Miguel Ângelo e Zé de Souza: O antipetismo e o brilho resistente da estrela
“As pessoas mais pobres e mais humildes deste país saberão, de uma vez por todas, qual é o lado daqueles que lutam em defesa dos seus interesses”
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“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”, disse certa vez Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do regime nazista de Adolf Hitler. À época, que ficou marcada na história pelas mais violentas e bárbaras atrocidades cometidas contra a humanidade, várias eram as mentiras, tornadas verdades pela repetição constante e uníssona, que serviram de sustentação ao ideário nazista na Alemanha. Uma delas ficou amplamente conhecida como a principal âncora da perseguição e do extermínio de mais de 6 milhões de judeus:
“O judeu é o demônio plástico da decomposição. Onde ele encontra sujeira e decadência, emerge e começa o seu trabalho de açougueiro entre as nações. Oculta-se atrás de uma máscara e apresenta-se como um amigo para as suas vítimas, e antes que o conheçam já quebra os seus pescoços.” (Die verfluchten Hakenkreuzler. Etwas zum Nachdenken. Munich: Verlag Frz. Eher, 1932.) Veja-se que, lamentavelmente, apenas algumas décadas foram suficientes para que um evento político de proporções catastróficas ressurgisse suavizado a muitos que atualmente ostentam símbolos e posições nazifascistas.
O PT, desde o seu surgimento enquanto instrumento de luta da classe trabalhadora brasileira, é alvo das mais contrafeitas e descaradas mentiras. Já disseram tanta coisa sobre o partido e suas principais lideranças que fica difícil recordar quais foram, e ainda são, as mais bizarras. No início da década de 80, quando ainda não representávamos nenhuma ameaça real aos “donos do poder”, diziam que éramos financiados pela União Soviética, que implantaríamos o comunismo no Brasil, que num eventual governo petista os ricos teriam de doar suas riquezas aos pobres, que acabaríamos com as Igrejas, com as novelas, com o carnaval, com o futebol e tudo o mais. O PT foi pintado como o derradeiro bicho papão da política nacional e acintosamente enquadrado sob a égide de sentenças odiosas que insuflaram medo na população, especialmente naquela parcela mais humilde e simples.
Adiante, quando Lula chegou ao segundo turno das eleições em 1989 e quase venceu aquele pleito, ou seja, quando os “donos do poder” sentiram cheiro de ameaça no PT, vieram as mais estapafúrdias difamações contra o partido e sua principal liderança.
Diziam que o Lula, e alguns acreditam nessa baboseira até hoje, tinha decepado seu dedo apenas para aposentar-se, que tinha abandonado a esposa e rejeitado a filha mediante a interposta realização de um aborto, que era analfabeto, que fecharia os bancos e roubaria todo o dinheiro do povo, que queria pintar a bandeira do Brasil de vermelho e etc.
No final, as mentiras, de tanto repetidas, seguindo a máxima do chefe nazista Goebblels, pegaram e perdemos uma disputa repleta de fraudes e trapaças, tais como a repetição no Jornal Nacional de uma edição manipulada do último debate do segundo turno na Rede Globo.
De lá pra cá, muita água passou por debaixo da ponte e tantas outras mentiras foram adicionadas ao repertório do antipetismo, reforçando-o insistente e diuturnamente no imaginário e no coração do povo brasileiro. Podemos dizer que, ao longo dos últimos 39 anos, suportamos um verdadeiro massacre midiático com base numa narrativa dantesca contra o PT, difundida pelos grandes meios de comunicação e, mais recentemente, descarregada nas redes sociais por meio da ação de oportunistas bem pagos e robores bem programados. As mentiras agora, aliás, recebem o sugestivo nome de “Fake News”.
De tanto falarem, repetirem, twitarem, curtirem e compartilharem pelo WhatsApp, as mentiras acabam pegando e tornando-se realmente verdades. É impressionante, mas é isso mesmo. O nazista tinha razão! Até as pessoas de boa fé que simpatizavam com o partido, outros que eram filiados e militantes, outrora dirigentes ativos, não suportaram e caíram num abismo de falsas e levianas crenças engendradas pela disseminação do ódio ao PT. Alguns, de tão convencidos e influenciados pelo antipetismo, passaram a reproduzir as mesmas mentiras das quais eram alvos. Como já dizia a canção dos Engenheiros do Hawai, “o fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada”. A essência do fascismo é a mentira. Outra não é a essência do antipetismo.
Em 2002, depois de 32 anos de construção partidária no país inteiro, resistindo aos mais severos e violentos ataques, o povo brasileiro, que não aguentava mais de tanto sofrimento, elege Lula, um operário petista, como presidente. A esperança venceu o medo que, por sua vez, estava sedimentado em mentiras. Sim, mentiras e mais mentiras. É disso que se trata! De nosso lado, governamos o país de uma maneira séria, decente, transparente e responsável.
Consertamos o Brasil e o colocamos nos trilhos do desenvolvimento e do crescimento. Enfrentamos de frente a corrupção, que é o velho câncer nacional desde os idos da colonização, passando pelo império, alastrando-se pela República Velha, Era Vargas, Ditadura Militar e chegando à Nova República. Geramos mais de 20 milhões de empregos formais. Combatemos a fome e a miséria. Valorizamos o salário mínimo. Reduzimos a desigualdade social. Ampliamos as oportunidades aos mais jovens e aos mais pobres. Distribuímos renda. Aumentamos a capacidade de consumo das pessoas. Tiramos mais de 40 milhões da masmorra de uma vida sem perspectivas. Ensinamos ao povo brasileiro que é possível sonhar e realizar seus sonhos, fortalecendo a autoestima e a confiança no futuro.
Durante mais de uma década no comando da nação, as mentiras aumentaram e foram ainda mais ardilosamente elaboradas e propagadas. Os principais veículos da grande mídia impingiram uma concertação espúria com amplos setores do judiciário e membros ciosos da elite política e econômica nacional em torno de um único propósito: destruir de uma vez por todas o PT. Muitos dos nossos principais dirigentes foram transformados em bandidos da noite para o dia. O PT, de repente, converteu-se de partido em organização criminosa. Não perceberam que atacando o PT feriam também o combalido povo brasileiro e o Estado Democrático de Direito alicerçado na Constituição de 1988.
O problema é que as mentiras de tanto repetidas sagraram-se como verdades absolutas para muitas pessoas. Dilma fora deposta da presidência por meio de um golpe fundado em mentiras absurdas, como a lorota da Pedalada Fiscal. Lula está preso e sua condenação é baseada numa série de mentiras, resultado de uma armação sem precedentes. A sentença condenatória assinada pelo senhor Moro é descaradamente mentirosa, não há provas, nem tampouco correspondência entre as acusações e a realidade, ou seja, entre a tese acusatória e o mundo dos fatos.
Trata-se de uma prisão injusta, inconstitucional e profundamente arbitrária, entremeada numa aberração jurídica burlesca e risível, entretanto, um fato, mas um fato político e não jurídico, cuja essência constitui-se de um sem número de mentiras repetidas muitas, muitas, muitas, muitas vezes.
Os adversários do petismo, que na verdade são os inimigos senis do Brasil e do povo brasileiro, aqueles que querem entregar as riquezas nacionais “de mão beijada” para as grandes potências estrangeiras, diminuindo o papel do Estado na vida dos mais pobres e o papel do país no cenário global, atacam o partido pelos acertos dos nossos governos e não pelos supostos erros que nos são atribuídos. Sim! É importante frisar: somos atacados e perseguidos porque nossos governos deram certo e mudaram a vida das pessoas e não porque deram errado. É óbvio! Não existe outro motivo. Essa é a premissa fundamental da nossa contra narrativa.
Aqueles que de tempos em tempos, impulsionados pelo ódio expelido de suas próprias mentiras, apostam no fim do PT, sempre perdem. Enganam-se perdidos na própria trama de mentiras que criam. Erraram em 1989, 1994, 1998, 2002, 2005, 2006, 2010, 2012, 2014, 2016, 2018 e continuam errando, pois se esquecem de que o PT é composto de milhões de mulheres e homens, jovens, negros, favelados, trabalhadores, trabalhadoras, do campo e da cidade, sem terra, sem teto, sem emprego, os espoliados, os desvalidos, as lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, os povos indígenas, os povos tradicionais, ribeirinhos, os atingidos por barragens, os artistas desta terra.
O petismo é feito da resistência de um povo brasileiro que aprendeu a sonhar e a lutar pela sua liberdade e pelos seus direitos, atacando-o e criminalizando-o, na verdade, ataca-se e criminaliza-se não apenas um partido, mas um monte de gente historicamente oprimida, culturalmente massacrada e socialmente excluída.
O momento é de fortalecermos o PT de dentro para fora e de fora para dentro. Nessa quadra da história, é necessário muita unidade interna para reposicionarmos o PT na sociedade, desmontando, vírgula por vírgula, cada mentira inventada contra nós. É hora de bombardearmos as “Fake News” desmascarando os verdadeiros adversários do Brasil. Se ainda não o fizemos de maneira firme, decisiva e convincente, chegou a hora de fazê-lo.
Nesse sentido, o Processo Congressual pelo qual passaremos este ano exige diálogo e unidade. Unidade em torno do combate às mentiras; unidade em torno da libertação do presidente Lula; unidade em torno de uma plataforma de resistência ao conservadorismo neofacista emergente no Brasil e no mundo; unidade em oposição ao governo federal e ao governo do estado de Minas Gerais. Unidade, que propomos especialmente ao PT de Contagem, em torno de uma candidatura própria para retomarmos a prefeitura em 2020.
Em Contagem nossa estrela brilha ainda mais forte. Trata-se da maior cidade operária de Minas Gerais, berço das lutas dos trabalhadores contra a exploração do capital e a repressão da ditadura militar. É de onde devemos partir para reconstruirmos o caminho do partido: das nossas origens. Governamos com Marília durante oito anos e a população já sente saudade da nossa estrela. Da mesma forma que muito em breve sentirão saudade dos governos Lula e Dilma.
As pessoas mais pobres e mais humildes deste país saberão, de uma vez por todas, qual é o lado daqueles que lutam em defesa dos seus interesses. É hora, portanto, de entrelaçarmos as nossas mãos, unirmos nossas forças em torno do reposicionamento estratégico do PT em Contagem e seguirmos a nossa estrela rumo à superação do atraso e à conquista da prefeitura nas próximas eleições locais.
Miguel Ângelo é advogado e mestrando em Políticas Públicas, foi Secretário Estadual e Secretário Nacional Adjunto da Juventude do PT e Subsecretário de Políticas Públicas de Juventude no Governo Pimentel.
Zé de Souza é liderança do PT em Contagem, foi Secretário Municipal de Direitos e Cidadania e Vereador na cidade e presidente do partido em momentos decisivos, como nas duas eleições vitoriosas da prefeita Marília Campos (2004-2008).
ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores