Júnior Florentino e Cleyton Emanoel: a negligência enquanto projeto político de educação
“É de fundamental importância a defesa da educação superior, que vise combater as desigualdades sociais e promover justiça social”
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Os jovens que nasceram no início dos anos 2000 e neste ano estão tentando entrar na universidade, não tem tanta certeza quanto se tinha antes de 2016, com o advento do golpe e a destituição de direitos. Temos acompanhado nos últimos dias a tormenta aos sonhos da juventude brasileira, que tem sido ceifado, distanciando o sonho da entrada na Universidade, sendo obrigados a passar por situações adversas pra poder efetivar um direito básico, que é o acesso à educação.
Antes tínhamos um governo com o slogan “Pátria Educadora” visando o fortalecimento da educação brasileira, empoderando e construindo alternativas no combate ás desigualdades sociais, mas foi derrubado pelo capital e uma grande onda conservadora, e agora infelizmente se encontra um governo que possui o slogan “Pátria Amada”, que apenas ama os fundamentalistas, conservadores e os que querem uma educação opressora.
Historicamente as universidades se consolidaram enquanto espaços de poder, apenas sendo ocupadas pela elite brasileira. No período colonial quando ainda não se via universidades brasileiras, os filhos dos senhores de engenhos e da alta sociedade que iam estudar em Portugal. Mesmo a partir da criação das primeiras IES, como a Escola de Cirurgia da Bahia, criada em 1808, em seguida as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda, em 1827, constatou-se que estas instituições sempre privilegiavam um perfil único, sendo em sua maioria jovens brancos e ricos. Esse panorama se perpetuou por séculos no Brasil. Havendo apenas uma ruptura a partir das lutas sociais e também reinvindicações das entidades estudantis.
São nos governos do PT que uma mudança nunca vista começa a acontecer no ensino superior. No início da década de 2000 o Brasil possuía 45 universidades federais e 3 milhões de matriculas no ensino superior público, depois 13 anos do PT no governo, tivemos a criação de mais 13 universidades federais e um aumento para 8 milhões de estudantes. Esta expansão não se deu apenas na criação de novas IES, mas também a implantação de políticas afirmativas visando a entrada e permanência dos estudantes nestes espaços de educação superior, podemos citar aqui, a política de cotas, o fortalecimento da política de assistência estudantil, além da regulação ao uso do nome social e banheiros de acordo com a identidade de gênero das pessoas trans. Este conjunto de medidas fez mudar drasticamente o perfil dos egressos das IES, bem como, sobre o papel das IES nos territórios o qual estão inseridas.
Em pesquisa recente feita pelo Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (Fiocruz) e da Casa de Oswaldo Cruz, aponta que 51% dos jovens brasileiros consideram a pesquisa cientifica do brasil atrasada, mas ainda assim possuem interesse em contribuir na área. A produção científica produzida pelos jovens brasileiros foi bastante intensificada nos últimos anos, com ampla participação em olimpíadas, pesquisas desenvolvidas nas universidades, mas que está em ameaça por conta dos cortes na educação superior e na pesquisa cientifica.
Como já dizia Paulo Freire, “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.” e ultimamente o projeto de educação que tem sido apresentado a sociedade é de apenas ataques ao que foi construído nos últimos anos e desconstrução de narrativas. Entretanto, não era de se esperar muito, pois a atual estrutura governamental se articula visando a desarticulação do que durante muitos anos surge a partir de muita luta.
Por fim, é de fundamental importância a defesa da educação superior, que vise combater as desigualdades sociais e promover justiça social, pois o desenvolvimento da sociedade só vira com o acesso à educação para todos, sendo uma ponte de possibilidade para a juventude brasileira.
Júnior Florentino é da Coordenaria Nacional de Educação do PT
Cleyton Emanoel é diretor da UBES