Governadores pedem antecipação e ampliação de vacinas à ONU

“Resolver o problema do Brasil é resolver o problema do mundo”, disse o governador Wellington Dias, durante coletiva, nesta sexta-feira (16)

Foto: Lucas Dias

Para o governador Wellington Dias, a crise sanitária brasileira é um problema mundial: "Por isso uma ajuda humanitária ao Brasil é tão necessária quanto a preocupação com o clima”

23 governadores e quatro vice-governadores participaram de reunião, nesta sexta-feira (16), com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a antecipação e a ampliação da aquisição de imunizantes contra a Covid-19 ao país. Os gestores também lutam para importar insumos como sedativos, analgésicos, kit intubação e oxigênio aos hospitais. No encontro, os governadores entregaram uma carta com seis pedidos à entidade.

O primeiro deles é a entrega, ainda em abril, de 4 milhões de doses de vacinas do consórcio Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Pedimos à ONU que cumpra o cronograma”, explicou o coordenador do Fórum de Governadores e presidente do Consórcio Nordeste Wellington Dias, em coletiva após a reunião.

Dias, que falou em nome de todos os governadores, esclareceu que um problema na cadeia de fornecedores atrasou a entrega do consórcio que, por contrato, irá fornecer ao Brasil um total de 42 milhões de vacinas.

Os governadores também solicitaram à ONU um diálogo com União Europeia, Índia e China para garantir a prioridade de entrega de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), além da transferência de tecnologia para que o insumo possa ser desenvolvido pela Fiocruz e pelo Instituto Butantan. “No caso da AstraZeneca, já é possível começar os testes de produção do IFA em maio deste ano”, adiantou o governador.

Os gestores tentam ainda obter do governo americano doses da vacina Astrazeneca produzida nos EUA e não utilizada no país. “Pedimos uma flexibilização na legislação que permita uma ajuda humanitária, podendo vender ou emprestar essas vacinas ao Brasil e quem sabe doar aos países mais pobres”, declarou o governador.

Ele revelou que a secretária-adjunta  das Nações Unidas, Amina J. Mohammed, se comprometeu a tratar do assunto com o governo de Joe Biden.

Wellington Dias também abordou a falta de vacinas no país da Coronavac para a segunda dose e disse que os governadores solicitaram à ONU para que interceda, junto à China, um pedido de entrega de IFA ou vacina pronta da Coronavac – são 10 milhões de doses pedidas pelo Butantan – ainda no mês de abril.

Brasil, problema do mundo

Segundo Dias, a crise brasileira é uma ameaça mundial e países produtores de vacinas devem se sensibilizar no sentido de promover uma ajuda humanitária ao Brasil.

“O problema não é só do Brasil. Temos hoje 18 países que fecharam as fronteiras ao país”, afirmou Dias, durante a coletiva. “Mas será que esses países têm segurança de que uma dessas variantes [brasileiras] não chegarão até eles? Acho que não. É um problema do mundo. Por isso uma ajuda humanitária ao Brasil é tão necessária quanto a preocupação com o clima”, disse o governador.

De acordo com Dias, o planeta enfrenta uma Terceira Guerra Mundial. “Se o mundo não cuidar do Brasil, há um risco de, daqui a pouco, ter uma variante para qual nenhuma dessas vacinas funciona. Resolver o problema do Brasil é resolver o problema do mundo”.

Meta de vacinação atrasada

Dias demonstrou preocupação com a meta de vacinação no país, ainda atrasada. A expectativa era que o Brasil tivesse em abril toda a primeira fase da vacinação concluída, cobrindo cerca de 50 milhões de pessoas. “Estamos em torno de 25, 26 milhões de pessoas, estamos distantes do cumprimento dessa meta”, observou.

“Essa meta é importante porque nela são protegidas as pessoas com maior risco, com mais de 60 anos, com comorbidades, indígenas, profissionais de saúde”, explicou. “A vacinação desse público vai resolver a crise hospitalar, as filas. Reduzir internações e óbitos”.

Sputnik V

O governador criticou a demora da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a aprovação da vacina russa Sputnik V, já que os governadores negociaram a compra de 37 milhões de doses. A expectativa era de que o Brasil recebesse 4,4 milhões de doses ainda em abril.

Dias citou o fato de que a vacina russa é certificada por diversas agências reguladoras como a da Rússia e da Argentina. “Precisamos da aprovação o mais rápido possível para a vacina chegar em abril”, ressaltou.

“As 4,4 milhões serão usadas para a primeira dose e vai salvar vidas. Quantas pessoas poderão morrer porque não foram vacinas? É isso que está em jogo, não é um momento de normalidade, a vida deve ser colocada em primeiro lugar”, argumentou o governador.

Falta de coordenação nacional

Wellington Dias lamentou que até hoje o Brasil não tenha uma coordenação nacional para o enfrentamento do surto. Ele citou o absurdo de estados e municípios não participarem do comitê criado por Jair Bolsonaro para gerenciar ações de combate à pandemia.

“Não é possível, numa República Federativa, os estados não fazerem parte de uma coordenação como essa”, criticou. “Por que estamos atrás da OMS, de diálogo com os outros países, indo à Rússia China, Índia, EUA, Reino Unido? Indo atrás de insumos, comprando respiradores?”, questionou. “A falta dessa centralização nos causou muitos problemas”.

Da Redação

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