Crise de 2008 ainda não passou e mundo sofre reflexos, avalia economista
De acordo com economista, o mundo continua sentindo os efeitos da recessão mundial, que começou nos Estados Unidos
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O crescimento dos Produtos Internos Brutos (PIB) dos Estados Unidos em 2,2% e de 1,5% da Alemanha, em 2014, motivou economistas brasileiros a defender que o mundo finalmente começava a se recuperar da crise de 2008 e a criticar a presidenta Dilma Rousseff, que atribuía a desaceleração da economia brasileira à recessão global.
O tempo mostrou que a análise da presidenta, à época candidata à reeleição, não estava equivocada. Em julho deste ano, a Casa Branca revisou para baixo a estimativa de expansão do PIB norte-americano, de 3% para 2% este ano.
No mesmo mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez uma previsão um pouco mais otimista. Mas, ainda assim, reduziu em 0,6% a expectativa de crescimento da maior economia do mundo, para 2,5%. As projeções para a Alemanha, economia mais forte da zona do Euro, são de 1,6%.
De acordo com o professor de Economia da Pontífice Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rubens Sawaya, “o crescimento muito baixo” do ano passado foi alavancado por uma onda especulativa gerada pela política de aumento da liquidez internacional do Banco Central Norte-Americano (FED).
“De certa forma, é isso o que a gente está vendo. Essa bolha que foi criada lá (em 2014), que pareceu recuperação mas não era de fato, que a gente está vendo explodir esta semana na China”, avalia.
Na avaliação do especialista, não há, de fato, uma crise chinesa, mas uma avaliação equivocada em relação à economia do país asiático. “Os mercados internacionais estão olhando a China de forma errada e por isso estão caindo muito, depreciando muito a economia chinesa. Gradativamente vai-se mostrar que não é verdade”, considera.
Brasil – Sawaya lembra que a crise internacional de 2008 afetou o Brasil, principalmente, pela queda no preço das commodities, que se mantém baixos sete anos depois do início da recessão.
“Estávamos importando produtos industrializados e cobrindo os custos de importação com exportações de commodities. A queda do preço fez com que a gente tivesse que mudar a estratégia”, explica.
A queda no valor dos produtos primários afetou outros países exportadores desses produtos. Trata-se de um dos efeitos da economia globalizada e altamente concentrada nas mãos de grandes corporações.
Durante uma palestra na quarta-feira (26), o economista Ladislau Dowbor destacou que a produção de commodities é concentrada em 16 tradings globais. Segundo ele, há um controle da economia mundial sem que haja um governo mundial.
Ladislaw acrescentou que 737 empresas controlam 80% do sistema corporativo global. “Trata-se de um verdadeiro oligopólio planetário, e 65% desse sistema corporativo é formado por bancos”, explicou, de acordo com reportagem do site “Rede Brasil Atual”.
Crise de interesses – Na análise do especialista, a crise mundial é provocada pelo controle da economia por grandes corporações e pela concentração do capital em bancos e instituições financeiras.
No Brasil, ele avalia, a crise é “levada por interesses políticos” e alavancada por uma aliança da mídia, do sistema financeiro e de parte do Judiciário.
Medidas protetivas – Para o deputado federal e economista Enio Verri (PT-PR), a crise só não causou mais estragos na economia brasileira porque o governo adotou políticas anticíclicas para reduzir impostos e incentivar o consumo.
“O que estamos sentindo hoje é reflexo de 2008, mas as políticas econômicas que adotamos fizeram com que transferíssemos o efeito por mais tempo”, detalha. Enio defende o ajuste fiscal como políticas “fortes, pesadas, mas necessárias”.
O parlamentar afirma que há um grupo de economistas com amplo espaço na mídia brasileira que pertencem à corrente ideológica tradicional e defendem as políticas adotadas pelos Estados Unidos.
Para se recuperar da crise, a maior economia mundial decidiu apoiar os bancos. “Em vez de incentivar o consumo pela população mais pobre, os EUA optaram por ajudar os bancos. São políticas econômicas elitistas, que resolvem os problemas dos ricos e transferem o ônus para os mais pobres”, critica.
Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias