Indicação de Mandetta evidencia compromisso com planos de saúde

Investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2, deputado já foi presidente da Unimed e teve campanha eleitoral financiada pela Amil

Nilson Bastian/ Câmara dos Deputados

Luiz Henrique Mandetta

O loteamento do governo de Jair Bolsonaro segue sua agenda. Nesta terça-feira (20), o presidente eleito anunciou o nome do médico e deputado federal pelo Democratas do Mato Grosso do Sul (DEM-MS), Luiz Henrique Mandetta, 54.

Mandetta nasceu em Campo Grande. É formado em medicina, especialista em ortopedia pediátrica. Trabalhou por um ano como médico do Exército, no posto de tenente – serviço militar obrigatório na época. Entrou para a política em 2005, quando assumiu a Secretaria de Saúde da capital sul-mato-grossense no governo de Nelson Trad Filho (MDB). Em 2010, foi eleito deputado federal e reeleito em 2014.

O futuro ministro da saúde é o terceiro do DEM a ocupar o governo de Jair Bolsonaro. Além dele, Onyx Lorenzoni lidera a equipe de transição e será o titular da Casa Civil, e Tereza Cristina será a ministra da Agricultura. Os três completam o grupo de nove nomes já anunciados: o general Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), o tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência).

Para Thiago Henrique, médico de Família e Comunidade e membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP), a indicação de Mandetta evidencia o compromisso do governo de Jair Bolsonaro com as entidades privadas de saúde.

“A outra questão é que o Mandetta também foi presidente da Unimed por muitos anos, além de ter sido financiado pela Amil na última eleição para deputado federal. Então, além da aliança com a categoria médica, ele é também um deputado com fortes vínculos com os planos de saúde privados, ou seja, nós estamos diante de um ministro que vai entrar para tentar desmontar o Sistema Único de Saúde”.

Atividade parlamentar

Em 2013, Mandetta foi um dos mais ferrenhos opositores do programa Mais Médicos, criado pelo governo da então presidenta Dilma Rousseff. Além de afirmar que o projeto se tratava de uma “peça de marketing” da gestão petista, o futuro ministro da saúde disse que o convênio entre o governo brasileiro e a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) era um “navio negreiro do século XXI”.

Após o anúncio do governo cubano de retirar os mais de oito mil médicos do Brasil, Mandetta propôs que o governo usasse um dispositivo da Lei do Serviço Militar para obrigar estudantes recém-formados em Medicina a ocupar o lugar dos cubanos no programa. O futuro ministro trabalhou por um ano como médico do Exército, no posto de tenente – serviço militar obrigatório na época.

Por meio do Twitter, o ex-ministro da saúde Alexandre Padilha, responsável pela criação do Programa Mais Médicos, desejou sorte ao novo ministro e destacou a importância do sistema público de saúde brasileiro. “Desejo boa sorte ao novo ministro da saúde. Que faça um bom trabalho e sempre se lembre da importância da saúde pública brasileira, e que tem gente que não tem dinheiro para pagar por esse serviço. Que a saúde possa ser cada vez mais um direito de todos”, escreveu.

Em 2016, Mandetta votou a favor do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. No mesmo ano, foi favorável à aprovação da Emenda Constitucional do teto dos gastos públicos. Em 2017, votou a favor da Reforma Trabalhista do governo de Michel Temer, posição que, segundo Thiago Henrique, contradiz as críticas das entidades médicas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

“É engraçado porque as entidades médicas sempre falaram que o problema do SUS era o ‘desfinanciamento’. Só que a agora vamos ter um ministro que votou a favor da PEC do teto dos gastos. É um negócio absurdo”.

Reputação

Embora tenha afirmado que não aceitaria compor o governo com pessoas que sejam réus em processos por corrupção, o presidente eleito bancou a indicação de Mandetta, que é investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois na implementação de um sistema de prontuário eletrônico, quando era Secretário de Saúde de Campo Grande, durante a gestão de André Pucinelli (MDB). Jair Bolsonaro afirmou que a denúncia não seria suficiente para impedir a indicação e que somente uma acusação “robusta” o tiraria do ministério.

O futuro ministro comandará a pasta com um dos maiores orçamentos da Esplanada. O Orçamento de 2019 reserva cerca de R$ 128 bilhões para a Saúde.

Por Brasil de Fato

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