Mello: “Taxa de juros está no campo contracionista, puxando a economia para baixo”
Em entrevista ao Jornal PT Brasil, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda defende continuidade dos cortes na Selic: “Há bastante espaço para o BC reduzir a taxa de juros para um patamar neutro”
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Apesar dos recuos da taxa de juros nos últimos meses, a política monetária do Banco Central segue em ritmo contracionista, atuando como uma espécie de âncora para a atividade econômica. A avaliação é do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello. Em entrevista ao Jornal PT Brasil, nesta quinta-feira (28), o secretário defendeu que a autarquia chefiada pelo bolsonarista Roberto Campos Neto siga reduzindo a Selic até patamares de neutralidade, abrindo ao país caminho para maiores oportunidades de crescimento econômico.
“Estou convencido de que há todas as condições para o nosso Banco Central seguir reduzindo os juros nas próximas reuniões e trazer a taxa para um patamar mais próximo da realidade internacional e do que nós chamamos de taxa de juros neutra, que é aquela que não gera retração na economia”, avaliou o economista, na conversa com a apresentadora Amanda Guerra.
“Hoje a taxa de juros está acima da neutra, o que significa que ela está no campo contracionista, ainda está puxando a economia para baixo, ainda está segurando o crescimento econômico”, ressaltou. Mello lembrou que a taxa de juros brasileira, se comparada às de outros países, continua extremamente elevada.
O economista discorreu sobre os dados positivos da macroeconomia brasileira, elencando o aumento do emprego e da renda e o controle da inflação como sinalizadores de um quadro de estabilidade da atividade.
“Nós temos um cenário bastante positivo do ponto de vista da inflação”, apontou. “No ano passado, o mercado financeiro iniciou o ano esperando uma inflação próxima de 6% e nós fechamos o ano com 4,6%, muito abaixo do esperado”, enfatizou o economista.
“Esse ano, o mercado iniciou com uma projeção próxima de 4% e hoje há várias casas e bancos revendo isso para algo mais próximo de 3,5%. O próprio Banco Central tem essa estimativa e nós, na Fazenda, também”, assinalou. “É uma inflação inferior à do ano passado”.
Queda do preço dos alimentos
Mello destacou que a inflação deverá ceder ainda mais, puxada pelo grupo dos alimentos. “No final do ano, devido a problemas climáticos, tivemos uma pequena aceleração em alguns produtos. Mas agora que as safras já estão sendo colhidas, o preço desses produtos, como arroz e feijão, já começou a cair para o produtor e vai chegar também na forma de redução de preço ao consumidor”, observou o economista.
O secretário da Fazenda negou que o aumento da renda e do emprego sejam fatores de preocupação para o controle da inflação, como deu a entender o Comitê de Política Monetária (Copom), na ata divulgada na terça-feira (26). Ao conrário. “O cenário inflacionário brasileiro está bastante controlado, mesmo com um cenário de crescimento do mercado de trabalho forte, o que é uma coisa muito positiva”, resumiu.
“Nós temos crescimento forte, mercado de trabalho forte, as pessoas tendo mais emprego e renda e, ao mesmo tempo, a inflação caindo. Ou seja, o ganho de renda dessas pessoas está ainda mais forte pela queda da inflação”.
Revisão do PIB de 2024
Guilherme Mello citou os surpreendentes números do mercado de trabalho divulgados pelo Caged, com a criação de novas vagas formais em janeiro e fevereiro (474.610), número muito acima do esperado. “São bons resultados, que nos deixam muito otimistas, que mostram que a economia brasileira segue forte. Teremos um primeiro trimestre com crescimento bastante positivo”, disse.
Na entrevista, o secretário admitiu que, diante do cenário de aumento do emprego, o Ministério da Fazenda poderá rever para cima as projeções de crescimento do PIB em 2024.
“Temos um cenário de um crescimento robusto e sustentável no ano de 2024, nossa projeção [de crescimento] é de 2,2% mas, com esses novos dados que têm saído e nos surpreendendo positivamente, é possível que daqui a dois meses nós revisemos esse dados e coloquemos um horizonte de crescimento ainda mais robusto do que isso”, acrescentou Mello.
Crescimento mais equilibrado e sustentável
“Mas, mais importante do que o número final, é a composição”, insistiu o secretário. “Digamos que o Brasil cresça 2,2% como a gente está prevendo. Alguém pode falar, “mas é menor do que os 2,9% do ano passado”. Sim, mas esses 2,9% foram muito concentrados no setor agropecuário. Já esses 2,2% terão uma participação muito maior da indústria, dos serviços, do investimento, pensando na ótica da demanda”, refletiu o economista.
“O investimento tende a voltar a crescer esse ano. Isso mostra um crescimento mais equilibrado e sustentável”, completou. “Mais do que isso: esses setores são os que geram mais e melhores empregos. Então, para o trabalhador, um crescimento, mesmo que numericamente um pouco menor que o do ano passado, mas mais concentrado nesses setores, significa mais emprego, mais renda e mais oportunidades”, concluiu.
Da Redação