Itamaraty cobra explicações do governo Trump por maus-tratos a brasileiros deportados

“O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas”, lamentou o Itamaraty, em nota divulgada neste sábado (25)

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O Itamaraty classificou a viagem de volta dos brasileiros como “degradante”

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) anunciou, neste sábado (25), que vai pedir explicações ao governo dos Estados Unidos a respeito do tratamento desumano dispensado aos brasileiros deportados no dia anterior. Em nota publicada nas redes sociais, o Itamaraty classificou a viagem de volta ao Brasil como “degradante”. Os migrantes desembarcaram em Manaus, na sexta-feira (24), algemados e com os pés acorrentados. O MRE acusa o governo do magnata republicano Donald Trump de violar o acordo de repatriação entre os países.

Na capital do Amazonas, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se com Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal (PF), e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional da Força Aérea Brasileira (FAB). “A reunião subsidiará pedido de explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo”, informou o MRE.

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De acordo com o comunicado da pasta, houve uso “indiscriminado de algemas e correntes”, o que fere acordos anteriores firmados com os EUA. “O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas”, lamenta o documento.

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Um avião contratado pela administração Trump precisou pousar em Manaus, na sexta à noite, por conta de “problemas técnicos”. Ele carregava 88 brasileiros que viviam em situação irregular nos EUA. Depois da aterrissagem, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, informou ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, das condições desumanas em que eles se encontravam. Lewandowski, por sua vez, comunicou ao presidente Lula, que determinou a imediata remoção das algemas e das correntes.

Lula também ordenou à FAB que buscasse os deportados em Manaus e os levasse ao Aeroporto Internacional de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, destino programado inicialmente pelas autoridades estadunidenses.

A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), elogiou as medidas tomadas pelo governo Lula. A parlamentar antevê a intensificação das deportações em massa. “E pensar que esses bolsonaristas festejam Trump, que quer humilhar o nosso povo”, censurou.

“Fez muito bem o presidente Lula em determinar a retirada das algemas e correntes dos pés dos brasileiros deportados dos EUA que chegaram hoje em Manaus. Não eram criminosos, por que as correntes? O voo tinha destino para MG, mas por problemas operacionais parou em Manaus. Presidente Lula também determinou a FAB para fazer o resgate, recusando outro avião americano. Essa é uma situação que vai se intensificar com Trump, que prometeu deportação em massa”, publicou a presidenta do PT, no X.

Condições desumanas

Ao longo de todo o fim de semana, os relatos do percurso degradante até Manaus repercutiram na imprensa e nas redes sociais. Os brasileiros deportados descreveram o calor intenso dentro da aeronave e o desconforto com as algemas e com as correntes. Alguns chegaram a ser agredidos e mostravam imagens dos ferimentos a jornalistas. Todos concordaram que a deportação, promessa de campanha de Trump, se deu de maneira truculenta.

Carlos Vinícius de Jesus disse que gastou US$ 30 mil para entrar nos EUA. Segundo ele, a volta ao Brasil foi recheada de momentos de tensão, pois apenas uma turbina do avião estava funcionando. “Nós que se rebeliou (sic) contra eles, porque eles ia (sic) matar nós, moço”, contou. “Chegamos presos, todos acorrentados”, revoltou-se, antes de agradecer o acolhimento recebido do governo Lula.

O vigilante Jeferson Maia foi enforcado por um agente estadunidense durante o voo. “Puxou minha algema […] eu tava algemado assim, no pé e na barriga, não tinha como eu fazer nada. O braço de segurança ficou sangrando, que puxava minha corrente, puxando, puxando, me apertando”, afirmou.

Lucas Gabriel também reclamou dos maus-tratos que sofreu na deportação. O pedreiro chamou de “irracional” o desprezo do governo dos EUA para com os brasileiros. “Quando chegou aqui, que a Polícia Federal foi pra entrar no voo, eles [os agentes estadunidenses] queria tirar (sic) a algema de todo mundo, pra não pegar que a gente veio algemado.”

Nova Doutrina Monroe

Especialistas veem na deportação em massa prometida por Trump e nas pretensões imperialistas do republicano o regresso à Doutrina Monroe, política estabelecida em 1823 pelo ex-presidente estadunidense James Monroe. À época, os EUA almejavam banir o colonialismo europeu das Américas e submeter o chamado “Novo Mundo” à sua esfera de influência. Um dos corolários dessa doutrina era a Diplomacia do Big Stick (“Grande Porrete”), voltada, fundamentalmente, à defesa dos interesses econômicos de Washington na região.

Assim como Lula, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, teve que lidar, neste fim de semana, com as deportações em massa de Trump, que ameaçou, inclusive, taxar a entrada de produtos provenientes do país latino. Petro reagiu prometendo fazer o mesmo com as exportações estadunidenses. Nas redes sociais, ele demonstrou ao novo governo dos EUA que conhece bem a Doutrina Monroe e pregou a união da América Latina contra o imperialismo.

“Você pode, com sua força econômica e soberba, tentar dar um golpe de Estado como fizeram com Allende. Mas eu morro na minha lei. Resisti à tortura e resisto a você”, rebateu Petro, por meio do X.

No domingo (26), a Casa Branca divulgou comunicado informando que não vai mais sancionar a economia da Colômbia e que os países chegaram a um acordo sobre a deportação.

Da Redação, com MRE, CNN Brasil

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