Mulheres trans pedem representatividade e visibilidade no meio artístico
Atrizes se reuniram para discutir censura da peça “O Evangelho, segundo Jesus, Rainha do céu” e debater representatividade trans
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As vésperas do Dia Nacional da Visibilidade Trans (29), artistas dessa comunidade clamam que seus trabalhos sejam vistos e oportunidades lhes sejam dadas. Na terça-feira (15), a atriz Sophia William e a multiartista Aurora Jamelo, ambas integrantes trans do grupo D’improvizo Gang, participaram de uma reunião em Pernambuco para debater o caso de censura sofrido pela peça “O Evangelho, segundo Jesus, Rainha do céu”, protagonizada pela atriz trans Renata Carvalho, segundo noticiou o Jornal do Commercio.
“O corpo trans é censurado antes mesmo de chegar ao palco”, afirmou Sophia durante o debate. Ela explicou que o caminho pela representatividade trans em meios artísticos é longo, por isso a importância de ouvir quem historicamente é oprimido no Brasil, país que mais mata transexuais e travestis no mundo.
Elas explicam que a licença poética utilizada por atores para interpretar personagens trans não é aplicada para todos, por isso a consideram excludente e danosa.
“A licença poética não é dada para os corpos que estão à margem. Não me chamam, por exemplo, para interpretar uma mulher cis. Na maioria das vezes, quando o papel é de uma mulher trans, colocam um homem cis ou gay e isso é muito ardiloso porque reforça uma ideia de ‘masculinidade’ relacionada ao corpo trans. No manifesto de Renata ela propõe que parem de nos interpretar por 30 anos, deixando para nós a função de falar sobre nós. Imagina quando coisa não pode mudar se fizermos isso?”, afirmou Sophia
O manifesto citado por Sophia é o “Representatividade Trans já – Diga não ao trans fake”, escrito pela atriz Renata Carvalho e que pede o fim da prática de atores cisgêneros interpretando papéis de transexuais e travestis.
“Estamos buscando visibilidade, representatividade, oportunidade e emprego. Precisamos que olhem de verdade para as questões de nossa população. Estamos sendo mortas diariamente das formas mais cruéis (…) Somos censuradas, proibidas, expulsas e banidas de vários meios sociais. Somos invisibilizadas tanto em vida, quanto na morte. Precisamos mudar essa realidade. Precisamos ser vistas, enxergadas e reconhecidas”, diz um trecho do manifesto.
Apesar disso, as atrizes explicam que o cenário está mais aberto, com um grande número de artistas questionando a estigmatização dos corpos e que o número de pessoas trans trabalhando com arte no estado de Pernambuco está crescendo.
“Temos uma inquietação cada vez maior de contar nossas histórias, de nós mesmas falarmos sobre nossas experiências. Por isso, estamos escrevendo dramaturgia, nos movimentando para transformar essa realidade”, finalizou Aurora.
O Ministério Público ficou de prestar esclarecimentos sobre o caso de censura.
Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT com informações do Jornal do Commercio