Mídia garante invisibilidade à sonegação de bilhões de reais
Apesar dos valores, da gravidade dos crimes cometidos, as CPIs do HSBC e do Carf são pouco ou quase nada noticiadas
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Acontecem no Senado, simultaneamente, duas CPIs cujas similaridades vão além dos crimes de sonegação, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e os grandes montantes envolvidos. Cerca de R$ 20 bilhões cada uma. Ambas são beneficiadas pela falta de atenção por parte da imprensa.
Uma é a CPI do HSBC, que investiga 6,4 mil contas do banco no exterior de cerca de oito mil brasileiros, com valores supostamente não declarados à Receita Federal. A outra é a do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) investiga um suposto esquema de venda de sentenças favoráveis a empresas em dívida com a Receita Federal.
Apesar dos valores superiores aos descobertos pela Operação Lava Jato, cerca de R$ 5 bilhões, da gravidade dos crimes cometidos e do montante de fortunas brasileiras e de diversos profissionais de opinião da imprensa brasileira, elas são pouco ou quase nada noticiadas.
Para o presidente da CPI do HSBC, senador Paulo Rocha (PT-PA), como não há políticos do Partido dos Trabalhadores envolvidos, não há interesse da imprensa em noticiar.
“Na Lava Jato estão direcionando tudo pra cima do PT, para o partido que está no poder. E no HSBC, como eles não podem transferir isso porque não tem ninguém do PT envolvido, não interessa”, declara o senador.
De acordo com o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), sonegação, desde o início, é o crime das grandes empresas e dos profissionais sofisticados em roubo de dinheiro público. Para ele, a imprensa cala porque tanto ela quanto os seus grandes anunciantes estão envolvidos nas bilionárias sonegações.
“Então há um silêncio ensurdecedor, que é um misto de vergonha e cumplicidade, que explica essa conduta da mídia brasileira diante da Zelotes e do esquema do HSBC”, explica o deputado.
Para o professor de jornalismo e pesquisador no mestrado da Universidade Católica de Brasília (UCB), Luiz Carlos Iasbeck, um dos motivos para a imprensa não ter elegido essa pauta como prioritária é devido a proteção mútua entre as instituições envolvidas.
“O que eu penso que está acontecendo, é que tanto o HSBC quanto o Carf são pessoas que se protegem muito bem”, observa o professor.
De acordo com Iasbeck, a função dessas assessorias de imprensa é justamente fazer com que o interesse particular defendido por elas pareça que coincide com o interesse público, para esse tipo de assunto não pautar a grande mídia e não aparecer para o grande público.
“E isso deve estar sendo feito pelas assessorias. Ou seja, está sendo feito por um trabalho estratégico político e de comunicação”, explica o professor.
Para Iasbeck, ainda que as questões do HSBC e do Carf envolvam 10 vezes mais valores em dinheiro de corrupção, ou de sonegação fiscal, não têm envolvidas tantas pessoas públicas como tem a Lava Jato. De acordo com o professor, o grande público está alienado sobre o assunto e as questões que o envolvem.
“A questão político-partidária hoje está muito forte. Desde as últimas eleições se abriu uma trincheira de guerra entre o partido vencedor e o perdedor. A questão não parece óbvia para o grande público, que teria que ser explicado para entender e se interessar pelo assunto”, avalia o pesquisador.
Iasbeck lembra que os envolvidos na sonegação são os grandes anunciantes da mídia. “São eles que pagam a mídia e podem pagar por fora de mil maneiras corruptas, mas também pagam oficialmente, porque são anunciantes”, afirma.
De acordo com ele, são pessoas que estão no centro da questão econômica da imprensa, mas não será omitido por muito mais tempo. “São anunciantes de peso, mas acredito que isso esteja fervilhando nos bastidores e logo logo vai explodir”, reforça Iasbeck.
Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias