Há 40 anos, greve da Scania tornava-se marco da luta sindical
Em 12 de maio de 1978, metalúrgicos da empresa no ABC cruzavam os braços e Lula começava a despontar como referência popular em todo o país
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Logo nas primeiras horas do dia 12 de maio de 1978, há exatos 40 anos, o clima na fábrica da Scania em São Bernardo do Campo era de tensão e dúvida. Em encontros secretos nos banheiros do chão de fábrica, os metalúrgicos ainda avaliavam as possíveis consequências de uma greve, mobilização popular proibida e criminalizada desde 1964 por meio de uma lei criada pela Ditadura que governava o país.
Sob a sombra de um regime militar que ganhava contornos cada vez mais violentos pelas mãos de Ernesto Geisel, trabalhadores eram desencorajados a levar adiante qualquer reivindicação por direitos e afrontar os patrões seria um recado claro de subversão, fato que justificava o temor que rondava o ABC.
A história, no entanto, é testemunha de que grandes líderes sempre surgem em momentos de turbulência, e a paralização geral foi aprovada pela maioria e anunciada por seus porta-vozes. Entre eles, despontava a imagem de um pernambucano com um notório bigode escuro, timbre rouco e grande desenvoltura para argumentar e contrariar os donos do poder.
Foi a partir daquela data que o então presidente do sindicato dos metalúrgicos, Luiz Inácio da Silva, ao lado de outros guerreiros como Gilson Menezes, passou a tomar a frente nas lutas que se estenderiam pelos próximos anos.
Nas palavras do próprio Lula, em discurso na mesma Scania em 2008, foi “naquele pátio que nós começamos a conquistar a redemocratização do nosso país. Aqui, no dia 12 de maio de 1978, um grupo de trabalhadores resolveu exercitar, depois de muitos anos, porque o regime militar não permitia o direito de greve, uma conquista universal, que é o exercício da greve. Eu estava no sindicato, às 8h, quando recebi o telefonema de que a Scania tinha parado”.
Lula também lembrou do contexto totalmente desfavorável para levar adiante aquela que seria a primeira de muitas greves: “Era um clima de muita efervescência política no país. Havia briga por democracia, por organização partidária, e os trabalhadores começaram, então, a levantar a cabeça”.
Augusto Portugal, que era inspetor de qualidade na empresa na época, corrobora da opinião de Lula. “O Sindicato já tinha uma direção diferenciada. Era um clima de mobilização, aprendido inclusive na luta por essa diretoria, encabeçada pelo Lula, com esse clima todo que existia na sociedade de esgotamento da ditadura, todo mundo de saco cheio”, relembrou Portugal, em entrevista ao site do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
“Cerca de 150 mil trabalhadores pararam as fábricas, os empresários cederam e surgiu um novo ‘bissílabo’ na política brasileira: Lula”, conclui.
Embora tenha durado poucos dias, a greve da Scania desencadeou a primeira onda de paralizações dos metalúrgicos do ABC e os ganhos políticos foram enormes: fortaleceu o movimento sindical e virou espelho para muitas outras categorias Brasil afora.
Henrique Nunes, da Agência PT de Notícias