Homenagem aos 40 anos do MST reafirma luta pela reforma agrária

Dirigentes do movimento, parlamentares e representantes do governo Lula exaltaram a trajetória de luta do MST que, entre outros feitos históricos, conseguiu que mais de 1 milhão de famílias fossem assentadas no país

Thiago Coelho/PT na Câmara

Plenário da Câmara fica lotado em homenagem aos 40 anos do MST

Centenas de pessoas lotaram, nesta quarta-feira (28), o plenário da Câmara dos Deputados, na sessão solene em homenagem aos 40 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Durante aproximadamente duas horas, dirigentes do movimento, parlamentares e representantes do governo Lula exaltaram a história de luta do MST que, entre outros feitos, após muita pressão conseguiu que mais de 1 milhão de famílias fossem assentadas no Brasil e ainda criou uma rede de cooperativas de produção de alimentos com uma delas, inclusive, sendo a maior produtora de arroz orgânico da América Latina.

Atualmente, o MST está organizado em 24 estados do País e organiza sua produção de alimentos saudáveis (sem agrotóxicos) por meio de 1900 associações, 160 cooperativas e 120 agroindústrias. Há mais de 10 anos o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, com produção localizada em assentamentos no Rio Grande do Sul.

Trajetória

Durante a sessão solene, de iniciativa dos deputados petistas oriundos do movimento – Valmir Assunção (BA)João Daniel (SE)Marcon (RS) e a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) – e presidida pela 2ª Secretária da Mesa Diretora da Câmara, deputada Maria do Rosário (RS), parlamentares de partidos de esquerda elogiaram a trajetória do movimento. Após a abertura da reunião com a execução do Hino Nacional ao som de uma viola caipira e de um vídeo institucional contando a história do MST, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira – representando o presidente Lula -, enalteceu os 40 anos de luta do MST.

“Ao revisitar os 40 anos do MST reafirmo a opção do presidente Lula pela realização da reforma agrária em nosso País, que está na Constituição. Lembro que todos os presidentes que tentaram implementá-la sofreram forte oposição. João Goulart sofreu um golpe civil-militar, Dilma Rousseff foi derrubada e o próprio Lula ficou preso por 580 dias injustamente. Hoje, os que quiseram impedir a reforma agrária e destruir o Incra são os mesmos que respondem pelos ataques à democracia”, observou.

Vítimas de violência

Representando a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), o deputado Nilto Tatto (PT-SP), iniciou o seu pronunciamento manifestando o seu respeito pelo movimento e relembrando os militantes do MST que tombaram na luta durante os últimos 40 anos, vítimas da violência promovida pelo latifúndio. O petista ressaltou que, atualmente, com o presidente Lula no poder o movimento tem renovada a sua esperança no avanço da reforma agrária.

“São 40 anos de conquistas, mas não posso deixar de lembrar dos companheiros e companheiras do MST que tombaram na luta. O atual momento é de celebração e, com a volta do presidente Lula e a derrota do fascismo, a centralidade do governo federal é com o enfrentamento à desigualdade e à crise climática, porque não é possível vencer um sem derrotar o outro. O MST é um importante parceiro nessa luta, porque tem uma relação amorosa com a terra, com as pessoas e com a produção de alimentos”, observou.

Já o líder da Bancada do PT na Câmara, Odair Cunha (MG) disse que “produzir alimentos saudáveis e sem veneno envolve também a indispensável luta pela terra”.

MST e reforma agrária

Dois dirigentes da Coordenação Nacional do MST agradeceram a homenagem e destacaram que a luta pela reforma agrária continua até que todas as famílias acampadas tenham terra. A dirigente Maria Divina Lopes disse que “os 40 anos do MST marcam a luta e a resistência pela democratização do acesso à terra no País”.

“Nesses 40 anos lutamos pelo acesso à terra para trabalhar e produzir. Vamos continuar nessa luta porque é necessária. A concentração de terra continua sendo uma das maiores expressões da desigualdade em nosso país”, criticou.

Já o veterano dirigente Gilmar Mauro ressaltou que o MST vai continuar lutando por uma reforma agrária que atenda a todas os brasileiros e brasileiras que desejam ter acesso à terra para viver e produzir.

“Eu e a Divina somos apenas porta-vozes de um movimento que resgata a história de resistência dos povos indígenas, negros, quilombolas e dos camponeses que decidiram tomar conta de sua história ocupando o latifúndio improdutivo desse País. Para os que desejam acabar com o MST digo: Façam a Reforma Agrária neste País com 850 milhões de hectares. Enquanto existir uma família sem-terra e um brasileiro passando fome é nossa obrigação continuar a luta, ocupando o latifúndio improdutivo”, destacou.

Bolsonaristas tumultuam

Durante a reunião, deputados bolsonaristas, de extrema direita, contrários ao MST utilizaram a permissão garantida pelo regimento interno da Câmara para discursarem no evento em nome de seus partidos. Ignorando a praxe do respeito a quem é destinada a homenagem em uma sessão solene, os deputados Ricardo Salles (PL-SP) e Rodolfo Nogueira (PL-MS) atacaram o movimento e a própria reforma agrária.

Durante os pronunciamentos, os bolsonaristas foram vaiados. Dezenas de pessoas se levantaram e ficaram de costas para a tribuna. Salles foi especialmente criticado porque foi o relator da CPI do MST na Câmara, cujo relatório final com diversos ataques infundados ao movimento sequer chegou a ser votado no colegiado. A CPI acabou de forma vexatória para os bolsonaristas, sem a votação do relatório final.

Presidindo a sessão, a deputada Maria do Rosário destacou que nunca havia vivido situação semelhante na Câmara. “Eu nunca vi uma instituição ou entidade ser homenageada pela Câmara em uma sessão solene e ser desrespeitada por integrantes dessa Casa”, lamentou.

O deputado Valmir Assunção lembrou durante seu discurso sua ligação histórica com o MST. Ele lembrou que é assentado da reforma agrária e que foi um dos fundadores do movimento na Bahia. Segundo ele, em quatro mandatos na Câmara também nunca tinha visto tamanha falta de respeito em uma sessão de homenagem.

“Em quatro mandatos eu nunca vi alguém tentar fazer provocação em uma sessão de homenagem. Eles (bolsonaristas) vêm aqui provocar porque sabem que o MST foi um dos responsáveis pela derrota deles na eleição presidencial e são contra a reforma agrária e a ocupação do latifúndio improdutivo para produzir comida para o povo”, disse.

O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), ocupou a tribuna para condenar a tentativa de tumultuar a sessão solene. “Esta é uma sessão de homenagem aprovada pelo plenário desta Casa. Não podem tentar transformar em uma sessão de provocação. O MST tem todo o nosso reconhecimento e os bolsonaristas não podem provocar nesse momento. Nós nunca provocamos a sessão solene de ninguém. Bolsonaristas, respeitem a democracia”, exigiu.

Orgulho de pertencer ao MST

O deputado Marcon criticou os bolsonaristas, mas ressaltou seu orgulho em pertencer ao MST, do qual é assentado no município de Nova Santa Rita (RS). Ele destacou que a história de luta do movimento “teve choro e medo, mas, também teve a alegria de contribuir para assentar mais de 1 milhão de famílias no campo”. “Deve participar da sessão solene quem apoia (o MST), mas agora vejo que a turma que participou do 8 de janeiro e que defendeu passar a boiada vem aqui para criticar”, protestou.

O deputado Paulão (PT-AL) lembrou que esses mesmos bolsonaristas tentaram criminalizar o MST em uma CPI, mas que, derrotados, agora tentaram criar um fato político para aparecer na mídia às custas do movimento. “Participei dessa CPI, que foi a 5ª contra o MST, e que também foi para o lixo da história. Agora, os autores daquela CPI vêm aqui para tentar lacrar em suas redes sociais”, criticou.

Coordenador do Núcleo Agrário do PT, o deputado João Daniel ressaltou que o MST, ao longo de seus 40 anos de história, nunca se assustou com provocações ou intimidações. Ele destacou que a luta do movimento pela reforma agrária deve continuar, apesar de seus opositores.

“Os 40 anos de luta do MST estão embasados na história de homens e mulheres que nunca se renderam ao latifúndio, mas se entregaram à luta pela reforma agrária, pela transformação deste País, e que sempre manifestaram solidariedade a outros povos que lutam por liberdade, a exemplo do que ocorre com o povo palestino. Viva o MST e seus militantes”, destacou.

Também discursaram durante a sessão solene em Homenagem ao MST a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, a ministra interina dos Direitos Humanos e Cidadania, Rita de Oliveira, além de vários parlamentares do PSOL.

Foram convidados para compor a Mesa do evento o embaixador de Cuba no Brasil, Adolfo Curbelo, e o presidente da Conab, Edgar Pretto, filho do ex-deputado e também um dos fundadores do MST no País, Adão Pretto.

Do PT na Câmara

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