Danilo Nunes: Os “REs” e o PT

Reposicionamento? Reconstrução? Recondução? Reinvenção? Re…?

Tribuna de Debates do PT

A história nos mostra o quão prejudicial à população e ao indivíduo é o fanatismo pelo poder central de um Estado. Transferindo essa afirmação para uma organização social, política e/ou partidária o resultado é o mesmo: a criação de uma oligarquia. Uma forma que causou tantas revoltas e revoluções no decorrer dos séculos.

Caros companheiros (as), eu mesmo, durante minha vida política, fui conduzido através de uma sistematização nas organizações em que participei a posicionamentos sectários e oligárquicos, levado a acreditar que estaríamos, a partir de formulações de políticas e ideias apenas por um restrito grupo, atendendo às reivindicações e anseios de todos. Pura bobagem e prepotência nossa!

Às vésperas de completar minhas 38 primaveras, inicio mais um período de reflexão de vida, onde deixo de lado medos e fórmulas enraizadas em minha consciência e entro num novo ciclo, aceitando as transformações e buscando compreender as mudanças no mundo e na sociedade a fim de, não apenas me enquadrar na moldura que um sistema viciado e falido me impõe mas de estimular e trazer à tona minha capacidade crítica e analítica que não é apenas uma exclusividade minha, pois todos os seres humanos possuem, mesmo com suas diferenças e particularidades, essas capacidades.

Hoje, faço parte de uma organização partidária que contribuiu e contribui muito para a jovem democracia brasileira: o Partido dos Trabalhadores (PT). Após anos de estudos e formação acadêmica, política, social e cultural, percebo que sou incapaz de falar por todos que comigo compartilham (em parte) ideias, práticas e teorias. Não acredito em verdade absoluta, pois cada um constrói sua própria verdade e formas de analisar e compreender os fatos. O que acredito é na contribuição que damos às reflexões do outro, talvez essa seja uma das características de um partido político – por mais que afinemos nossas ideias, ainda teremos muito que afinar.

Estamos prestes a completar uma “trilogia” (eleições 2014, 2016 e 2018) que simboliza e simbolizará a atual conjuntura que nosso partido e consequentemente todos nós encontraremos ao fim dessa jornada. Digo “fim”, pois batalhas vêm e vão, mas a luta continua. É realmente de se espantar o ódio pelo qual todos nós estamos sendo alvos, ao que pese não é impróprio, principalmente para nós que escolhemos o lado dos trabalhadores, operários, pobres e proletariados nessa empreitada. Estamos sendo vítima de nada mais que, a tentativa de massacre burguês que sempre nos perseguiu durante toda a história. Basta olhar para a situação de toda a América Latina, continente explorado, não povoado e sempre colocado abaixo pelo eurocentrismo impiedoso.

Acontece que o tempo nos deu o PED, grande arma para enfrentarmos o que está por vir. Pois é, em nosso do caminho tem um PED, ou seja, um momento para que possamos tomar fôlego e recuperar nossas forças na unidade popular. O momento é de deixarmos de lado todo nosso projeto pessoal de poder, alimentado por egos exacerbados e nos juntarmos para que possamos, através de nossa própria autocrítica, olhar nos olhos da base, do povo, da população a fim de reconstruir não um partido mas um projeto que deverá deixar de lado a ânsia pelo poder e fortalecer o exército operário e oprimido, que cada vez mais necessita de nossa estrela.

O Partido dos Trabalhadores, fundado em 1980, aguerrido, vermelho, unificado se confundiu e foi contaminado no decorrer do processo pelo vício do capitalismo, pela falsa liberdade do liberalismo e pela falta de clareza do Socialismo Democrático que rege nosso estatuto. O PT, maior instrumento das massas na América Latina, palanque de trabalhadores, negros, artistas, jovens, entre tantas outras classes de oprimidos sociais, deixou se seduzir pela ilusão de um poder legítimo, mas fantasioso. Um risco natural para quem protagoniza uma frente popular de esquerda e caminha na contramão do capital.

Há pouco tempo, fui chamado de demagogo, ingênuo e tantos outros rótulos e “qualificações” empregadas por um ou outro companheiro (a). O engraçado é que exatamente no momento em que colocamos a verdade que realmente acreditamos em nossas palavras levamos pra casa as “qualificações” que nos são postas e afirmadas. Isso não me abateu, pois não digo o que digo com o intuito de poder. Hoje mais do que nunca entendo que o poder dentro de um sistema desigual é um arriscado meio para se conseguir transformar uma sociedade. Uma armadilha para os egos. Não que não seja importante, mas entendo não ser o principal foco. Isso foi provado nos governos que estivemos à frente e, mesmo com os avanços sociais, nos distanciamos das bases e acabamos (mesmo que por omissão) permitindo a alienação política da população, o que nos custou um golpe descarado, desleal e baixo dos que sempre buscaram nos massacrar.

O Partido dos Trabalhadores tem sua democracia interna e flexível a ponto de acatar a existência de diversas tendências que mais se parecem minipartidos dentro do PT. É algo admirável o momento em que esses mesmos grupos tenham a maturidade e compreensão que uma estrela brilha acima deles. A estrela do partido em que cada um de nós preencheu e assinou uma ficha, ciente de um programa estatutário e das bandeiras defendidas. Tendências não devem tirar a capacidade crítica e analítica dos militantes petistas, pois assim estarão limitando a construção de políticas que realmente atendam ao povo. Tendências não devem entrar nas vicissitudes do poder, pois fazer política (assim como nos últimos tempos tenho ouvido) não é apenas disputar poder, mas debater ideias para se construir caminhos.

Eu, Danilo Nunes, sou militante do Partido dos Trabalhadores e não respondo a tendências, mas ao partido. Discuto com todos (as) com o objetivo de formatar nossos projetos políticos. Cada bairro, cada cidade, cada Estado, cada região têm suas particularidades, sendo assim fica inviável eu simplesmente acatar uma regra imposta por direção de tendência, mas sim construir a direção do partido em conjunto com os (as) companheiros (as).

Parlamentares e qualquer outro companheiro (a) com cargo político de representatividade popular devem se lembrar da palavra “popular”, pois ao mesmo tempo que os (as) colocamos, nós os (as) tiramos, ou o sistema se encarrega de engolir e não estaremos mais lá.

Acredito sim que seja hora de o PT mudar, mas quem muda somos nós e a partir dessas transformações modificamos as estruturas partidárias. É hora de não sermos mais “gado” ou “massa de manobra”. O momento é de tomarmos as rédeas do partido e iniciar o protagonismo das bases petistas. A força está com a gente, com a maioria. A minoria fomos nós que construímos. A minoria e a cúpula são obras nossas, é fruto de nosso trabalho. Nós, a base popular do Partido dos Trabalhadores. Não seguirei e acredito que todos nós não devamos seguir ordens, mas sim orientações que, em conjunto com nossas ideias, criam as ferramentas necessárias para o reposicionamento de nossa estrela.

É necessário desde já criarmos condições para a formação de nossos militantes, pois somos nós que revolucionaremos e transformaremos o sistema através dos braços e organizações geradas no ventre do PT, mas inseridas na sociedade com o objetivo de estabelecer uma linha eficiente de comunicação popular, utilizando e nos apropriando das velhas e novas ferramentas para que consigamos canais de envio e recebimento de informações e conteúdos.

Encontrei, por meio dessas palavras redigidas, falar o que não conseguiria nos três minutos que nos são dados em cada reunião, esperando ter me feito compreender. Escolhi o meu lado: sou do PT, sou vermelho e sou mais um soldado nessa luta histórica por justiça social.

Onde impera o capital, a democracia é decorativa e o povo torna-se socialmente, psicologicamente e economicamente escravo dependente de uma “oligarquia de produção”, onde, através dos instrumentos de dominação em massa, os “sangues azuis” constroem seus impérios prepotentes e somos nós, operários da sociedade, que protagonizaremos a batalha de derrubada desse sistema que nunca nos representou.

Pela unidade petista, contra as conciliações com golpistas, pelo Fora Temer, pelo Fora Dória, por um PED de debates e engrandecimento de nossa militância, por um PT de todos nós e pelas bandeiras daqueles que são oprimidos por esse sistema injusto e cruel, estou com vocês.

Por Danilo Nunes, historiador, músico, ator e pesquisador filiado ao PT de Santos (SP), para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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