Gustavo Bronze: Reconstrução do partido e sua militância
O PT acomodou-se no poder, errou-se e muito. A última crise não foi encarada como deveria ter sido e deu-se poder demais a quem não devia
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Na reconstrução da democracia, na década de 1980, o PT era o partido, dentre todos os outros participantes, o mais à esquerda, pois PMDB (aqui vindo da própria estrutura da ditadura mas “pulando do barco quando este estava afundando”) e PSDB também estão nesse processo (foi fundado só em 1988 ou algo assim, de um racha do PMDB).
A ascensão do PT se dá no fim da “era” liberal no Brasil (governo FHC), pois esse período traz ao país enorme desigualdade social, o que fortalece e justifica o discurso de esquerda, mas já em 1984, o PT se abre como oposição, e não só dentro do aparato estatal, mas com o diálogo que já se tinha com as classes dos trabalhadores, operários, professores etc., ou seja, uma oposição extraparlamentar.
O historiador Lincoln Secco, em seu livro “História do PT” nos diz que o partido tem como base duas experiências: “A consciência de que precisa ter um centro comprometido com a construção estratégica do partido e a derrota política e isolamento depois das Diretas Já”. Secco (2011).
A chegada ao poder com Lula traz ao Brasil inúmeros avanços; a desigualdade citada anteriormente é brutalmente desfeita com os programas sociais (tirando o Brasil do mapa da miséria da ONU; avanços na economia como inflação controlada e melhor redistribuição de renda; outro avanço: não houve chacinas como como nos 90, Candelária, Eldorado do Carajás, pois o estado se coloca a favor do direitos humanos.
Mas, internamente falando, o PT acomodou-se no poder, errou-se e muito. A última crise não foi encarada como deveria ter sido e politicamente falando, deu-se poder demais a quem não devia. Aqui, façamos um paralelo: Lula chegou ao poder com uma conciliação com partidos de direita, chegou com uma coligação com o PMDB; a conciliação era inevitável, pois não havia acumulação de forças para governar sozinho. É importante pontuar isso.
Sem o apoio de alguma parte da classe dominante, o PT jamais conseguiria governar e é o PMDB quem nos ajuda nessa conciliação; talvez PMDB escolhido com motivos, pois em teoria sempre se posicionou mais ao centro do que pra uma direita muito mais fascista ou totalmente liberal (isso claro, em seu princípio, agora age junto dos empresários articulando privatizações e ataques aos direitos dos trabalhadores); mas Lula tinha uma articulação política que não permitiria que ele fosse engolido por essa direita, coisa que aconteceu com Dilma, e com isso sofre-se o golpe. Logo, temos parcela de culpa sim nisso. Mas, errou-se internamente, mas nunca com o povo, atacando-o e atacando seus direitos.
O PT pós-golpe quase não sabia como agir, mas, com o tempo, lembramos como é fazer oposição, prática que nenhum partido faz melhor que a gente, e essa oposição será muito necessária no momento atual.
Mas internamente, o PT precisa passar por renovação, não é nem reformulação, é renovação mesmo. Os erros cometidos atingiram a militância do partido e a feriu, pois no poder, algumas ações foram contrárias até aos ideias do partido, e isso tem grande impacto e é um dos fatores da atual crise vivida pelo PT. A renovação tem que ser completa de ideias e de pessoas que coloquem em prática essas ideias.
É importante notar que o PT deve voltar a dialogar com a juventude, os intelectuais progressistas e os movimentos sociais e mais importante ainda: construir uma relação sólida e orgânica com a periferia (Haddad teve mais votos em termos percentuais em Pinheiros e Perdizes do que em Itaquera e Guaianases, o que é um absurdo). Essa crítica não retira de Haddad a condição do melhor do quadro do PT de SP e talvez do Brasil.
Para isso, temos que tornar o partido grande de novo, em um sentido maior que qualquer personagem, pois, hoje o próprio Lula é maior que o PT. A prova disso é que ele é o único nome capaz de colocar o PT na presidência de novo. Para o PT, seria mais saudável uma derrota em 2018, pra deixar cada vez mais claro a necessidade dessa renovação, mas considerando os retrocessos vividos, Lula é a melhor opção para o Brasil, logo, #Lula2018.
Para essa renovação dar certo, são necessários diálogos com os grupos presentes na sociedade, por exemplo, na década de 1980, o diálogo forte era com os sindicatos que deram a grande base do partido. Hoje, além desse grupo, outros são muito presentes e precisam participar da vida política, então, seria quase uma relação de troca, daríamos participação política mais ativa a esses grupos e, junto deles, nos fortaleceríamos, um exemplo de grupo que precisa de mais proximidade é o da juventude/estudantil, que vem se provando muito politizado.
Recuperar a militância já dentro do partido pois é ela quem segura o PT vivo, os nomes que não aparecem na mídia é quem realmente são o PT. Quando falar-se em “base”, não se deve pensar em quem está na Câmara e sim quem está na rua. Sim, quem está lá tem sua importância sim pois são nossos representantes, mas são porque queremos e estão lá por nossa causa e se mantêm lá por causa da militância. Absolutamente ninguém é mais importante no partido do que a militância.
É necessário também se utilizar dos intelectuais do partido para se entender como partido, entender suas ideologias, influências e História. Para corrigir antigos erros, não voltar a cometê-los e se articular de novo com a grande massa.
Pra fechar o texto, quantos às greves gerais: É o mais correto a se fazer, mas da forma que se faz, ainda é pouco. A greve tem que começar e durar até seu recuo. Michel Temer não vai recuar pelo povo, ele recuará por pressão dos empresários, que é pra quem ele governa.
A greve vai prejudicar os empresários que o pressionarão. Não é apenas um protesto de um dia que o fará perceber a insatisfação do povo, mais especificamente as classes mais baixas, com as quais o governo da direita tem total descaso. Os eventos de protestos estarão inseridos na greve, mas a greve em si é muito maior que isso.
Temer não se importa com a popularidade até porque ele sabia que com essas ações não teria a aprovação da população, mas ele sabe também que ninguém pode tirá-lo de lá por meios legais, pois o golpe foi tão bem arquitetado que todas as estruturas e instâncias estão corrompidas e a favor dele (a “tacada” final foi a esquerda perder a maioria das suas prefeituras).
A pressão popular tem que prejudicar a base do governo (empresários), pois é pra isso que serve a greve. Um governo só não cai se sua base for o povo. Por isso, Lula é tão odiado e temido pela direita, pois ele sempre teve o apoio do povo.
Lula é um patrimônio do PT, mas é preciso olhar para frente. A candidatura do Lula deve ser tratada como uma possibilidade, que dependente de análise de conjuntura, estratégia etc.
Por Gustavo Bronze, morador da cidade de Guarulhos (SP), estudante de História na PUC-SP e militante do PT, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.
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