Marco Aurélio Garcia: Em defesa de Gilberto Carvalho
Quando virá a verdadeira lista dos corruptos e corruptores que a Zelotes se propôs investigar? Os R$21 bilhões bem que ajudariam a diminuir nosso déficit
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Gilberto Carvalho, que por anos honrou o Palácio do Planalto com sua presença na Chefia de Gabinete do Presidente Lula e na Secretaria Geral da Presidência durante o primeiro mandato da Dilma Rousseff, aparece em foto de órgão da grande imprensa encimado pela palavra “suspeito” nas investigações da chamada OPERAÇÃO ZELOTES conduzida pela Polícia Federal.
Suspeita, em realidade, é a notícia.
Lançada há vários meses, a OPERAÇÃO ZELOTES tinha como objetivo investigar funcionários públicos supostamente envolvidos na venda de pareceres no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). À época noticiou-se que as perdas do Estado brasileiro neste escândalo do CARF teriam ascendido a cerca de 21 bilhões de reais. A investigação revelaria, como seria de esperar, a participação de grandes empresas nesta fraude.
Passado bom tempo, a Operação pouco mostrou a respeito, derivando para outro objetivo -importante, sem dúvida – o da suposta compra de medidas fiscais para beneficiar o setor automobilístico.
Nas duas funções governamentais que desempenhou, Gilberto deve ter recebido centenas de empresários, sindicalistas e políticos. Não há nenhuma evidência que ele tivesse prestado qualquer favor indevido a quem quer que seja. No caso das MPs isso pode ser facilmente descoberto – se houver interesse real em chegar à verdade – reconstituindo a trajetória da Medida Provisória desde o Poder Executivo (incluindo as múltiplas manifestações ministeriais) até o Poder Legislativo (relatorias, emendas, etc.) onde se dá sua votação e seu correspondente retorno à Presidência para veto ou sanção.
Ao invés disso, a opção foi investigar Gilberto Carvalho e, como se não bastasse, envolver na investigação sua filha, ex-proprietária de um restaurante, que teve de vender para pagar dívidas. O Coordenador Geral de Pesquisas e Investigações da Receita, Gerson Schann, defendeu que Myriam Carvalho seja investigada, esclarecendo que “há elementos fortes de que houve pagamentos para a MP ser aprovada”. Não diz quais sejam esses elementos.
Mas, nos dias que correm não é necessário entrar nesses “detalhes”. Para quê? Aqueles que, na prática, estão defendendo uma justiça de exceção no Brasil não precisam perder tempo com minúcias.
Quem conhece Gilberto – e não só seus amigos – está indignado com essa tentativa de comprometê-lo em caso de corrupção, mais ainda com a falta de pudor dos que buscam envolver membros de sua família. Sabem, no entanto, que o que está em jogo é outra coisa. Trata-se de atingir o Presidente Lula que, a despeito de toda campanha orquestrada por grande parte da mídia, mantém altos índices de aceitação na sociedade brasileira. Muitos estamos igualmente indignados com aqueles funcionários públicos que se permitem passar “informações” (em realidade, suposições) urbi et orbi sem levar em conta o dano que podem causar à reputação de pessoas que são inocentes até prova em contrário.
Um falso moralismo tem sido a capa ideológica pela qual conservadores buscam apresentar-se como republicanos. Há décadas a história do Brasil nos ensinou a reconhecê-los.
Defender os injustiçados é fundamental, mas não basta. É preciso denunciar os caluniadores.
E, antes que me esqueça, quando virá a verdadeira lista dos corruptos e corruptores que a OPERAÇÃO ZELOTES se propôs investigar? Os 21 bilhões de reais bem que ajudariam a diminuir nosso déficit.
(Artigo inicialmente publicado no site ‘Carta Maior’, no dia 29 de outubro de 2015)
Marco Aurélio Garcia é assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais