Dilma: Temer diz que chantagem é normal e ninguém noticia
Na Howard University, Dilma afirma que declaração dada em entrevista enseja a caracterização de desvio de finalidade do impeachment
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No dia em que completa um ano da histórica e infame votação da admissibilidade do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, a presidenta eleita Dilma Rousseff aproveitou o debate sobre os desafios da democracia no Brasil, na Howard University, em Washington, nos EUA, para abordar a admissão de Michel Temer em rede nacional do papel de Eduardo Cunha na articulação do golpe.
Em entrevista exibida no sábado (15) pela Band, Temer assumiu que Cunha só aceitou o pedido de impeachment porque o PT teria se recusado a dar os três votos no Conselho de Ética da Câmara que permitiriam sua absolvição e preservação do mandato parlamentar.
Disse Temer: “Se o PT tivesse votado nele naquele comitê de ética, seria muito provável que a senhora presidente continuasse”. À época, o Conselho apurava quebra de decoro do então deputado no caso de suas contas na Suíça.
Nos Estados Unidos, Dilma mencionou a entrevista em questão e declarou: “Em qualquer lugar do mundo essa é uma declaração que enseja a caracterização de desvio de finalidade do impeachment. Um presidente aceitando que é normal a chantagem e que, se nós tivéssemos acedido a ela, eu manteria a Presidência”.
“É impossível um Presidente da República dizer uma coisa dessas. Se mais não fosse, porque aceitar chantagem é incompatível com um regime democrático e com a ética – e especialmente uma chantagem desse tipo: ‘Vamos salvar uma pessoa que não deve ser salva para poder ficar no governo’. Ele (Temer) estava em parceria com esse senhor (Cunha), e visivelmente a imprensa não noticiou”, completou.
Durante o debate, Dilma ressaltou a necessidade de uma maior liberdade de imprensa e lembra os dois golpes sofridos – o da ditadura militar e o parlamentar. “Participo da vida política do Brasil desde 1963 e, infelizmente, assisti, vivi e sofri dois golpes de Estado. Eu sei o valor da democracia e o quanto a população ganhou com ela.”.
Para a presidenta eleita, os governos do PT incomodavam a elite brasileira porque sempre olharam pelo povo brasileiro e interromperam a agenda neoliberal que vigorava desde a era Collor.
“Os pobres estavam há muito tempo fora do Orçamento, estavam segregados politicamente, economicamente e do ponto de vista racial. Os direitos das mulheres também sempre foram deixados de lado”, conta.
Dilma relembra que, durante o seu governo, o Brasil reduziu a desigualdade: 36 milhões de brasileiros saíram da pobreza e o número de médicos passou de 1,8 para 3 médicos por mil habitantes. Além disso, no final de 2014, o Brasil registrou uma das menores taxas de desemprego do país.
“A redução da desigualdade sempre incomodou. Uma das coisas que mais irritava era os pobres e negros passarem a conviver com a elite branca em aeroportos e eles não gostarem, dizerem: lá vem esse governo fazendo isso”, lembra.
Com o golpe, o usurpador Michel Temer tem caminhado justamente na contramão da igualdade e da preservação dos direitos. Para a presidenta eleita, “é uma vergonha fazer uma reforma no seu país que tira direitos consagrados e aumenta a diferença social”, diz Dilma em relação ao desmonte da Previdência.
Dilma ainda completa que o discurso golpista é misógino e elitista e ressalta que a democracia exige reforma do sistema político e não há democracia sem política, mas esta significa não pensar nos seus interesses, e sim nos de seu país.
“Deve haver uma reforma precípua para garantir que o país tenha um sistema político. Porque o sistema incentiva o fisiologismo, a troca de cargos e benesses. E, quando você não quer entrar nesse jogo, você é inflexível, tem pouca habilidade política, é muito dura, e é também chata”, pontuou.
Da Redação da Agência PT de Notícias