Fake news de Bolsonaro arruinaram combate à pandemia, diz cientista

As mentiras sobre a pandemia propagadas por Jair Bolsonaro são uma das principais fontes das fake news que abasteceram o planeta durante a crise sanitária global, aponta a organização Halo, especializada em desmentir notícias falsas sobre a Covid-19. De acordo com o virologista Rômulo Neris, que integra o grupo chancelado pelas Nações Unidas, as mentiras de Bolsonaro sobre vacinas, bem como a propaganda de remédios ineficazes contra a doença, a exemplo da cloroquina, prejudicaram as ações de enfrentamento ao surto. Como resultado, o país amarga um dos maiores números de mortos por Covid-19 do planeta, se aproximando rapidamente da trágica marca de 650 mil vidas perdidas para a doença.

O grupo atua em países como Reino Unido, Canadá, Índia, África do Sul e Austrália. “Identificamos que muitas das fake news que estavam lidando em outros países surgiram no Brasil. Depois do início da vacinação, começamos a ver um processo de unificação das fake news. A gente vê um movimento mais ou menos coordenado de disseminação”, apontou Neris ao jornal Valor. 

“Infelizmente, o presidente Jair Bolsonaro, em vários momentos, não só não atuou em prol de suportar medidas adequadas sobre a pandemia como minimizou esforços para enfrentar o cenário”, declarou. “Vai desde a famosa frase ‘é só uma gripezinha’ a incentivos de aglomerações, ao não uso de máscaras e a terapias ineficazes sem validação e comprovação científica. Gerou uma falsa sensação de confiança em estratégias que não eram adequadas”, criticou.

Ao diário, o virologista também identificou erros e falhas na atuação do Ministério da Saúde, em especial nos protocolos de testagem em massa da população e compra de imunizantes. “O Brasil sempre teve uma taxa de testagem da população muito baixa. Também houve demora na aquisição de vacinas lá atrás”, lembrou.

Fake news mata

Neris manifestou ainda preocupação com o efeito das mentiras bolsonaristas a longo prazo. “Fake news em saúde é um problema sério porque elas matam a curto, médio e longo prazo”, esclareceu ele. “Com os avanços tecnológicos, a gente tem um tráfego de informações muito mais volumoso e mais rápido do que a gente tinha antes. E a disseminação de informação falsa acaba modelando dinâmicas populacionais inteiras durante a pandemia”.

“Uma fake news tem sempre a mesma estrutura”, comentou Neris. “Aparecem com um texto simples, uma mensagem clara, bastante apelativa, geralmente dando ordens. Atinge mais facilmente a população não especializada”, disse. “Nós, cientistas, precisamos transferir o vocabulário técnico para algo mais acessível para a população”, explicou.

Crimes na pandemia

A atuação criminosa de Bolsonaro na pandemia foi foco dos senadores que integraram a CPI da Covid no ano passado. Durante mais de seis meses, os parlamentares se debruçaram sobre os desmandos do gabinete paralelo de Bolsonaro, apontando pelo menos 12 crimes cometidos pelo ocupante do Planalto durante a crise sanitária.

“Bolsonaro segue sendo o maior aliado do coronavírus”, lembrou o ex-presidente Lula, no final do ano passado. “No começo da pandemia impediu o governo do Ceará de fechar fronteiras para se proteger da chegada da doença. Agora não quer exigir vacinação e testes de turistas estrangeiros, como o mundo inteiro tem feito”, criticou Lula.

Relembre os crimes de Bolsonaro na pandemia, apontados pela CPI da Covid.

• 1- Epidemia com resultado de morte;
• 2- Infração de medidas sanitárias preventivas;
• 3- Emprego irregular de verba pública;
• 4- Incitação ao crime;
• 5- Falsificação de documento particular;
• 6- Charlatanismo;
• 7- Prevaricação;
• 8- Crime contra a humanidade: perseguição
• 9- Crime contra a humanidade: atos desumanos
• 10- Crime contra a humanidade: extermínio
• 11- Crime de responsabilidade: violação de direito social
• 12- Crime de responsabilidade: incompatibilidade com a dignidade, honra e decoro do cargo

Da Redação, com Valor