Demora de países em cortar juros pode precipitar crise global, alertam especialistas
Enquanto BC brasileiro ameaça subir a taxa Selic, nos EUA economistas cobram cortes nos juros para conter risco de recessão. “Os players do mercado estão preocupados que os bancos centrais possam, mais uma vez, estar atrasados”, adverte ex-presidente do banco central do Chipre
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As oscilações dos mercados globais desde o final da semana passada revelam que o sistema financeiro mundial apresenta, mais uma vez, fragilidades que não devem ser desprezadas no horizonte econômico de médio e longo prazo. Na segunda-feira (5), a bolsa de Tóquio teve a maior queda da história (-12%), diante de um temor de que a economia americana possa entrar em colapso. As bolsas europeias também caíram. Em meio à demora do banco central americano em cortar a taxa de juros nos Estados Unidos, especialistas temem um processo que poderá levar o mundo a uma recessão, aos moldes da crise que devastou os mercados em 2008.
Economistas americanos defendem a necessidade de um corte mais rápido na taxa de juros, atualmente fixada entre 5,25% e 5,50% ao ano, o mais alto patamar da história dos Estados Unidos. No Brasil, o Banco Central – cuja ata do Comitê de Política Monetária divulgada na terça-feira (6), tornou-se obsoleta, dada a mudança no cenário americano – vai no caminho oposto e ameaça subir a já exorbitante Selic, estabelecida em 10,50%.
Em declaração à Sputnik Brasil, o ex-presidente do Banco Central do Chipre Panicos Demetriades advertiu que a lentidão dos bancos centrais em calibrar os juros na Europa e nos Estados Unidos, reduzindo o arrocho monetário dessas economias, pode precipitar uma contaminação sistêmica de proporções bíblicas. “Os players do mercado estão preocupados que os bancos centrais possam, mais uma vez, estar atrasados”, disse Demetriadas, na terça. “Eles estão sendo muito lentos em cortar taxas em meio ao enfraquecimento das condições econômicas e ao aumento das incertezas geopolíticas”, alertou o economista.
“Dizimação massiva da classe média”
O economista suíço Claudio Grass faz alerta similar. “Podemos ver tendências claras, diga-se, de que os riscos sistemáticos no atual sistema financeiro e monetário estão aumentando e um cenário de 2008 pode se repetir a qualquer momento”, observou Grass, também ouvido pela agência Sputnik.
O economista aponta que o atual modelo financeiro tem provocado impactos negativos profundos na força de trabalho tanto americana quanto europeia. “Já estamos testemunhando uma dizimação massiva da classe média, particularmente nos Estados Unidos e na Alemanha nos últimos 18 meses”, complementou.
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De fato, o remédio administrado via taxa de juros tem sido mais do que amargo sobre a força de trabalho dos Estados Unidos. Na última sexta (2), a ducha de água fria dos números sobre o emprego azedou o humor do mercado. Ao invés dos 185 mil postos de trabalho esperados para julho, o país gerou apenas 114 mil vagas. Trocando em miúdos, os juros do FED, o banco central americano, estão deprimindo a atividade econômica.
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Após a queda das bolsas da semana passada, e com uma provável mudança de rota na política monetária americana, o Banco Central brasileiro perde parte de sua justificativa para manter o arrocho no país, já que uma queda da taxa básica nos Estados Unidos deve resultar em um recuo do dólar no Brasil. Até a mídia corporativa foi obrigada a reconhecer o caráter esdrúxulo da ata divulgada na terça-feira.
“A ata virou passado quando os mercados desabaram na sexta-feira“, atesta o jornal Valor. “O temor de uma recessão nos Estados Unidos, disparado por estatísticas de aumento do desemprego e baixa criação de vagas, o motivo principal das turbulências, poderá levar o Fed a antecipar o corte de juros ou a fazer um corte maior”, avalia o jornal.
Em meio a incertezas, agentes do mercado passarão a observar com mais atenção o comportamento da economia americana, com um olho no mercado de trabalho e outro nas ações das empresas de tecnologia, em especial as companhias de Inteligência Artificial.
Enquanto isso, no Brasil, o capital financeiro segue emitindo sinais, por meio de seu maior emissário, o bolsonarista entrincheirado no Banco Central, de que a abusiva taxa de juros em curso hoje pode não ser suficiente para enquadrar o governo Lula à agenda da Faria Lima: o lucro imediato às custas do suor do trabalhador. Não à toa, o caminho de reversão da queda da Selic já começou a ser pavimentado.
Da Redação, com Sputnik Brasil e Valor