“Eu sei de onde eu vim e sei para onde vou voltar”, diz Lula
Em assentamento do MST no Sul da Bahia, ex-presidente agradeceu o apoio do MST nos momentos mais difíceis de sua vida e reafirmou a importância do movimento
Publicado em
Na quarta-feira (3), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou o assentamento Lulão do MST, perto de Porto Seguro, no Sul da Bahia.
O assentamento foi criado pelo ex-presidente, em 2005, para atender a reivindicação de cerca de 150 indígenas Pataxó, da aldeia Guaxuma. Eles pediam o direito de viver e produzir em terras desocupadas à margem de uma grande empresa de celulose.
Naquele ano, Lula estava no local para inaugurar a fábrica de celulose, mas foi informado sobre a reivindicação dos acampados, encontrou-se com eles e disse que a causa era justa.
Hoje, 720 famílias vivem no Assentamento Lulão, com 3 escolas, 15 poços artesianos, 2 postos de saúde, 65 km de estrada construída e 9 represas.
Em seu discurso, Lula agradeceu o apoio do MST nos momentos mais difíceis de sua vida e reafirmou que a elite não deve temer a ele, mas sim ao povo que aprendeu que merece viver com dignidade.
“Eu tô aqui porque eu quero morrer sendo testemunha de que valeu a pena a vida de vocês”, falou o ex-presidente, em conversa com os assentados.
No dia anterior, Lula havia participado do lançamento da pré-candidatura de Fernando Mineiro em Natal.
Leia abaixo a íntegra da fala do ex-presidente:
“Eu fico me perguntando: por que eu, um ex-presidente já aposentado, não estou sossegado em casa cuidando dos meus oito netos? E agora eu vou ser bisavô, por que minha neta tá grávida. É porque a vida da gente é motivada pelo que toca na alma da gente. E vocês do MST, a quem eu devo agradecimento e solidariedade profundos, nos momentos mais difíceis da minha vida vocês sempre estavam lá.
Quando eu estava na presidência eu dizia: eu sei de onde eu vim e sei para onde vou voltar. E eu estou aqui com vocês.
Eu lembro das reivindicações de vocês, eu lembro das críticas que a imprensa me fez quando eu disse que o Movimento Sem Terra era um movimento sério e que merecia nosso respeito.
Vocês provaram com o resultado do que fizeram que estavam certos, quando vcs lutavam pelo que queriam.
Eu tô aqui porque eu quero morrer sendo testemunha de que valeu a pena a vida de vocês.
Eu tava conversando com a Sandra (assentada do acampamento Lulão) e ela me disse: Lula, eu tô rica. Mas eu olhei na casa dela e não vi nada de rico. E eu conversei para perguntar por que você fala que tá rica e eu não tô vendo riqueza? Ela largou tudo que ela fazia para virar acampada.
Ela disse: eu tô rica porque tenho 10 hectares, tenho mil galinhas e eu não vendo. Eu dou. Eu não quero ganhar dinheiro com as minhas galinhas.
Eu fiquei pensando: a riqueza não é a mesma para todas as pessoas, tem gente que tem milhões e acha que é rico. Mas ele não é porque ele não sabe o valor da vida.
Nós aprendemos a mostrar que esse país pode ser governado com dignidade. As pessoas humildes não querem muito. Querem trabalhar, estudar, ter acesso à cultura. Ninguém quer nada de ninguém. Queremos o direito à vida. Nós queremos que a filha de um sem-terra possa frequentar a universidade e ser o que ela quiser.
Acho, Sandra, que você não é rica por causa da terra. É rica por causa da sua dignidade, sua solidariedade, sua causa.
Esse país tem tudo que um país precisa. O que esse país não tinha era vergonha na cara de quem governava. E precisou chegar um cara que não é letrado, mas que conhece a alma de todos vocês.
E valeu a pena acreditar em vocês e vai valer a pena eu dizer ao resto desse país, quando eu encontrar um pessimista.
Vou dizer: vai conhecer o Lulão, para você ver que lá homens e mulheres conseguiram sobreviver. Se Deus permitir, nenhuma criança de vocês vai passar as privações que vocês passaram. Porque elas nasceram para ter uma vida digna.
Estamos vivendo um golpe neste país, centenas de parlamentares decidiram que ela tinha que sair e deram um golpe. Não é a Dilma que está sendo cassada, é o voto de todos os baianos, de todos os brasileiros. Estão querendo criminalizar o PT, o Lula, a Dilma o MST.
A elite brasileira não tem mais que se preocupar comigo. Eu já tô com 70 anos. Eles têm que se preocupar é com os filhos e netos de vocês. Essa molecada que desde muito cedo aprendeu através de vocês que podem ter dignidade. Essa molecada não vai aceitar ser subserviente como nossos pais foram nesse país.
E se for necessário eu volto, e se eu voltar é para ganhar as eleições.
Nós renascemos nos nossos filhos e nos nossos netos.
O povo quer liberdade, dignidade e respeito.
E vocês dos sem-terra são um exemplo pra gente.
Aqui o áudio do discurso completo:
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do site do Lula