CPI confronta Vitamedic, que lucrou milhões com droga inútil contra Covid
Jailton Batista, diretor de empresa que teve 600% de faturamento com venda de ivermectina depôs nesta quarta (11). Kit covid levou milhares à morte. “Bolsonaro atuou como curandeiro”, acusa Humberto Costa
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Os medicamentos que integram o chamado ‘kit covid’, drogas sem eficácia contra a Covid-19 – e que tiveram em Jair Bolsonaro seu maior garoto propaganda – voltaram ao centro das atenções da CPI da Covid. Os senadores ouviram, nesta quarta-feira (11), o diretor da farmacêutica Vitamedic Jailton Batista. O faturamento da empresa cresceu 600%, entre 2019 e 2020, com a venda de drogas como a ivermectina. O ‘kit covid’ foi largamente utilizado em um experimento conduzido pelo governo federal na população de Manaus, em janeiro. À época, dezenas de pacientes graves morreram por falta de oxigênio na capital amazonense.
Somente com vendas de ivermectina, a empresa registrou um crescimento de 1.230%, saltando de 5,7 milhões de caixas em 2019 para 75,8 milhões em 2020. Dados de faturamento de cerca de uma dezena de farmacêuticas enviados à CPI da Covid apontam lucros de mais de R$ 1 bilhão com a venda, entre janeiro de 2020 e maio de 2021, de medicamentos do ‘kit covid.
Para turbinar as vendas da droga, a Vitamedic investiu em anúncios publicitários nos maiores jornais do país por meio do grupo Médicos pela Vida, formado por profissionais defensores do uso de cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D contra a Covid-19. O grupo é infestado de médicos bolsonaristas.
“Foi solicitado o apoio à associação Médicos pela Vida no patrocínio de um documento técnico, e ela o fez”, relatou Batista. “Foi apenas a publicação nos jornais de um manifesto da associação em que a empresa assumiu o custo da veiculação”, reconheceu. Pelo anúncios, a empresa pagou R$ 717 mil. O senador Otto Alencar (PSD-BA) também denunciou que a farmacêutica pagou médicos para receitarem a ivermectina.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) citou um anúncio em um outdoor, em Feira de Santana, de abril deste ano, com uma propaganda da ivermectina. O anúncio, também citado por Alencar, foi assinado pela Médicos pela Vida preconizava e que “Covid tem cura”. Segundo Carvalho, o município, terra de Batista, ultrapassou a marca de 50 mil casos e mais de mil mortes pela doença.
“Covid tem cura, a terra é plana, voto impresso, a volta da ditadura. Esses são os mitos de Bolsonaro”, elencou Carvalho. “Bolsonaro inventou até a troca de bula, mais um mito fantasioso que levou milhares de brasileiros à morte”, condenou o senador.
Carvalho que é médico, citou o código de ética dos profissionais da área para condenar a conduta da farmacêutica na promoção dos medicamentos. “Isso foi feito pelo presidente da República, pela Médicos pela Vida, com patrocínio da Vitamedic”.
O senador listou ainda todos crimes cometidos por agentes públicos e pela farmacêutica por prescrever medicamentos sem eficácia contra a Covid-19: crime de epidemia, crime de curandeirismo, crime de infração de medida sanitária preventiva, crime de corrupção passiva, entre outros.
É de cair o queixo a frieza da vitamedic, o senhor José Alves Filho, engabela o povo brasileiro para ganhar dinheiro.
Lá na minha terra, só o fato de ganhar dinheiro a qualquer custo, o cidadão é conhecido como usurento. #CPIdaCovid pic.twitter.com/O6TskvgaOY
— Rogério Carvalho ??? (@SenadorRogerio) August 11, 2021
Empresa “abutre”
O senador Humberto Costa (PT-PE) acusou a Vitamedic de agir como uma empresa “abutre”, com investimento em publicidade para promover e turbinar as vendas de drogas perigosas e inúteis contra a Covid-19. “A empresa desenvolveu esses canais para ampliar a venda desses medicamentos, principalmente seduzindo profissionais da área de saúde”, denunciou o senador. “Deveriam ter investido, com publicidade, para estimular medidas preventivas mas estavam preocupados em vender ivermectina”.
“Pagaram informe publicitário cujo objetivo é difundir a noção de que há médicos que defendem esse tratamento”, apontou. Ele advertiu que o conjunto de 10 mil médicos que defendem o tratamento não foi fiscalizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), hoje dominado por bolsonaristas. “O conselho lavou as mãos”, ressaltou.
Costa apontou ainda que os estudos que baseiam a recomendação do uso de ivermectina para tratar Covid-19 são considerados de fraudulentos pela comunidade científica. “Existe comprovação científica de que ivermectiva e outros medicamentos do chamado kit covid não têm qualquer eficácia contra a covid-19. Está comprovado”, sentenciou.
Bolsonaro atuou como um curandeiro anunciando cura infalível para a COVID-19. Chegou a tirar fotos mostrando medicamento para Emas. Divulgou uma ideia de tratamento precoce sem comprovação científica. Bolsonaro brincou com a vida dos brasileiros. É o principal culpado.
— Humberto Costa (@senadorhumberto) August 11, 2021
Curandeirismo e danos irreversíveis
Humberto Costa lembrou dos riscos da utilização da droga em doses não controladas, podendo causar danos irreversíveis à saúde do paciente, inclusive com alto risco de óbito. Entre os efeitos estão danos neurológicos e o desenvolvimento de doenças hepáticas.
“A culpa principal por essa tragédia é do presidente da República. Jair Bolsonaro atuou como se fosse um curandeiro, anunciando cura infalível para uma doença em que isso não existe”, disse o senador. Como Carvalho, ele também reiterou que Bolsonaro deve ser indiciado por charlatanismo, crime previsto no artigo 284 do Código Penal.
Indenização e ressarcimento aos Cofres
Por sugestão do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), a CPI informou que irá ingressar na Justiça Federal com um pedido cautelar para bloquear bens da empresa Vitamedic a fim de ressarcir os cofres públicos.
O senador Ranfolfe Rodrigues (Rede) recomendou ainda que as famílias de brasileiros prejudicadas pelos efeitos do tratamento com ‘kit covid’ procurem a Defensoria Pública para ser indenizadas pela União. “Que busquem responsabilizar a União mas também as empresas que lucraram com isso”, afirmou.
Da Redação