Desmonte do SUS deve causar 50 mil mortes precoces no Brasil até 2030

Óbitos evitáveis estão ligados com congelamento de investimentos em Saúde, apontou estudo da UFBA em colaboração com Stanford e Imperial College de Londres

Danilo Ramos/Arquivo Rede Brasil Atual

Aumento de mortalidade está associado com sucateamento de política que prioriza a promoção da saúde e prevenção de doenças

Mortes precoces devem aumentar 8,6% no Brasil até 2030, causadas, principalmente, por doenças infecciosas e deficiências nutricionais em pessoas com até 70 anos. O número equivale a um aumento de quase 50 mil óbitos considerados evitáveis, como aponta um levantamento do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), em colaboração com pesquisadores da Universidade de Stanford e do Imperial College de Londres.

A mortalidade estimada pelo estudo está diretamente associada com o desinvestimento na Atenção Primária à Saúde (APS), política que prioriza a promoção da saúde e prevenção de doenças. O levantamento também avalia um aumento das desigualdades sociais ao afetar, principalmente, a população negra e pobre do país.

Publicada na BMC Medicine, uma das principais revistas médicas do mundo, a pesquisa estima as consequências do desmonte no Sistema Único de Saúde (SUS) em 5.507 municípios brasileiros desde a aprovação da Emenda Constitucional 95, como o recuo no programa Mais Médicos. Anteriormente conhecida como PEC do Teto dos Gastos Públicos, a medida de austeridade fiscal foi assinada em 2016 pelo então presidente Michel Temer (MDB) e condiciona, por 20 anos, o investimento público em Saúde ao reajuste da inflação.

A Estratégia Saúde da Família (ESF) é um dos principais programas de Atenção Básica e promove qualidade de vida para milhões de pessoas. Implementado em 1994, o programa se fortaleceu com a atuação do Mais Médicos em áreas de difícil acesso e com populações mais vulneráveis. No entanto, a provável extinção do programa, estimulada pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), deve deixar o cenário ainda mais catastrófico, já que as localidades mais pobres serão as mais prejudicadas, conforme apresenta o levantamento divulgado na última sexta-feira (26).

Segundo os pesquisadores, apesar de direcionado ao Brasil, o estudo é um alerta para todos os países de baixa e média renda. A projeção analisa dados de 2017 a 2030, ano limite para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). O desmonte da saúde pública vai na contramão das 17 metas globais, que incluem a garantia de uma vida saudável e de bem-estar para a população através da redução das taxas de mortalidade.

Se considerados os óbitos infantis, em menores de cinco anos, o número sobe para quase 100 mil até 2030, conforme outra pesquisa dos estudiosos, que será publicada em breve. Entretanto, a projeção das consequências ainda é parcial, já que não inclui os óbitos em maiores de 70 anos, por exemplo.

Por Brasil de Fato 

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