Engenheiro denuncia perseguição política na Eletrobras

Ikaro Chaves enfrenta processo de demissão por justa causa por se manifestar contra a privatização da empresa. Sindicalistas, movimentos sociais e parlamentares do PT manifestaram apoio ao trabalhador

Arquivo pessoal

Chaves: “Caso a empresa não recue, estamos prontos para questionar judicialmente”

Acusado de ferir o código de ética da Eletrobras por se posicionar contra a privatização, o engenheiro eletricista Ikaro Chaves, que recebeu dia 14 de julho um comunicado de abertura de processo de demissão por justa causa, denunciou o clima de perseguição dentro da empresa. Ele trabalha há 16 anos na Eletronorte, subsidiária da Eletrobras.

“Está um clima de terror dentro da empresa, a perseguição política é grande, muitos funcionários estão com medo de se manifestar. Não estamos mais nessa época, o tempo do autoritarismo passou, nós o derrotamos nas urnas”, disse Ikaro ao denunciar que a abertura do processo de demissão é mais uma etapa de um esquema de intimidação existente na empresa.

“Trata-se de uma vingança. Já tinham mandado vários recados para mim, para eu parar de falar demais e parar de escrever demais. Como não me curvei às intimidações, eles cumpriram as ameaças. Sabemos que outros profissionais estão recebendo as mesmas ameaças, são recados que chegam. Esse processo de demissão é mais um recado”, denunciou o engenheiro.

Apoio

Dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas Eletricitários no Distrito Federal (STIU-DF) fizeram ontem (17) em Brasília um protesto em solidariedade a Ikaro, que é diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel). Além das lideranças sindicais e eletricitários, estiveram presentes representantes do Movimento dos Atingidos por barragens (MAB), da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Vários parlamentares já se manifestaram em apoio a Ikaro, entre eles os deputados Alencar Santana (PT-SP), João Daniel (PT-SE), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Reimont (PT-RJ), Orlando Silva (PcdoB-SP), Glauber Braga (Psol-RJ) e Jandira Feghalli (PCdoB-RJ).

“Foi muito bom poder contar com a solidariedade dos companheiros, deputados, partidos políticos, centrais sindicais. É um apoio muito importante para encarar esse processo de perseguição e também para servir de alerta para a empresa porque ela não pode continuar perseguindo seus funcionários”, destacou Ikaro, que está finalizando a defesa junto com os advogados do sindicato.

“Caso a empresa não recue, estamos prontos para questionar judicialmente”, salientou o engenheiro que atua na área de manutenção de subestações, tem excelente pontuação no sistema de avaliação de desempenho além de gozar de muito bom conceito entre colegas e superiores.

“Nunca tive problema de relacionamento com ninguém, não tenho nenhuma falta profissional, certamente vasculharam minha vida toda na empresa e, como não podem me acusar de nenhuma falha na atuação profissional, estão apelando para acusação de crime de opinião. Provo cada declaração que dei e cada linha que escrevi”, afirmou Ikaro que foi dirigente sindical por mais de 10 anos e integrou o Conselho de Administração da Eletronorte. Ele tem estabilidade no emprego até abril de 2024 devido a sua atuação sindical e, por lei, só pode ser demitido por justa causa.

Manifesto

O Sindicato do Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Distrito Federal (STIU-DF) publicou nota em defesa de Ikaro e repudiou a postura truculenta e antidemocrática da Eletrobras.

“Parece que a diretoria e o conselho da Eletrobras não sabem que vivemos em uma democracia, que os tempos de escuridão ficaram no passado, e até o governo Bolsonaro, que representa este tempo, também ficou para trás (…) As acusações da empresa contra o engenheiro Íkaro Chaves são vazias e sem consistência e provaremos nas instâncias administrativa, jurídica e política, que é, na verdade, uma perseguição política contra uma liderança comprometida com a reestatização da Eletrobras”, diz o manifesto do STIU-DF que termina com um recado à diretoria da Eletrobras.

“Usaremos todos os mecanismos possíveis para envolver a sociedade organizada, os partidos políticos comprometidos com a democracia e o próprio governo federal na luta contra o autoritarismo ditatorial da Eletrobras Privada (…) O companheiro Íkaro tem a nossa completa solidariedade e o nosso compromisso de lutarmos, com todas as nossas forças, para evitar esse ato insano da diretoria da Eletrobras”.

Durante a sessão de abertura da venda da Eletrobras na Bolsa de Valores em junho de 2022 em São Paulo, Ikaro fez um protesto e foi contido por seguranças.

Da Redação

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