Governo destrói indústria e festeja empregos sazonais

Lúcia Garcia, coordenadora do Sistema de Pesquisa de Emprego e Desemprego, cobra responsabilidade: “pintar um país das maravilhas não muda a realidade”

Pedro Ventura/Agência Brasília

O governo Temer celebrou com pompa a criação de 34,2 mil novos postos de trabalho — 90% deles no setor agropecuário — registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho no mês de maio.

A realidade, porém, não autoriza otimismo, alerta a coordenadora do Sistema de Pesquisa de Emprego Desemprego (Sistema PED) do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lúcia dos Santos Garcia.

Diante dos mais de 14 milhões de desempregados, 34 mil novos postos de trabalho já seriam um resultado mais do que tímido, mas Lúcia ressalta que esses empregos — ainda que com vínculo formal registrado na Carteira de Trabalho — são principalmente ocupações sazonais, que não vão se manter.

“O esforço do governo Temer de pintar um país das maravilhas não tem o condão de mudar a realidade nem a percepção que os trabalhadores têm dessa realidade, pois eles sentem na pele. A verdade é que a situação é muito grave e é preciso ter a responsabilidade de mostrar isso.”

Os mesmos dados do Caged,de onde o governo recortou as “boas notícias”, mostram que maio foi um mês ruim para o comércio (menos 11.254 postos de trabalho), construção civil (menos 4.021 vagas), indústria extrativa mineral ( menos 510 postos) e serviços industriais de utilidade pública (-387 postos).

O trabalho urbano cresceu apenas em setores como indústria de transformação (que gerou 1,4 mil vagas) e serviços (que abriu quase 2 mil postos).

Ainda segundo o Caged, desde junho de 2016, apenas os meses de fevereiro, abril e maio registraram saldo positivo na geração de empregos, somando, os três meses, 129,7 mil novos postos.

Esses números nem sequer chegam perto de fazer frente aos registrado nos outros nove meses (perda de 554,9 postos de trabalho) — só em dezembro do ano passado, 116,7 mil vagas foram fechadas.

O esforço do governo Temer de pintar um país das maravilhas não tem o condão de mudar a realidade nem a percepção que os trabalhadores têm dessa realidade, pois eles sentem na pele. A verdade é que a situação é muito grave e é preciso ter a responsabilidade de mostrar isso

Segundo Lúcia Garcia, o que o mercado de trabalho brasileiro está experimentando é um “mergulho profundo”, que começou na indústria de extração (petróleo e gás) e na construção pesada, no que ela descreve como “uma paralisação deliberada” desses ramos de atividade em consequência da Operação Lava Jato.

Esse movimento foi especialmente grave por atingir duas áreas com grande capacidade de movimentar a economia, seja pela demanda de outros serviços, seja por seu impacto positivo na massa salarial.

A segunda onda da crise, explica a coordenadora do Sistema PED, veio como um efeito dominó atingindo comércio, serviços e outros segmentos da indústria. “A crise atual é resultado de uma irresponsabilidade.”

Falta de investimento público agrava quadro

Outro fator que intensifica a devastação do mercado de trabalho, aponta Lúcia, é o estrangulamento da administração pública, que estancou investimentos e políticas públicas que poderiam dar fôlego à economia.

Ela ressalta que se o quadro já é grave agora, tenderá a piorar quando forem aplicados os rigores da Emenda Constitucional 95, derivada da famigerada PEC 55, que congelou as despesas públicas pelos próximos 20 anos.

“A imagem que vejo é uma espiral descendente em grande velocidade”, compara a pesquisadora. Lúcia alerta que o rumo definido por Temer e seus aliados não tem qualquer chance de conduzir a uma saída e que quanto mais o País se embrenha no labirinto, mais tempo vai demorar para se recuperar.

“Retomada dos empregos nós só teremos em 2020 — se houver eleições em 2018 e a implantação de uma nova política a partir de 2019”.

Do PT no Senado

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