Movimentos ocupam praças de São Paulo para se contrapor ao golpe
Movimentos sociais se instalam no centro de SP e no bairro de Pinheiros para marcar posição contra o impeachment de Dilma Rousseff
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Um fluxo constante de pessoas se alterna diariamente entre as barracas montadas na praça do Patriarca, em São Paulo. Desde o dia 4 de abril, diversos movimentos sociais se uniram para coordenar o acampamento contra o golpe no ponto central da cidade. A ideia é marcar posição constante, noite e dia, contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), cuja votação está marcada para o domingo (17).
Cada dia, um movimento social diferente fica responsável pelo acampamento. Entre eles, o Movimento de Moradia do Centro (MMC), a Frente de Luta por Moradia (FLM), a Juventude do PT, a Unificação das Lutas por Cortiço, o Movimento de Moradia para Todos (MMPT) e o Movimento Sem Terra de Luta (MSTL).
Cada grupo fica responsável pelo acampamento durante um dia e uma noite, de forma que o acampamento nunca fique vazio. A estimativa é de que, por dia, cerca de 200 pessoas passem pelo local. O movimento responsável também providencia as refeições, com alimentos doados por apoiadores da ocupação. A opinião corrente entre os ocupantes é de que o governo Dilma e de Luiz Inácio Lula da Silva possibilitaram ganhos reais para o movimento de moradia e demais movimentos sociais, e que o governo pós-golpe representaria um retrocesso.
“A gente não concorda com o que está acontecendo no país. Estão tentando dar um golpe”, afirma Juciara Barros, da FLM. “Vamos ficar aqui até essa palhaçada do impeachment acabar. Se não acabar, a gente não tem dia, não tem hora para sair daqui”, afirmou ela.
Segundo Barros, o movimento já foi incomodado por Policiais Militares a favor do impeachment e que questionaram a ocupação.
Para Maria Guedes, da Cecasul, movimento de moradias ligado à FLM e com atuação nos bairros Cidade Ademar e Vila Missionária, o governo pós-golpe representa um retrocesso para os movimentos sociais e para a luta por moradia. “A moradia é a coisa que a presidenta mais ajudou. Nós sabemos que se ela sair, a próxima pessoa não vai ser tão lutadora quanto ela”, afirmou.
“O governo do Lula e Dilma representaram a mudança para a população mais carente”, afirmou o assistente-social Adélio, presente na ocupação. Paraguaio, ele conta que desde que chegou no Brasil atua na área social nas periferias de São Paulo e pode observar a mudança possibilitada pelo PT para a população mais carente, na saúde e educação. “A possibilidade da gente perder tudo com outro governo é muito grande, queremos a manutenção desse governo”, disse ele.
Além da ocupação constante, o movimento organiza encontros culturais diariamente, a partir das 18h. Na terça-feira (12), um telão montado na praça do Patriarca exibia curta-metragens de temática social para uma plateia atenta. Logo depois, comunicadores e blogueiros organizaram um debate sobre a comunicação contra o golpe, que está sendo fortalecida em contraponto à narrativa da grande mídia.
A Frente Brasil Popular, que agrega diversos movimentos de esquerda, está preparando um esquema de comunicação para o dia da votação do impeachment. A organização planeja um telão na praça do Patriarca no domingo. Além disso, jornalistas de todo o Brasil estão indo para Brasília para ajudar na cobertura do esquema.
Largo da Batata
No Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, outra ocupação demarca posição contra o golpe. A #OcupeADemocracia é organizada pelos coletivos A Rua e Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST).
Desde domingo, o movimento promove uma programação cultural variada que alterna música, debates e atos políticos. Nesta quarta-feira (13), Leonardo Sakamoto, Guilherme Boulos, Anelis Assumpção, Juca Kfouri e Letícia Sabatella participam de debate na ocupação. Na quinta (14), o conjunto Bixiga 70 realiza show gratuito. No domingo, a ocupação se junta aos demais movimentos na praça do Anhangabaú em grande ato contra o golpe no dia da votação.
“Nossa ideia foi pegar essa energia de mobilização contra o golpe – porque, na nossa opinião, esse pedido de impeachment que está tramitando no Congresso é um golpe – e resolvemos vir aqui para o Largo da Batata para chamar mais a atenção e fazer uma mobilização mais permanente até conseguirmos barrar o golpe, no domingo”, disse Josué Medeiros, do coletivo A Rua. “No sábado (16), vamos encerrar aqui nossas atividades para, no domingo, podemos nos juntar lá [no Anhangabaú] com a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo.”
Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias, com informações da Agência Brasil