LGB Internacional se separa do LGBTQIA+ e gera reação de entidades no Brasil

“Nos últimos dias, o anúncio do grupo ‘LGB Internacional’ reacendeu um velho truque político: dividir para enfraquecer”, afirma Janaína Oliveira, secretária Nacional LGBT do PT

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Janaína Oliveira: “Nos últimos dias, o anúncio do grupo ‘LGB Internacional’ reacendeu um velho truque político: dividir para enfraquecer”

O anúncio de criação do movimento “LGB Internacional”, em 19 de setembro, acendeu um alerta entre organizações de defesa dos direitos LGBTQIA+. O grupo declarou que pretende se dissociar do movimento original, atuando apenas em pautas ligadas à orientação sexual com base no sexo biológico, excluindo debates sobre identidade de gênero, o que abrange pessoas trans, travestis e não bináries.

De acordo com o manifesto do movimento, a união entre as letras LGB e as pautas trans seria “prejudicial”, pois, segundo o grupo, apagaria o debate sobre orientação sexual.

Entre as bandeiras assumidas, estão a oposição a tratamentos médicos de transição, sobretudo na infância, e restrições ao uso de banheiros e à participação esportiva conforme a identidade de gênero. A organização também rejeita a autodeterminação de gênero e defende que o reconhecimento de pessoas trans prejudicaria “as mulheres”.

Para especialistas e lideranças sociais, essas ideias integram um ecossistema antigênero global, que busca deslegitimar avanços em direitos humanos conquistados por pessoas LGBTQIA+.

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“Dividir para enfraquecer”

A secretária Nacional LGBT do PT, Janaína Oliveira, também reagiu ao anúncio. Para ela, o “LGB Internacional” repete uma velha tática política de desmobilização. “Nos últimos dias, o anúncio do grupo ‘LGB Internacional’ reacendeu um velho truque político: dividir para enfraquecer”, afirmou.

Segundo Oliveira, o discurso do novo movimento é uma reedição do ideário antigênero da extrema direita, “disfarçado de representatividade”.

Ela ressaltou que a luta por igualdade sempre se sustentou na solidariedade entre as diferentes identidades. “Não há liberdade possível quando parte da nossa comunidade é deixada para trás. A história do movimento LGBTQIA+ prova que nenhuma letra se sustenta sozinha e que a força da diversidade está justamente na solidariedade entre nós. Romper essa aliança é trair a nossa própria luta.”

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Reação no Brasil

No Brasil, o movimento foi repudiado por entidades e lideranças da comunidade. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) classificou a iniciativa como “segregacionista” e alertou para os riscos de marginalização de pessoas trans.

“Este levante que tenta legitimar a segregação de pessoas trans deve ser rechaçado com firmeza, pois é conduzido por agentes externos à nossa luta, sem vínculo com movimentos sociais legítimos, que buscam difundir pautas alinhadas à extrema-direita e à agenda antigênero”, afirmou Bruna Benevides, presidenta da ANTRA.

Segundo Benevides, a tentativa de cisão é uma estratégia para enfraquecer o movimento. “Diante desse movimento de ódio e desinformação que tenta criminalizar e marginalizar nossas existências, é urgente que a comunidade LGBTQIA+ e toda a sociedade se unam em defesa da vida, dos direitos humanos e da centralidade das pessoas trans na luta por justiça e igualdade.”

Unidade como resistência

A reação ao “LGB Internacional” reforçou a importância da unidade entre lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e demais identidades de gênero e sexualidade. Entidades como a ANTRA e movimentos de paradas LGBTQIA+ em várias cidades destacaram que a resistência às perseguições e retrocessos depende da manutenção de uma agenda coletiva.

Para as lideranças brasileiras, qualquer tentativa de dividir o movimento apenas favorece a retórica discriminatória e enfraquece conquistas históricas. A defesa da vida e da dignidade das pessoas trans, afirmam, deve permanecer no centro da luta por justiça e igualdade.

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Da Redação

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