Esposa de Moro abre firma com amigo acusado por Tacla Duran

Juiz não respondeu se ele usa a empresa para receber cachês de suas participações em eventos. Portal da Transparência registra menos da metade deles

Lula Marques

Sérgio Moro

A turma daqueles que faturam com o circo midiático da Lava Jato cada vez aumenta mais. A advogada Rosângela Wolff Moro, esposa do juiz da 13ª Vara de Curitiba, seguiu os passos do marido e abriu para si uma empresa de cursos e palestras. Ela e mais três sócios atuam juntos no ramo desde janeiro.

Detalhes controversos da nova empreitada da Senhora Moro foram revelados nesta quarta (25) por uma reportagem da Agência Pública. A HZM2, cuja principal atividade é “treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”, foi fundada sob um capital social declarado de 20 mil reais.

O nome traz as iniciais dos quatro sócios, todos advogados. Um deles é Carlos Zucolotto Júnior, padrinho de casamento dos Moro e acusado pelo ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, de ter oferecido 5 milhões em troca da facilitação de um esquema de delações premiadas. Outros são Guilherme Henn – sócio de Zucolotto em uma firma de advocacia – e Fernando Mânica.

O endereço registrado como da empresa é o mesmo do escritório Vicente Paula Santos, que, segundo o texto, defendeu procuradores da Lava Jato em dezenas de ações judiciais pelo menos. Também ocupa o mesmo imóvel a firma de Zucolotto.

Rosângela e seus sócios não atenderam a qualquer questionamento da reportagem. Sergio Moro desconversou e não respondeu, por exemplo, se ele usa a empresa da mulher e do amigo para receber cachês de suas palestras feitas no Brasil e no exterior.

O assunto havia vindo à tona no início deste mês pela Folha de S. Paulo, mas foi ofuscado pela repercussão da guerra jurídica pelo habeas corpus de Lula.

Acusa, julga e dá palestras

Em pouco mais de um ano e meio, Moro fez 22 aparições em eventos no Brasil e no exterior. Um por mês em média, segundo o levantamento da Pública. Mas o Portal da Transparência do TRF-4, ainda de acordo com o texto, registra apenas dez desses cursos ou palestras.

Ficou de fora, por exemplo, o convescote que rendeu foto do casal e com João Doria e a mulher em Nova York. Assim como as participações de Moro no Brazil Fórum 2017, em Londres e no Brazil Conference, nos Estados Unidos. A reportagem tentou, mas não conseguiu obter detalhes sobre os cachês e quem eram os contratantes.

Denúncias

A lei não obriga que magistrados revelem o quanto ganharam pela participação nesse tipo de evento, em geral patrocinados por multinacionais de setores distintos que vão do agronegócio à aviação civil. Na prática, essa cortina de fumaça impede que a sociedade saiba quem paga e quais são os interesses de quem os contrata possivelmente por altos cachês.

A participação de magistrados nesse tipo de evento foi denunciada à ONU pela Articulação Justiça e Direitos Humanos (JusDh), uma rede nacional de organizações que lida com ações judiciais em temas de direitos humanos. A entidade se preocupa com o que chama de “capturar” do judiciário por empresas que, por óbvio, têm interesses jurídicos. Na avaliação desses órgãos, a participação de empresas deveria ser proibida.

Da Redação Agência PT de Notícias, com informações de Agência Pública e Folha de S. Paulo.

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