Micaela Costa: Reflexão do 6º Congresso

O 6º Congresso Nacional do PT deixou a impressão positiva de um partido coeso em relação as bandeiras caras ao momento. Diretas Já, a urgente mobilização da sociedade e dos setores progressistas contra as reformas e a denúncia permanente do caráter golpista, antipopular e ilegítimo do grupo que usurpou o poder central do país, foram alguns dos aspectos comuns das intervenções realizadas. Também foi consenso a busca da unidade da esquerda para o percurso de lutas que trilhamos hoje e trilharemos no futuro próximo. Porém, faltou clareza sobre o alcance das alianças que nos permitiremos fazer, da frente política almejada por nós para a disputa eleitoral.

Na contramão dos exemplos exitosos da esquerda mundo afora, o PT também não apontou para um esforço prático na direção do desenvolvimento de propostas concretas e de fácil entendimento, por parte do cidadão, que dê sentido e conteúdo a candidatura de Lula em 2018, recolocando, com nitidez ideológica a esperança, o sonho e a utopia nos corações da nossa gente e porque não dizer, de todo o povo oprimido da américa latina.

Nesse sentido, a reconciliação do partido com o sentimento das ruas e dos movimentos sociais, incorporando ao seu projeto de poder a atualidade das suas reivindicações, é a tarefa primordial. Para tal, o partido precisa reformar-se. Já!

A necessária transparência da aplicação dos recursos partidários (a simples observância do que exige o estatuto nesse quesito já seria um avanço), passando pelo investimento verdadeiro na militância jovem e o fortalecimento qualitativo e real da presença das mulheres no debate partidário, se implementado, caracterizaria um começo animador.

Os dados de crescimento da presença dos brasileiros no ambiente da Internet torna urgente um empenho especial para prepararmo-nos para a luta política com eficiência e eficácia no território virtual. Para tanto, a criação do setorial de Ativismo Digital no PT é uma providência imediata para enfrentarmos de maneira permanente e organizada as batalhas cotidianas contra o poderoso exército mercenário (cada dia mais tecnologicamente sofisticado) das forças conservadoras no ambiente das redes sociais e da web.

Por último, a capilaridade da organização do PT está bastante comprometida em praticamente todas as cidades do país. É preciso reconstruí-la. O esvaziamento das instâncias de base é um fato. O não acompanhamento político dos diretórios do interior por parte das direções regionais e o número relevante de desfiliações de candidatos potenciais que migraram para legendas livres do ataque midiático ao PT somou-se a campanha difamatória implacável da grande mídia contra nosso partido. O resultado foi o decréscimo vertiginoso do número de vereadores do partido em escala nacional. O trabalho de reconstrução do organismo partidário não é tarefa de uma ou outra secretaria. É tarefa transversal em essência. Somente um esforço coletivo de todas as direções regionais sob a batuta vigilante do Diretório Nacional será capaz de recompor a capilaridade perdida.

Precisamos ainda de uma maior conexão dos nossos dirigentes com o debate real existente na sociedade. Pois nossa forma de escolha de direção, com pouco debate político, faz com que o militante escolha seus representantes pautados em relações outras que não a maior similaridade de ideias. É preciso que nosso discurso seja reflexo de uma prática constante na luta social.

Um PT renovado precisará emergir. Um militante petista reformado pelos ideais da esquerda precisará surgir. Sem abandonarmos nossa experiência, mas sempre preocupados em incorporarmos o novo. Lula já!

Micaela Costa, chefe de gabinete da vereadora Luciana Novaes (PT-RJ), para a Tribuna de Debates do PT

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