo preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015. “Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante”, lamentou o presidente.

Ele afirmou ainda que “o não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime” e que “é preciso resgatar a crença no multilateralismo”.

“É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra. É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados. Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades”, cobrou Lula.

Em mais uma crítica às potências, o presidente afirmou que os gastos com armas deveriam ser voltados ao combate à fome e à mudança climática. “Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática. Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?”, disse.

Desigualdades

Lula também defendeu um esforço global contra as desigualdades, afirmando que reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa criar condições para redirecionar esforços na luta contra o aquecimento global.

Segundo ele, a injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que afligem a humanidade. “A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres”, afirmou o presidente.

“O mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça. Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades. Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. Torna-se incapaz de pensar no amanhã. Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos”, disse, acrescentando que nenhum país resolverá seus problemas sozinho e que todos são obrigados a atuar juntos, além de suas fronteiras.

“O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos. Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030. Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia”, detalhou Lula.

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“Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais. O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis”, afirmou o presidente. Ele assegurou que o Brasil vai trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre a COP 28 e a COP30, que vai acontecer em Belém (PA), em 2025.

“Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade. Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada”, enfatizou o presidente.

Da Redação

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