De cachaça a café: MST mantém Armazém do Campo sem agrotóxicos
Mercado do MST oferece produtos orgânicos de assentamento e de pequenos produtores . A intenção: propagar ideal de consumo consciente e de justiça no campo
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Livres de agrotóxicos, vindos de pequenos e médios produtores e com preços justos. Esses são os alimentos disponíveis no Armazém do Campo, aberto no bairro de Campos Elíseos, região central de São Paulo, pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em junho de 2016. Hoje, o mercado já faz parte do cotidiano do bairro e da capital paulista.
São mais de 700 produtos que vêm, principalmente, dos Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País. Mas há também, de forma menos constante, os originários do Nordeste.
Entre os produtos estão derivados do leite, café, mel, geleias, arroz, feijão, achocolatados, cereais matinais, cervejas artesanais, verduras e legumes. Todos são provenientes de assentamentos sem-terra, cooperativas, agricultura familiar e de empresas parceiras, com produção orgânica e agroecológica.
Como boa parte é entregue de forma direta – ou seja, sem atravessador -, os itens costumam chegar bem mais baratos ao consumidor final que em mercados do tipo da capital paulista.
O quilo do arroz orgânico agulhinha polido, por exemplo, é vendido a R$ 4,75; o litro do leite integral vindo do oeste de Santa Catarina custa R$ 3,50.
“Nós diminuímos o caminho até o consumidor. Os orgânicos daqui costumam ser mais baratos que em outros mercados. O nosso preço é justo”, afirma Rodrigo Teles, gerente do Armazém do Campo.
Além das centenas de produtos, há também um espaço que oferece cafés orgânicos do sul de Minas Gerais, salgados e doces frescos. Destacam-se as empanadas de queijo com cebola, escarola, palmito e frango.
“Há muitos vegetarianos que frequentam o espaço, então sempre oferecemos opções vegetarianas e veganas diferentes. Hoje, são os docinhos”, diz a atendente Tainá Bezerra.
Tainá é do Levante Popular da Juventude. Quando soube da criação da loja, se encantou com a proposta, enviou currículo e foi selecionada. Ela não é exceção. Boa parte dos funcionários é próxima das lutas de esquerda e dos sem-terra.
De todo o Brasil
Os produtos percorrem centenas de quilômetros para chegar à loja. Todos os tipos de arroz, por exemplo, são de uma cooperativa do MST de mais de 500 famílias da Grande Porto Alegre. Os cooperados organizam todas as etapas, da plantação ao desenvolvimento da embalagem e a venda.
“A cooperativa do arroz pertence a famílias assentadas na década de 1990, que começaram a produzir orgânicos sem nenhuma assessoria em 1999. Hoje, 18 anos anos depois, ela é a maior cooperativa de produção de arroz da América Latina”, conta o gerente.
O suco de uva é também produzido por assentados gaúchos do MST, desta vez de Veranópolis (RS), na Serra Gaúcha. De uma cooperativa de assentados do extremo oeste de Santa Catarina costuma vir os produtos derivados do leite.
Por sua vez, o açúcar mascavo vem do Paraná e do sul de Minas. Já as cachaças são produzidas nos interiores de São Paulo e Minas Gerais. “E todas as cachaças são de grande qualidade”, diz Teles.
Por serem produtos mais perecíveis, os produtores de hortifruti costumam ser de cidades como São José dos Campos, Campinas, Atibaia, entre outras do interior de São Paulo.
“É direto do produtor para cá, sem atravessador. O custo fica muito melhor para o consumidor. É importante que, mesmo numa grande cidade como São Paulo, as pessoas tenham acesso aos produtos. Dessa forma, o agricultor consegue se manter na terra”, diz Teles.
Incentivo aos pequenos produtores
Quando o repórter da Agência PT visitou o local, a atriz Chris Couto, que ficou conhecida nacionalmente como VJ da MTV, era uma das clientes que comprava produtos no local. Ela mora perto do Armazém do Campo e é antiga defensora do consumo de orgânicos.
“Eu uso produtos orgânicos há muito tempo. As pessoas estão se importando cada vez mais com isso e procurando os produtos que fazem menos danos à saúde. Além de tudo, é uma maneira de a gente incentivar os pequenos produtores. Senão eles somem…”, afirma.
Outro cliente, o professor João Alves Pacheco havia saído do bairro de Vila Mariana, a mais de 11 quilômetros de carro dos Campos Elíseos, para fazer as compras da semana. Dessa vez, estava especialmente interessado nas cachaças orgânicas e artesanais, principalmente uma com nome sugestivo: Cubana, produzida no interior de Minas.
“Eu gosto da variedade de cachaças do Armazém. Eu geralmente pego a Cubana e a Veredas. Minha mulher também adorou o café daqui. Agora tenho que comprar café só aqui. Hoje vim buscar verduras e frutas, mas pegarei mais uma cachacinha… E o café”, conta o professor.
Além disso, João elogia também a manteiga, o requeijão, os tomates e o óleo orgânico. Para ele, é interessante que haja uma loja como a Armazém do Campo, e criticou o abuso de agrotóxicos nos produtos encontrados em mercados tradicionais.
“O pessoal abusa de defensivos. Eu tenho receio de comer várias frutas. Por exemplo, morango eu não como mais pela quantidade de defensivos usados. É muito legal ter um lugar que forneça orgânicos vindo de pequenos produtores. Passo aqui sempre que posso.”
Música no Armazém
O horário de funcionamento do Armazém do Campo é de segunda à sábado, das 8h às 19h. Exceção feita às sextas, quando há o projeto Música no Armazém. São apresentações musicais gratuitas ao público de diferentes estilos: sertanejo à moda antiga, samba, entre outras vertentes da música popular do Brasil.
“O Armazém passou a ser também um espaço cultural. Todos os artistas são voluntários e até mesmo clientes se dispõem a cantar”, afirma Teles.
Há também um espaço para a venda de livros ligados ao MST e às lutas de esquerda no Brasil e no mundo.
“O movimento faz luta política, sim. Faz luta pela terra. Mas o Armazém da Campo é uma forma de mostrar que a nossa luta também chega à sociedade”, finaliza Teles.
Serviço
Armazém do Campo
Alameda Eduardo Prado, 499 – Campos Elíseos, São Paulo – SP
Aberto de segunda à sábado, das 9h às 19h
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Por Bruno Hoffmann, para a Agência PT de Notícias