“Fundadora” do feminismo, Simone de Beauvoir segue atual e urgente

Nascida em 9 de janeiro de 1908, escritora e ativista enfrentou o machismo durante toda a vida e, mais do que nunca, ainda inspira luta das mulheres por igualdade

O sonho do advogado Georges Bertrand de Beauvoir, além de manter-se entre os membros da seleta aristocracia francesa do início do século 20, era ter um filho. A história, no entanto, é implacável aos que desdenham do destino: o patriarca não só veio à falência como viu nascer, exatamente às 4h da madrugada do dia 9 de janeiro de 1908, a primeira de suas duas únicas filhas: Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir.

A decepção foi posta de lado quando Georges percebeu que a menina desajustada, atrevida e pouco dada aos padrões de conduta da época “se comportava como um homem”. Longe de serem absorvidas como elogio, as palavras do pai faziam despertar na pequena Simone a rebeldia que a tornaria, pelas próximas décadas, o maior símbolo contemporâneo do feminismo. Em uma de suas frases mais célebres, e já apenas com o Beauvoir na assinatura, a menina abraçou de vez a vida adulta e a causa que levaria até os seus últimos dias: “Ninguém nasce mulher. Torna-se mulher”.

E a mulher que aos 15 renegou o patriarcado, desdenhou de Deus e decidiu ser escritora não parou mais de enfrentar e chocar o mundo – sobretudo dos homens. Logo em sua obra inaugural, o romance erótico e metafísico “A Convidada”(de 1943), Simone mostra a que veio ao criar um alter ego para contar aos leitores como seria seu relacionamento com Jean-Paul Sartre. Recheado de conflitos existenciais, a escritora desnuda a alma humana ao criar personagens repletos de sentimentos ambíguos.

Foi o estopim para uma sucessão ininterrupta de obras que não só emponderavam personagens femininas como ironizavam os intelectuais, o patriarcado, as tradições religiosas. Hoje, sua bibliografia é tão vasta quanto o interesse cada vez maior por sua história de vida – que quase sempre norteou a sua própria escrita.

Polêmica quase que de nascença, Simone de Beauvoir adaptou-se ao transcorrer do tempo e ainda permanece urgente, atual e necessária.  “Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo”, escreveu, já na velhice.

Oficialmente, Simone de Beauvoir morreu em 14 de abril de 1986. Sua obra, no entanto, está mais viva do que nunca.

Três livros essenciais de Simone de Beauvoir: 

O Segundo Sexo

Obra urgente e “fundadora” do feminismo contemporâneo, O Segundo Sexo (lançado em 1948) ainda pauta a agenda do movimento feminista durante os dias atuais. Ousado na estrutura narrativa, que traz um relato enciclopédico que não alivia a condição da mulher num mundo moldado e dominado pelo homem, o livro fez o Vaticano ficar em polvorosa.

Os Mandarins 

Vencedor do Prêmio Goncourt de 1954, espécie de Nobel da Literatura francesa, este livro assinala na carreira da autora seu definitivo engajamento político e literário. Romance existencialista, Os Mandarins descreve a atmosfera febril da França entre os anos de 1944 e 1948. Também ironiza a hipocrisia dos intelectuais num mundo ainda esfacelado pelo pós-guerra, a agitação intelectual, a corrupção moral, os dilemas e dúvidas da esquerda e, sobretudo, chão coberto de ilusões desmoronadas.

Memórias de Uma Moça Bem Comportada

Lançando em 1958, o primeiro volume de sua autobiografia escancara sua criação dentro de uma família burguesa, oriunda do creme de la creme francês no começo do século 20. A rebeldia precoce e a luta diária contra a opressão da Igreja e as pressões da família fomentam a evolução da garota que sonhava desde os 15 anos em ser escritora.

Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT

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