Dilma: sequelas da ditadura e da escravidão viabilizaram Bolsonaro

Presidente eleita participou do 1º Encontro Mundial do Pensamento Crítico do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais da Argentina, nesta segunda (19)

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Dilma Rousseff durante o 1º Encontro Mundial do Pensamento Crítico

“Quando não se julga o processo de terrorismo do estado, e no Brasil não foi julgado, as sequelas da ditadura permanecem, como permaneceram as sequelas de mais de 300 anos de escravidão, que sempre teve a violência como o método principal de controle social. Com isso emerge a extrema direita. Era inimaginável que ela ganhasse um processo eleitoral. A interdição do Lula viabiliza essa vitória”.

A declaração da presidenta eleita Dilma Rousseff foi feita no 1º Encontro Mundial do Pensamento Crítico na Argentina, realizado entre esta segunda (19) e sexta-feira (23) e contará ainda com a participação do candidato do PT, Fernando Haddad, do prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, do ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica, da ex-presidenta da Argentina Cristina Kirchner e do coordenador do MTST, Guilherme Boulos.

Dilma participou do painel de Democracia, Cidadania e Estado de Exceção promovido, pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, e falou sobre as etapas do golpismo e a escalada do fascismo no Brasil. 

Para a presidenta, a ascensão dos governos de extrema direita na America do Sul tem como meta realinhar a política externa dos países aos interesses dos Estado Unidos. “Quem venceu as últimas eleições está de costa para a América Latina. Nos nossos governos, os países da América Latina eram fundamentais. A solidariedade entre os países era fundamental”, apontou Dilma.

Ainda segundo a presidenta, o golpe parlamentar de 2016 foi a primeira etapa da destruição da democracia brasileira ao colocar Michel Temer (MDB) na Presidência. Com ele, um estado de exceção teve início com a retirada de direitos dos trabalhadores e a prisão sem provas de Lula. A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) representa, segundo Dilma, o aprofundamento da crise democrática”.

“O Brasil entrou em uma rota trágica porque nós corremos hoje o risco de sair de vez da democracia, e mesmo do estado de exceção em que estamos para um estado neoliberal e neofascista”, destacou Dilma.

A lei como suporte do golpe

Dilma lembrou também que o golpe de 2016 inaugurou uma nova forma de sabotar as democracias latino-americanas ao usar o aparato legislativo e jurídico dos países. Segundo a presidenta, o seu impeachment sem a ocorrência de um crime de responsabilidade evidencia a estratégia estabelecida pelo capital internacional.

“Sofremos em 2016 um golpe sem crime de responsabilidade e sem o cumprimento do padrão legal mínimo da Constituição Federal, não para combater a corrupção. O golpe ocorreu para reenquadrar o Brasil ao neoliberalismo, do qual os países latino-americanos tinham se afastado com os governos progressistas, combatendo a desigualdade de forma sistemática e constante”, explicou.

A presidenta também apontou a condenação, sem provas, do ex-presidente Lula como a etapa final do golpe no Brasil. “O golpe prendeu e impediu Luiz Inácio Lula da Silva de participar das eleições. As pesquisas mostravam claramente que se ele participasse do processo eleitoral ele ganharia. Então, o estado de exceção se completa com várias medidas que usa a própria lei como um biombo. Retirou-se a presunção da inocência e não se respeitou o devido processo legal. Isso viabilizou uma candidatura que convive com a herança da ditadura e da escravidão”, aponta.

Por fim, Dilma reforçou a luta e a resistência contra o ataque a democracia brasileira e lembrou que o PT, apesar de todos os ataques sofridos, elegeu a maior bancada da Câmara e o maior número de governadores nas Eleições 2018. “Não basta ganhar ganhar eleitoralmente, eles querem a nossa destruição. Não só do partido, mas também das conquistas dos movimentos sociais, como o MST que tem uma importância imensa no Brasil na luta pela terra e o MTST na questão de acesso à moradia. Nós temos de resistir ao neoliberalismo e o neofascismo”, finalizou a presidenta.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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