Gleisi: “Jamais devemos esquecer nossos valores. Foram eles que nos trouxeram até aqui e nos deram a confiança do povo”
Presidenta do PT fala sobre a trajetória do partido, perspectivas para o futuro e defesa da democracia, entre outros temas, debatidos no seminário “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”, que começa nesta quinta (5), no CICB
Publicado em
Em conversa exclusiva, a presidenta do PT e deputada federal (PT/PR) Gleisi Hoffmann aborda o momento político do partido, sua trajetória recente e as perspectivas para o futuro, além da importância da liderança de Lula para o país e do papel do PT na defesa da democracia. Ela também discute o impacto das novas tecnologias na política e os desafios estruturais que ainda precisam ser enfrentados pelo partido e pelo país e que serão debatidos no seminário nacional “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”, organizado e coordenado pelo Partido dos Trabalhadores e pela Fundação Perseu Abramo e que começa nesta quinta-feira (5), no CICB, em Brasília.
O PT saiu das eleições elevando o número de eleitores, de prefeitos e vereadores em relação ao último pleito. Que balanço a senhora faz do novo mapa político nacional a partir da disputa municipal?
Mais uma vez, os partidos majoritários no Congresso, do centro à direita, elegeram mais prefeitos e vereadores, valendo-se de suas máquinas nos estados e municípios e do poder que exercem sobre o orçamento por meio de emendas. É uma distorção histórica do sistema político brasileiro, agravada pelo chamado orçamento impositivo, de 2015, e depois pela farra do orçamento secreto e das emendas de relator, no tempo de Bolsonaro. Nesse quadro tão difícil, e tendo de enfrentar em condições desiguais candidatos de partidos que fazem parte da coalizão de governo, temos de valorizar os resultados do PT. Além de eleger 252 prefeitos e prefeitas, 222 vices e 3.118 vereadores e vereadoras, a votação em nomes do PT passou de 6,9 milhões para 8,9 milhões. E derrotamos a extrema direita em disputas diretas, como aconteceu em Fortaleza, ou apoiando aliados, no Rio e Recife, por exemplo, cumprindo o enfrentamento que havíamos definido em nossa tática eleitoral. O quadro indica que devemos reforçar nossa aliança com outros atores do campo democrático, para conter a extrema direita, e ao mesmo tempo fazer, cada vez mais, a disputa política na sociedade em torno do programa de reconstrução e transformação do país, das conquistas sociais e econômicas de nosso governo e dos valores que defendemos: igualdade, solidariedade, soberania nacional e a defesa do estado no combate à pobreza, no desenvolvimento do país e na construção de uma sociedade mais justa.
Como a senhora caracteriza o momento pelo qual passa o PT após 2016?
Nenhum outro partido enfrentou uma operação de cerco político, midiático e judicial tão monstruosa como a que foi armada para tirar o PT do governo e, no limite, riscar o partido da história e da vida do país. A violência no caso do mensalão foi apenas o prenúncio do que viria a acontecer a partir de 2014. Em menos de 3 anos, nosso partido e nossos dirigentes foram criminalizados por falsas acusações, enquanto os verdadeiros bandidos da Lava Jato destruíam a economia do país; a presidenta Dilma Rousseff sofreu o golpe do impeachment sem ter cometido crime algum, e Lula, nosso maior líder, foi ilegalmente preso e proibido de disputar eleições. Só mesmo a história de lutas, as raízes sociais, o legado de nossos governos e a aguerrida militância do PT podem explicar como resistimos ao cerco e como Lula foi capaz de liderar a vitória do povo e da democracia contra a extrema direita em 2022. Lula Livre e Lula Presidente são marcas de um período de resistência, luta e reconstrução, mas seria um equívoco pensar que isso foi superado e voltamos à normalidade política. O Brasil ainda é um país dividido por imensa desigualdade social e, agora, dividido também entre os que praticam a democracia e os que querem sepultá-la para aprofundar a desigualdade e a injustiça. E ninguém pode ter dúvida sobre de que lado o PT está nesses confrontos.
Levando em conta esse cenário acima, como o PT deverá se organizar para a disputa eleitoral de 2026 que envolve a presidência da República e a renovação do Congresso Nacional?
Em primeiro lugar, temos de ter clareza sobre a importância fundamental do presidente Lula na vida política brasileira. É ele quem deve continuar liderando o país e o processo eleitoral, como candidato a mais um mandato, para concluir a reconstrução e avançar no processo de transformação do país, enfrentando o candidato da extrema direita, mesmo que este venha travestido de “conservador democrata” ou “moderado”, o que nenhum bolsonarista é. O PT deve se preparar para novos e difíceis embates nas eleições estaduais e para o Congresso, utilizando as lições que tivemos nestas e em outras eleições, para melhorar nossa organização e comunicação, por exemplo. E precisamos, especialmente, ter clareza na construção de alianças, para barrar avanços da extrema direita e ampliar as bancadas do campo popular e democrático no Congresso Nacional.
Qual o papel do PT na defesa da democracia brasileira?
O PT nasceu para lutar pela democracia, num tempo em que a ditadura prendia, matava, torturava, censurava, proibia o direito de greve e impunha o arrocho salarial. A mesma ditadura e os mesmos torturadores que Jair Bolsonaro, sua quadrilha e seus aliados, militares e civis, querem trazer de volta com seu discurso hipócrita sobre “liberdade”. É essencial lembrar a nossa história, não permitir que seja apagada ou distorcida, e não só as origens, mas a atuação do PT, nossas bancadas e nossos governos em todos os níveis. Defendemos e fortalecemos a democracia desde o orçamento participativo até as políticas de cotas para o ensino e o serviço público. No fortalecimento do salário mínimo, no Bolsa Família, nas políticas públicas de inclusão, distribuição de renda e igualdade de direitos. Ações que dão concretude à ideia de democracia. Neste momento do país, tem sido essencial denunciar e combater as ações da extrema direita nas redes sociais e na mídia, nos grupos fascistas, por todos os meios ao nosso alcance. A campanha pelo arquivamento do projeto de lei da anistia para os golpistas e terroristas do 8 de janeiro é um exemplo: não podemos permitir que a perspectiva de impunidade siga estimulando as ações de grupos e indivíduos antidemocráticos.
Da Redação