Gleisi Hoffmann: Eleições, alianças e o PT
Tem sido lugar comum criticar o PT, e até odiá-lo neste momento. Recaem sobre o partido todas as mazelas da política brasileira. Seus filiados e dirigentes são taxados de corruptos…
Publicado em
Tem sido lugar comum criticar o PT, e até odiá-lo neste momento. Recaem sobre o partido todas as mazelas da política brasileira. Seus filiados e dirigentes são taxados de corruptos e incompetentes. Parece que, para melhorar o Brasil, o PT tem de ser dizimado, destruído.
É fato que como organização humana o PT falhou e cometeu muitos erros, mas só quem desconhece a história, ou quer esquecê-la, coloca em sua conta a falência da política.
Maria Rita Loureiro, socióloga e professora da área de Administração Pública e Governo da FGV/SP, fez um belo artigo para a revista Carta Maior, falando da deslegitimação recorrente de governos populares na história brasileira.
Com essa campanha sistemática contra o PT, no entender de Maria Rita, “procura-se destruir o único partido político de base popular que assumiu o poder nesse país e que ousou realizar, ainda que de forma muito tímida, políticas de redução de suas seculares desigualdades sociais”.
Quais foram os governos, ao longo de nossa história, que garantiram poder de compra e aumento real do salário mínimo?! Que fizeram políticas para combater a pobreza estrutural do país, possibilitando a primeira geração sem fome no Brasil?! Que apresentaram um programa de habitação popular beneficiando milhões de famílias?! Que construíram tantas universidades públicas, escolas técnicas e creches?! Que fizeram programas de acesso ao ensino superior para os mais pobres?! Que criaram farmácias populares e distribuíram remédios gratuitamente?! Que viabilizaram milhares de médicos para atender a população pobre do Brasil?! Que aumentaram e baratearam o crédito e o acesso aos bens?! Poderíamos citar tantas outras melhorias. E, com certeza, apesar dos erros e desvios, não é o que patrocinou a maior corrupção de nossa história.
Agora, aproximam-se as eleições municipais e muitos analistas de momento determinam que o PT está morto. No Congresso Nacional da Juventude do PT, o presidente Lula afirmou: “dizem que o PT acabou. Vamos fazer uma pequena surpresa pra eles!”.
Lula tem razão! O PT pode estar fraco eleitoralmente neste momento, mas não se acaba com o maior partido de esquerda da América Latina dessa forma. Faremos alianças nessas eleições, mas também disputaremos com candidaturas próprias, para defender nosso legado e nossa versão dos acontecimentos.
Na capital do Paraná é possível ter candidatura própria. O partido vai decidir consultando a militância em um encontro municipal, como sempre faz. Isso não quer dizer que abandonamos o prefeito Gustavo Fruet, a quem ajudamos a eleger e cujo governo temos apoiado.
Mas não posso deixar de registrar que o prefeito e seu partido, o PDT, não demonstraram, até este momento, vontade política de permanecer em aliança. Nenhuma conversa, nenhuma proposição. Respeitamos essa postura, mas não podemos esperar até o último momento para decidir nossa caminhada. Primeiro porque estaríamos deixando de participar ativamente do processo político; segundo, que desrespeitaríamos ao próprio Gustavo retardando uma posição.
A política dá voltas, como a vida. Em 2012 propusemos e articulamos uma aliança com o PDT, fomos pra rua, fizemos campanha. Vamos continuar apoiando a administração da cidade, que é o nosso compromisso. Mas sabemos na política quando somos queridos ou não. Isso não traz mágoas, apenas orienta-nos sobre como vamos continuar o projeto.
Apoiamos Curitiba com recursos federais para creches, para milhares de casas do Minha Casa, Minha Vida, obras de saneamento, contenção de cheias, malha viária do transporte coletivo, recursos para o metrô, além de programas de combate à violência contra a mulher, na área da cultura e do trabalho, emprego e renda. Vamos continuar a fazê-lo.
O processo eleitoral de 2016 é um entre tantos que passam, mas o compromisso com a cidade fica.
(Artigo inicialmente publicado no Blog do Esmael, no dia 23 de novembro de 2015)
Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional