Em Brasília, 200 mil manifestantes ocupam a Esplanada contra o golpe
Milhares de pessoas marcharam do Estádio Mané Garrincha até o Congresso Nacional em ato em defesa da democracia
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No maior ato do dia, mais de 200 mil pessoas reuniram-se em Brasília, DF nesta quinta-feira (31/3) para protestar contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Os números são dos organizadores dos atos, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Trabalhadores, famílias, estudantes e movimentos sindicais e sociais se concentraram desde 6h da manhã em frente ao estádio Mané Garrincha e depois marcharam até o Congresso Nacional.
O ato – Jornada Nacional em Defesa da Democracia – durou o dia todo. Com gritos de “Não vai ter golpe, vai ter luta” e “Fica, Dilma”, os manifestantes faziam questão de ressaltar que haverá resistência contra a tentativa de tirar a presidenta do governo. O grupo estendeu uma longa faixa no Eixo Monumental com a mensagem “não vai ter golpe” e a a frase “Fora Cunha”, em alusão ao presidente da Câmara dos Deputados, foi projetada nos prédios do Congresso Nacional. Havia também faixas de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Emocionada com o ato, professora Mariana Holanda trouxe seu filho, Caetano (6), para que desde cedo ele possa aprender e entender como é a força de um “coletivo em luta”. Segundo ela, é só na prática que o filho vai entender como é lutar pelos seus direitos. “É lindo ver isso aqui. A gente não vê isso pela mídia, só vindo aqui para entender que nós somos um coletivo enorme, muito forte e diverso. Tem todo tipo de gente, classe social, trabalhador”, afirmou à Agência PT de Notícias. “Meu filho tem que crescer sabendo que a gente tem que resistir ao discurso que está posto por aí, e é só na prática que ele vai entender isso”, ressalta.
O professor da Universidade de Brasília (UnB), Everaldo Costa, fez questão de estar na manifestação para defender os ideais democráticos do país e acredita que os avanços sociais no Brasil nunca foram tão grandes na história do século 20. “Nos últimos 13 anos, o governo trouxe possibilidades de vida e sobrevivência nas periferias urbanas, no campo como nunca houve no país”. Costa se mostra preocupado com o momento histórico: “Temos um golpe induzido contra a presidenta e é impossível que nos calemos neste momento. A massa, que está aqui hoje, representa um povo que reconhece os avanços dos últimos anos. Só uma pequena burguesia para não reconhecer tudo que nós tivemos de avanço. O impeachment representa um retrocesso do ponto de vista democrático”, explica o professor.
Jean Carmo, pedagogo, diz que vivemos um momento crucial para o país e que é preciso resistir para que não corrermos o risco de um “golpe de estado praticado tanto pelo judiciário como pela grande imprensa” chegue no governo. “Nosso governo, nesses últimos anos, tem obtido grandes conquistas para a população do nosso Brasil. Não podemos deixar que um golpe aconteça e prejudique, em primeiro plano, os trabalhadores. Hoje foi uma grande demonstração de que vai ter resistência e não vai ter golpe no Brasil”, afirma.
Participaram militantes independentes e também membros de movimentos sociais de diversos estados do Brasil: Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Espírito Santo. Havia bandeiras da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Frente Nacional de Luta (FNL), Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (Contag), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), União da Juventude Socialista (UJS), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e de diferentes sindicatos.
Em defesa da democracia
Atos em defesa da democracia aconteceram em todos os estados do Brasil nesta quinta-feira e em outros 23 países.
Pela manhã, aconteceu também em Brasília o Encontro de Intelectuais e Artistas em Defesa da Democracia. A presidenta Dilma criticou a tentativa de golpe contra a democracia brasileira, lembrando que o golpe é chamado por vários “nomes” desde 1964. “Para cada momento da história o golpe assume uma cara. Em 64 foi a forma militar. Agora está havendo a ocultação do golpe com processos aparentemente democráticos. Se no passado chamaram de revolução, hoje tentam dar um colorido democrático a um golpe porque não tem base legal para ser feito”, criticou a presidenta. Participaram a cantora Beth Carvalho, os atores Osmar Prado, Letícia Sabatella e Sérgio Mamberti, os escritores Raduan Nassar e Fernando Morais e a cineasta Anna Muylaert.
Por Danielle Cambraia, da Agência PT de Notícias