Esquerda salvadorenha propõe aliança estratégica para vencer segundo turno em março
Salvador Sánchez Cerén, da FMLN e Norman Quijano, da direitista Arena, irão se enfrentar novamente em um mês
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A jornada eleitoral desse domingo (02/02) em El Salvador foi considerada pelo partido governante FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) como uma contundente vitória, após obter 10 pontos de diferença para a Arena (Aliança Republicana Nacionalista). O resultado obriga o TSE (Tribunal Supremo Eleitoral) a convocar para 9 de março um segundo turno entre os dois candidatos mais votados – Salvador Sánchez Cerén, da esquerda e Norman Quijano, da direita. Com 99.16% dos votos processados, Sánchez Cerén tinha 48.92% do total, enquanto Quijano, 38.95%.
“O que conseguimos foi uma proeza eleitoral e é o resultado de uma campanha inclusiva, limpa, cheia de propostas e muito criativa. Agora devemos nos unir e ampliar mais as alianças políticas e sociais que já construímos, porque a pior tragédia que pode acontecer a El Salvador é que a ultradireita oligárquica volte ao governo”, afirmou a Opera Mundi Sigfrido Reyes, presidente da Assembleia Legislativa.
Segundo ele, isso inclui uma aproximação com o ex-presidente Elías Antonio Saca e a colizão União, considerada por Sánchez Cerén como uma opção política “que conseguiu se posicionar como a terceira força do país, e expressando um pensamento novo”.
O candidato da FMLN afirmou que a esquerda não deve temer esses acordos. “Não temos maioria parlamentar própria e esses entendimentos políticos são os que nos irão permitir ter governabilidade, para avançar com os programas de transformação”, explicou.
Entre as filas do partido governante, há a certeza de vitória em 9 de março. “Todos os exemplos que tivemos na América Latina nos dizem que, com essa ampla vantagem no primeiro turno, é muito difícil que perdamos na segunda. Antes, ainda vamos ampliar a margem de votos”, concluiu.
O académico e filósofo Carlos Molina Velásquez sublinhou o importante papel desempenhado pelas autoridades eleitorais, que garantiram um processo eleitoral seguro, limpo e sem problemas, onde a vitória da FMLN ganha ainda mais valor. “Apesar de a FMLN não ter conseguido convencer boa parte do eleitorado indeciso, a perspectiva de ganhar no segundo turno é muito boa”, disse.
Para Molina, a Arena deve enfrentar agora o desencanto de seu eleitorado depois desse domingo. Por outro lado, acredita, os eleitores da FMLN ficarão ainda mais motivados e irão querer “votar massivamente, para conseguir o que escapou por escassos 15 mil votos.”
Além disso, é muito provável que o ex-presidente Saca deixe seus eleitores livres para votar em quem quiserem, já que, durante a campanha eleitoral, a Arena e seu candidato, Norman Quijano, desataram uma onda de desprestígio contra ele, após expulsá-lo do partido.
“Para a coalizão União, apoiar a Arena equivaleria a um suicídio político, porque seu objetivo é substituí-la, e capitalizar sua derrota para crescer. Os programas e as políticas sociais poderiam ser elementos onde a FMLN e a União coincidam”, concluiu.
Guerra civil
Professor, sindicalista, comandante guerrilheiro das forças da FMLN, Sánchez Cerén foi um dos artífices dos Acordos de Paz que puseram fim a dez anos de guerra civil em El Salvador. Já Quijano, prefeito da capital salvadorenha, San Salvador, é um político experiente da Arena, partido que, quando esteve no poder (1989-2009), aplicou um modelo neoliberal no país, que privilegiou os interesses de mercado e das grandes empresas nacionais e transnacionais.
Quase cinco milhões (4.955.107) de eleitores foram convocados a participar neste domingo (2) do processo eleitoral em El Salvador. Embora tenha ocorrido atraso na abertura de alguns locais de votação, a eleição aconteceu sem “registro de problemas ou incidentes maiores” segundo o TSE e foi elogiada por observadores internacionais.
O próximo presidente irá substituir Mauricio Funes, primeiro governante eleito pela FMLN após a guerrilha formar um partido. De 1980 e 1992, a guerra civil salvadorenha resultou na morte ou desaparecimento de 75 mil pessoas. Em 1992, com a assinatura dos acordos, a FMLN abandonou as armas e se transformou em partido político.
A campanha da esquerda apostou na continuidade do governo Funes, voltado para o desenvolvimento de programas sociais e no combate à violência, um dos principais problemas em El Salvador. Por outro lado, a oposição, liderada por Quijano, amparou sua campanha nas temáticas da insegurança, violência e militarização da sociedade.
(Opera Mundi)