Mães lésbicas: relatos de quem apostou tudo no amor

Três mães lésbicas nos contam como é a maternidade daquelas, por muito tempo, tiveram esse direito negado.

Desde o segundo encontro a cantora Márcia Castro, 42 anos, e Fernanda Santana, 30 anos, já ouviam músicas para a filha delas e sabiam que ela se chamaria Maria Flor. Hoje, 5 anos depois, Maria Flor vem aí, faltam só 3 meses.

O sonho de ser mãe, ao contrário do que se diz, não é algo intrínseco em todas as mulheres, ao mesmo tempo que não é algo isento das mulheres LBTs. Lésbicas e mulheres bissexuais têm lutado por anos pelo seu direito à uma família, com suas companheiras ou sozinhas.

Heliana Hemetério, historiadora especialista nas questões de gênero, raça e sociedade, a maternidade veio como um projeto individual. Seus filhos foram adotados com poucos dias de vida, ela amamentou e criou, Lucas de 27 anos e Joana que faz 26 nessa semana e já tem um filho de 3 anos.

Para o casal de funcionárias públicas Marinalva Santana, 44 anos, e Lúcia Quitéria, 48 anos, não poderia ser diferente. Juntas há quase 10 anos, o casal decidiu adotar uma criança e depois de mais de três anos de espera, a pequena Luma de Santana Costa, 1 ano e três meses, chegou para completar a família. O fato foi histórico no Piauí. Pela primeira vez a justiça piauiense autorizou a adoção de uma criança para um casal de mães.

Durante muito tempo, o direito de ser mãe e a lesbianiedade, não caminhavam juntos, para grande parte da população. Como se a lesbianiedade representasse alguma dificuldade para ter filhos.

“Querer ser mãe é um projeto, é um desejo, ser lésbica ou bi é orientação sexual, ser trans é identidade de gênero, as pessoas confundem porque vivemos em uma sociedade marcada pela heteronormatividade”, ressalta Heliana.

Passar pelo processo da maternidade cada vez mais é entendido como uma escolha e não uma obrigação. Escolha essa que não exige orientação sexual, apenas vontade.

“Desde que anunciamos a nossa maternidade, uma rede de apoio linda se formou. Pessoas se mostrando completamente disponíveis e ajuda de todas as ordens. Pessoas conhecidas, pessoas que nunca vimos. Realmente, é emocionante. Estamos tocadas com esse amor”, conta Márcia Castro.

Para o casal Marinalva e Lúcia, o dia das mães tem sido a cada ano, duplamente mais emocionante.

“É um dia muito especial porque esperamos tanto por isso. Para mim é uma experiência indescritível, eu me sinto muito mais feliz, muito melhor depois que ela chegou. Todo dia a gente tem alegrias renovadas porque vemos o crescimento e a aprendizagem dela e isso deixa a gente encantada”, ressaltou Marinalva.

Para as mulheres lésbicas, que assim como Marinalva e Heliana, sonham com a adoção, elas recomendam que sigam seus sonhos.

“Se pensarmos em uma criança como a Luma, que estava no abrigo desde que nasceu, deixada pela mãe, e aqui ela recebe todo o carinho, toda a proteção e todo o afeto, o mais importante é isso”, finaliza Marinalva.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que determina as regras para o processo de adoção, não faz qualquer menção sobre a orientação sexual do casal que tem interesse em adotar e também não cita que a futura família deve ser composta por pais de gêneros diferentes

Márcia, que aguarda ansiosamente a chegada de Maria Flor, incentiva as lésbicas a não adiarem seu desejo de serem mães.

“Se desejam ter filhos, tenham logo. Não adiem, não esperem o momento ideal. É muita linda e enriquecedora a maternidade lésbica. Você vai entender o real significado da palavra ‘cumplicidade’”, afirma a cantora.

Desde 2016, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determina que o registro de filhos gerados por técnicas de reprodução assistida seja permitido diretamente em Cartório de Registro Civil, sem intervenção da Justiça.

Fonte: Cidade Verde

 

Nádia Garcia, Agência Todas.

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