Gleisi: para Bolsonaro, proteção; para o PT, perseguição
“Autoridades que se omitem no caso do WhatsApp estão entre as que mais clamaram contra ‘impunidade’. Para perseguir Lula e o PT, rugem como leões”
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A “Folha de S. Paulo” trouxe, neste domingo, novas e contundentes provas sobre o uso criminoso do WhatsApp, que permitiu a Jair Bolsonaro difundir mentiras em escala industrial contra o PT, durante a campanha eleitoral. Já era sabido que empresas foram contratadas no caixa 2 para realizar disparos em massa, comprando cadastros particulares, o que também é ilegal. Sabe-se agora que dezenas de milhares de CPFs de pessoas idosas foram roubados para criar os números de telefone que faziam esses disparos.
É inadmissível que a Justiça Eleitoral e o Ministério Público fiquem passivos diante do escândalo que vai tomando dimensões cada vez maiores. Já tinha sido vergonhoso para o Brasil que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e o subprocurador eleitoral, Humberto Medeiros, tenham recomendado a aprovação das contas de Bolsonaro, apenas com ressalvas, diante da primeira denúncia. E mais grave ainda que o TSE tenha acompanhado a proposta sem que nada tivesse sido investigado.
As autoridades que se omitem no caso do WhatsApp estão entre aqueles que nos últimos anos mais clamaram contra “a impunidade neste país”. E são as mesmas autoridades que não se movem para punir um crime hediondo contra a democracia. Para perseguir Lula e o PT, rugem como leões, mas diante das denúncias contra Bolsonaro miam como gatinhos.
Ao mesmo tempo em que varria para debaixo do tapete a indústria da mentira e do ódio, que influiu decisivamente no resultado eleitoral, a PGR decidiu mover uma ação ilegal e arbitrária, para obrigar o PT a devolver os recursos aplicados na campanha Lula Presidente. Alega que seria “uma campanha natimorta” e que, portanto, não poderia receber nem usar recursos do fundo eleitoral.
Ora, ilegal é ação da PGR, pois atropela o artigo 16 da Lei Eleitoral. Esse artigo diz que as candidaturas “sub judice”, como era o caso de Lula, podem realizar todos os atos de campanha, inclusive participar de debates, o que foi negado a Lula com a conivência do TSE, além de arrecadar, fazer propaganda no rádio e TV entre outros atos. A candidatura de Lula nunca foi “natimorta”, ao contrário: foi a candidatura mais viva e mais forte, até ser cassada numa decisão do TSE que rasgou a lei e desobedeceu determinação da ONU para garantir os direitos políticos de Lula.
O povo brasileiro e a comunidade internacional percebem cada vez mais as contradições deste sistema judicial que persegue Lula e protege seus adversários. A maioria dos corruptos e corruptores condenados na Lava Jato está livre ou em prisão domiciliar, aproveitando as fortunas que roubaram, enquanto Lula paga por um crime que não cometeu. É um preso político deste sistema.
Desde o final das eleições, estes setores lançaram uma enxurrada de operações espetaculosas, denúncias sem provas e ações sem fundamento contra Lula e o PT. Nosso candidato Fernando Haddad, a presidenta Dilma Rousseff, o próprio Lula e outros companheiros de partido foram tornados réus. Isso demonstra que não estão satisfeitos com a prisão de Lula – querem vê-lo apodrecer na cadeia”, como comandou Bolsonaro – e que não lhes basta a vitória eleitoral obtida sabe-se lá a que custo.
O que eles querem mesmo é estrangular e destruir o PT, pois no Brasil de Bolsonaro, que opera pela mão deste sistema judicial partidarizado e arbitrário, não cabem os trabalhadores e não cabe o povo que Lula e nosso partido sempre defendemos. Mas isso mostra também o medo que eles têm de nós, da nossa força política, nossa unidade, nossa capacidade de dialogar com setores mais amplos, nossa capacidade de sobreviver aos mais bárbaros ataques. O PT está vivo e Lula é o maior líder popular do país. Isso eles não toleram.
*Gleisi Hoffmann é senadora (PT-PR) e presidenta nacional do PT.
Publicado originalmente no Blog do Esmael